quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Remate na Gaveta - Casamento Perfeito

Amantes do futebol, 2014 assinala o 60º aniversário da UEFA.
É transversal a pouca aceitação dos portugueses a determinados dirigentes que, reconhecendo-nos como um povo com muita raça e competência, têm medo que lhes tiremos o protagonismo. É também transversal a opinião de que a indústria do futebol é um negócio que gera milhões de interesses e milhões de euros, o que muitas vezes deturpa a verdadeira “hierarquia” dos clubes e das seleções.


No entanto, e apesar destas condicionantes, considero que o casamento da UEFA com os adeptos portugueses tem corrido bem:
  • A Champions League é a maior montra de futebol dos clubes a nível mundial, a competição que todos os jogadores querem participar (tendo bastante peso na hora do jogador escolher o clube certo para jogar), que todos os adeptos querem ver. Para além disso é vital para os cofres dos clubes portugueses, indispensável para acabarem o ano com as contas no verde.
  • A Liga Europa/Taça UEFA tem sido um palco muito bem aproveitado pelas equipas portuguesas, que têm espalhado a marca “clube português” como uma marca de prestígio, basta recordar aquilo que FC Porto, Benfica, Sporting, Sp. Braga e Boavista fizeram nos últimos 11 anos!
  • O EURO é a segunda maior competição mundial de futebol e a passagem por Portugal foi marcante para todos os portugueses, não tenho dúvidas disso.
Podemos assim dizer que, apesar dos altos e baixos normais em qualquer relação, este é um casamento feliz! E para comemorar as bodas de diamante, a UEFA selecionou aqueles que considera ser os 60 melhores golos marcados na história das competições da UEFA, pedindo aos adeptos que escolhessem os 10 melhores de sempre! Podem fazê-lo AQUI.

De imediato se abriu a gaveta “Futebol” na letra E: “Euro 2004”!

Tantas e tão boas recordações desse ano: as riscas vermelho-amarelo-verde nas maçãs do rosto, o sorriso nos lábios, os cânticos de apoio na ponta da língua, o cachecol ao pescoço, a bandeira à janela, a seleção no coração! As multidões abriam caminho para o autocarro da nossa seleção, os cavalos seguiam-no lado a lado, os barcos dos pescadores trajavam as pontes portuguesas, os cartazes de apoio colados em tudo o que era sítio… impossível não ficar arrepiado com a força do nosso povo e a adoração àquela equipa de 2004, impossível não chorar de emoção. E o ritual repetia-se em todos os jogos da seleção nacional. Este sim, era um casamento perfeito!



Estávamos em 24.06.2014 e os quartos-de-final punham frente a frente Portugal e Inglaterra! O Estádio da Luz, que rebentava pelas costuras, seria o palco daquele que é para mim um dos melhores golos de sempre, pela espetacularidade do golo, pela emoção que se vivia no momento, por tudo aquilo que o jogo significou para a nossa seleção e para todos os portugueses!

De mãos dadas ao som d’ “A Portuguesa” estavam os 11 magníficos: Ricardo, Miguel, Jorge Andrade, Ricardo Carvalho e Nuno Valente, Costinha, Maniche e Deco, Figo, Ronaldo e Nuno Gomes. Do outro lado, James, Gary Neville, John Terry, Sol Campbell e Ashley Cole, Paul Scholes, Gerrard e Lampard, Rooney, Beckham e Owen.

Entrámos praticamente a perder mas os adeptos nunca deixaram de acreditar na sua seleção. O tempo passava a correr e o golo tardava em aparecer, precisávamos de qualquer coisa que mudasse o rumo do jogo. Foi então que o comandante Felipão chegou-se à frente ao lançar Simão, Postiga e Rui Costa: em cheio! Aos 83m, Simão cruzou para a área e Postiga empatou o jogo, obrigando os ingleses a sentirem o inferno da Luz por mais meia hora. Era o início da reviravolta!


Eis que chegámos ao minuto 110 da partida. Com os ingleses também à procura do golo da vitória, Portugal dá início a um contra-ataque que seria fatal. Rui Costa recebe a bola de Deco à entrada do meio-campo inglês e depois de a conduzir por uns bons 40 metros, dispara em direção à baliza de James, que nada pôde fazer, a não ser acompanhar a trajetória com os olhos! Uma autêntica bomba, que fez levantar todos os portugueses, que os fez gritar até perderem a voz, que os fez chorar de tanta raiva que estava acumulada: foi o descarregar de um sem número de emoções, foi um golo enorme, um GOLO PERFEITO!




Todos nós sabemos que a história não acabou aqui, que os ingleses ainda empatariam a partida e que as mãos “nuas” e o pé de Ricardo, abençoados pela toalha do “King”, nos guiariam às meias-finais!

Foi também por todas estas incidências que o golo do nosso Maestro me tenha causado tanto impacto, ao ponto de o considerar dos melhores golos de sempre!

É verdade que, dias depois, os gregos nos estragaram a lua-de-mel, mas esse “pormenor” em nada beliscou a relação que tinha sido criada entre a seleção nacional de 2004 e os seus adeptos, indestrutível, inabalável, a transbordar de confiança, de orgulho, de paixão, de amor. Foi um casamento perfeito!

Obrigado Rui Costa, obrigado Portugal: uma vez amados, para sempre recordados!

A memória do João


Sem comentários :

Enviar um comentário