sexta-feira, 3 de abril de 2015

Remate na Gaveta - À terceira foi de... bicicleta!

Sim, o futebol é um jogo de equipa. Sem um coletivo forte não há milagres, por muito talentosos que sejam os jogadores em termos individuais. Todos sabemos que isso é verdade mas, hoje, peço-vos um favor, esqueçam tudo isto e vejam o que um só jogador conseguiu fazer com a camisola do Barcelona. Não, não falamos de Messi…


Palco: Camp Nou
Competição: Liga Espanhola, 2000/01, 38ª jornada, 17.06.2001
Jogo: FC Barcelona 3:2 Valência CF

Mas vamos por partes.

Pré-jogo

Esta era a última jornada da temporada 2000/01 do campeonato espanhol. O Real Madrid já tinha garantido o título duas jornadas antes, aguentando e reforçando a vantagem que trazia em relação ao Deportivo. A luta pelos lugares de acesso às competições europeias estava ao rubro, com FC Barcelona e Valência CF a disputarem o quarto lugar (estrondoso terceiro lugar do Mallorca). E que melhor jogo marcado para a última jornada, em Camp Nou, com a equipa da casa obrigada a ganhar para recuperar os 3 pontos de atraso para a formação valenciana.

As Equipas

Em Barcelona já não morava Louis Van Gaal, que tinha entregado a Serra Ferrer (seu coordenador técnico na época transata) a braçadeira de treinador principal. O espanhol aguentou até Abril’01, altura em que não conseguiu contrariar aos maus resultados. Carles Rexach, seu substituto, ficou com 7 jornadas para tentar recuperar os 4 pontos de atraso para o tal quarto lugar, que ainda dava acesso à prova milionária. E conseguiu recuperar um ponto, adiando para a derradeira partida a decisão final.

Para este jogo o técnico culé fez alinhar o seguinte onze: Dutruel, Puyol, Sergi, Frank de Boer, Guardiola, Cocu, Gabri, Rivaldo, Simão, Overmars e Kluivert.

Do outro lado, Héctor Cúper escolheu Canizares, Pellegrino, Ayala, Angloma, Fábio Aurélio, Angulo, Kily Gonzalez, Baraja, Pablo Aimar, Albelda e John Carew.

O Jogo

A partida começou da melhor forma para a equipa da casa, que marcou na primeira ocasião de que dispôs. O livre era em zona frontal, a uns bons 30 metros da baliza, mas Rivaldo achou que era perto o suficiente para atirar sem qualquer chance de defesa para Canizares, com a bola a bater ainda no poste antes de se anichar junto às redes! Aos 3 minutos, Rivaldo fazia levantar o Camp Nou pela primeira vez! Era cedo demais, mas Rivaldo já deixava a sua marca no jogo…



À passagem do minuto 25 Ruben Baraja empatou a partida e voltou a gelar o ambiente em Barcelona, que teimosamente assombrava a equipa nesta época. Tudo parecia muito murcho quando o quarto árbitro decidiu levantar a placa de compensação, dando indicação de que havia apenas um minuto mais para se jogar na primeira parte. Ninguém parecia querer nada com a bola, até que esta chegou aos pés de Rivaldo. O brasileiro, praticamente na mesma zona onde já tinha feito estragos no início da partida, decidiu trocar os olhos e escavacar os rins ao rival Kily Gonzalez e desferir um pontapé sensacional e cheio de efeito que só parou no fundo da baliza de Canizares! Um golão, mais um, de Rivaldo! Os adeptos blaugrana voltavam a acreditar na vitória…

Rivaldo corria, passava, transportava a bola, empurrava a equipa, mas os colegas de equipa não o acompanhavam e, pior do que isso, iam estragando tudo o que de bom já tínhamos visto de Rivaldo no jogo: no primeiro minuto da segunda parte Ruben Baraja (mais uma vez) empatou a partida e repartia o protagonismo da partida com o craque brasileiro. Voltávamos à estaca zero.

O Golo

O jogo caminhava para os minutos finais e o empate subsistia, beneficiando a equipa valenciana. Até que chegámos ao minuto 43, o minuto mais belo desta grande partida de futebol, que coincidiu com o hat-trick de Rivaldo (e o 23º golo no campeonato)! Há imagens que valem mesmo mais do que mil palavras:


Um jogo memorável para Rivaldo! Foram três golos de enormíssima qualidade, o último dos quais próprio de alguém que tinha, efetivamente, uma pedalada acima da média. Conseguiria o FC Barcelona sair deste jogo com uma vitória sem Rivaldo? Sim, possivelmente. Mas o camisola 10 tinha o que mais nenhum elemento desta equipa tinha: um misto de técnica, inteligência, raça, força, eficácia e… magia nos pés! Levar a equipa às costas durante toda uma partida (e temporada), abrir novamente o livro perto do final e sacar esta bicicleta de fora de área não está ao alcance de todos, apenas dos predestinados. E Rivaldo era-o!

Obrigado por este jogo e por estes golos, Rivaldo!

Uma vez amado, para sempre recordado!

A memória do João


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