Sim,
o futebol é um jogo de equipa. Sem um coletivo forte não há milagres, por muito
talentosos que sejam os jogadores em termos individuais. Todos sabemos que isso
é verdade mas, hoje, peço-vos um favor, esqueçam tudo isto e vejam o que um só
jogador conseguiu fazer com a camisola do Barcelona. Não, não falamos de Messi…
Palco: Camp Nou
Competição:
Liga Espanhola, 2000/01, 38ª jornada, 17.06.2001
Jogo:
FC Barcelona 3:2 Valência CF
Mas
vamos por partes.
Pré-jogo
Esta
era a última jornada da temporada 2000/01 do campeonato espanhol. O Real Madrid
já tinha garantido o título duas jornadas antes, aguentando e reforçando a
vantagem que trazia em relação ao Deportivo. A luta pelos lugares de acesso às
competições europeias estava ao rubro, com FC Barcelona e Valência CF a
disputarem o quarto lugar (estrondoso terceiro lugar do Mallorca). E que melhor
jogo marcado para a última jornada, em Camp Nou, com a equipa da casa obrigada
a ganhar para recuperar os 3 pontos de atraso para a formação valenciana.
As
Equipas
Em
Barcelona já não morava Louis Van Gaal, que tinha entregado a Serra Ferrer (seu
coordenador técnico na época transata) a braçadeira de treinador principal. O
espanhol aguentou até Abril’01, altura em que não conseguiu contrariar aos maus
resultados. Carles Rexach, seu substituto, ficou com 7 jornadas para tentar
recuperar os 4 pontos de atraso para o tal quarto lugar, que ainda dava acesso
à prova milionária. E conseguiu recuperar um ponto, adiando para a derradeira
partida a decisão final.
Para
este jogo o técnico culé fez alinhar o seguinte onze: Dutruel, Puyol, Sergi,
Frank de Boer, Guardiola, Cocu, Gabri, Rivaldo, Simão, Overmars e Kluivert.
Do
outro lado, Héctor Cúper escolheu Canizares, Pellegrino, Ayala, Angloma, Fábio
Aurélio, Angulo, Kily Gonzalez, Baraja, Pablo Aimar, Albelda e John Carew.
O
Jogo
A
partida começou da melhor forma para a equipa da casa, que marcou na primeira
ocasião de que dispôs. O livre era em zona frontal, a uns bons 30 metros da
baliza, mas Rivaldo achou que era perto o suficiente para atirar sem qualquer
chance de defesa para Canizares, com a bola a bater ainda no poste antes de se
anichar junto às redes! Aos 3 minutos, Rivaldo fazia levantar o Camp Nou pela
primeira vez! Era cedo demais, mas Rivaldo já deixava a sua marca no jogo…
À
passagem do minuto 25 Ruben Baraja empatou a partida e voltou a gelar o
ambiente em Barcelona, que teimosamente assombrava a equipa nesta época. Tudo
parecia muito murcho quando o quarto árbitro decidiu levantar a placa de
compensação, dando indicação de que havia apenas um minuto mais para se jogar
na primeira parte. Ninguém parecia querer nada com a bola, até que esta chegou
aos pés de Rivaldo. O brasileiro, praticamente na mesma zona onde já tinha
feito estragos no início da partida, decidiu trocar os olhos e escavacar os
rins ao rival Kily Gonzalez e desferir um pontapé sensacional e cheio de efeito
que só parou no fundo da baliza de Canizares! Um golão, mais um, de Rivaldo! Os
adeptos blaugrana voltavam a acreditar na vitória…
Rivaldo
corria, passava, transportava a bola, empurrava a equipa, mas os colegas de
equipa não o acompanhavam e, pior do que isso, iam estragando tudo o que de bom
já tínhamos visto de Rivaldo no jogo: no primeiro minuto da segunda parte Ruben
Baraja (mais uma vez) empatou a partida e repartia o protagonismo da partida
com o craque brasileiro. Voltávamos à estaca zero.
O
Golo
O
jogo caminhava para os minutos finais e o empate subsistia, beneficiando a equipa
valenciana. Até que chegámos ao minuto 43, o minuto mais belo desta grande
partida de futebol, que coincidiu com o hat-trick de Rivaldo (e o 23º golo no campeonato)! Há imagens que valem mesmo mais do que mil palavras:
Um
jogo memorável para Rivaldo! Foram três golos de enormíssima qualidade, o
último dos quais próprio de alguém que tinha, efetivamente, uma pedalada acima
da média. Conseguiria o FC Barcelona sair deste jogo com uma vitória sem
Rivaldo? Sim, possivelmente. Mas o camisola 10 tinha o que mais nenhum elemento
desta equipa tinha: um misto de técnica, inteligência, raça, força, eficácia e…
magia nos pés! Levar a equipa às costas durante toda uma partida (e temporada),
abrir novamente o livro perto do final e sacar esta bicicleta de fora de área não
está ao alcance de todos, apenas dos predestinados. E Rivaldo era-o!
Obrigado
por este jogo e por estes golos, Rivaldo!
Uma
vez amado, para sempre recordado!
A
memória do João
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