quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Remate na Gaveta - Duplo V

Esta semana, a nossa gaveta “Futebol” indicou-nos a letra V.
V de Vitória, V de Vítor Baía.
Perfeita sintonia.


Tudo começou a 11.09.1988, tinha o miúdo 18 anos, quando foi lançado na equipa principal do FC Porto, aproveitando a lesão de Jósef Mlynarczyk (Mly) e o castigo de Zé Beto. No balneário, calçou as luvas que o seu amigo e ídolo Mly lhe tinha dado e ouviu Quinito dizer “Confio em ti… vai lá para dentro, não tenhas medo de dar frangos e desfruta”. Subiu ao relvado e cumpriu, tranquilo, sereno! Estava a cumprir um sonho, o de vestir a camisola do clube do seu coração, que vivia ainda na ressaca das vitórias europeias e mundiais de 1987.

O talento que tinha era evidente e saltou à vista não lhe terem dado bilhete para Riade, onde a seleção nacional de sub20 viria a sagrar-se campeã mundial, em Março de 1989. Na altura falou-se que estaria lesionado, ele que defendeu as redes nacionais durante a fase de qualificação, mas a verdade é que foi o seu FC Porto que o impediu de representar a seleção, sabiam os responsáveis portistas que estava ali o futuro guarda-redes da equipa principal. Na época seguinte viria a ganhar o primeiro título da sua carreira ao serviço do FC Porto, um campeonato nacional, numa época em que foi titular absoluto da equipa azul e branca. 19 anos! E não precisou de esperar muito pela estreia na seleção principal portuguesa, que aconteceu em 19.12.1990, num particular sobre os EUA (1:0).

Era o guarda-redes da moda, aquele para quem todos os miúdos olhavam como o exemplo a seguir: talentoso, dedicado, humilde. Em 1992 viria mesmo a bater um record que ainda hoje se mantém, esteve 1192 minutos consecutivos sem sofrer qualquer golo, mais de 13 jogos!

A cobiça dos outros clubes era cada vez maior e em 1996 o Barcelona de Bobby Robson apostou forte na sua contratação, oferecendo 1,3 milhões de contos e batendo o recorde da maior transferência de sempre de um guarda-redes. As ilusões eram grandes, o campeonato espanhol tinha outra visibilidade, o Barcelona era enorme! Viveu grandes momentos no seu primeiro ano em Espanha. Partilhou o balneário com jogadores de classe mundial como Laurent Blanc, Luis Enrique, Stoichkov, Ronaldo, Fernando Couto e Luís Figo! Um dos guarda-redes da equipa nesse ano era Julen Lopetegui, esse mesmo, atual treinador do FC Porto. Mas depois vieram as lesões e um treinador com ideias fixas, o intransigente Van Gaal, que sempre preferiu os “seus” holandeses, neste caso Ruud Hesp.

Foram 2 anos difíceis. Cansado de não ter oportunidades, tinha propostas de outros clubes europeus (como o AC Milan) mas decidiu regressar a casa, pois precisava de retomar os níveis de confiança, de se sentir acarinhado. E não podia ter chegado em melhor altura, pois ajudou o seu FC Porto a comemorar o penta campeonato, estávamos em 1999 e a data foi de tal forma especial que Baía decidiu colocar nas costas o número… 99.


O próprio Vítor Baía assumiu mesmo que a decisão de voltar para Portugal foi uma das melhores decisões da sua carreira. E acreditamos. Apesar de ter passado por um longo período de paragem devido a lesão em 2001, onde esteve toda uma época sem jogar, regressou em grande e, com Mourinho, venceu a Taça UEFA de Sevilha’03 e a Liga dos Campeões de Gelsenkirchen’04. Para ele, o título de Sevilha foi mesmo o mais emotivo de toda a sua carreira, fruto de 15 anos em que o FC Porto esteve longe dos títulos europeus. Foi o concretizar de um sonho de menino! A UEFA não ficou indiferente às suas prestações e distingui-o mesmo como o melhor guarda-redes a atuar na Europa, em 2004.






Foram anos dourados a nível clubístico, mas foram também anos angustiantes na seleção nacional, uma vez que deixou de ser convocado por Scolari, falhando mesmo o EURO 2004, sem que lhe fosse dada qualquer justificação. Merecia mais respeito, foram 80 as internacionalizações AA, esteve na baliza portuguesa nos Europeus de 1996 e 2000 e no Mundial de 2002, sempre dignificando a camisola de Portugal, de todos nós.

Em 2006, já com 36 anos e apesar de ainda ter todas as capacidades para jogar mais uns anos, percebeu que era o momento de passar o testemunho na baliza portista, dando a Helton todas as condições para se afirmar no Dragão: sem pressão e com o total apoio daquele que foi um dos melhores jogadores portugueses de sempre!

Terminou a carreira em Junho de 2007, depois de garantir o 34º título da carreira, tornando-se no jogador com mais títulos no Mundo (atualmente esse record já foi batido por Ryan Giggs, com 36 títulos) e num dos 9 futebolistas a conquistar as três provas mais importantes a nível de clubes: Taça das Taças (pelo Barcelona), Taça UEFA e Liga dos Campeões (ambos pelo FC Porto)!

Uma história de sucesso do mítico 99! Vítor Baía e vitória, sempre lado a lado!

As exibições, os títulos, a humildade, o empenho, a superação, a dedicação e a paixão que tinha pela sua profissão perpetuaram o seu nome no tempo!


Vítor Baía: uma vez amado, para sempre recordado!

A memória do João


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