Esta
semana recuperamos aquela que foi a carreira de um dos melhores extremos-direitos
portugueses a alinhar no futebol português nas décadas de 90 e 00. Um jogador
de drible curto, desconcertante, com uma qualidade técnica acima da média e que
marcou uma das modas no futebol português da altura: as meias descidas! Pois
claro, só podíamos estar a falar de Nuno Capucho!
Nuno
Fernando Gonçalves da Rocha nasceu em 1971 na cidade de Barcelos. Cresceu numa
casa onde o azul-e-branco predominava, era o elemento mais novo de uma família
100% portista. Apesar de ser o menos fanático dos irmãos, o calcanhar de
Madjer, as arrancadas de Futre e o controlo de bola de Frasco, que culminaram
no título europeu do FC Porto em Viena’87, deixaram marcas na sua forma de
jogar: eram os seus ídolos!
Capucho
deu os primeiros passos no Gil Vicente. Na altura nunca pensava poder vir a ser
jogador profissional, jogava por prazer, sem qualquer pretensão futura, era
apenas um sonho que considerava pouco provável de realizar. No entanto, na
parte final da sua formação, já com 17 anos, percebeu que poderia ir mais
longe. Dotado de uma envergadura física que o distinguia dos restantes miúdos
da sua idade, sempre despertou a atenção de outros clubes de maior nomeada e o
seu estilo de jogo justificou a sua chamada aos escalões mais jovens da Seleção Nacional.
Aos
19 anos conseguiu a sua estreia pelo Gil Vicente na 1ª Divisão, na temporada de
1990/91. Nessa mesma temporada participou em 20 jogos, dado francamente
positivo para o jovem português, que ia aproveitando as oportunidades que lhes
eram dadas. Foi nessa mesma altura que Capucho mereceu a chamada à Seleção
Nacional para participar no Campeonato do Mundo de Juniores, disputado em
Portugal em 1991. Foi nessa mesma equipa, orientada por Carlos Queirós, que o
gilista conquistou o seu primeiro título coletivo (2 anos depois do ouro de
Riade). Não era titular indiscutível dessa seleção (Figo é único) mas deu
sempre um grande tributo à turma portuguesa.
A
temporada seguinte, a segunda com a camisola do Gil Vicente, seria a da sua
afirmação. António Oliveira foi o seu treinador nessa temporada de 91/92 e foi
um dos principais responsáveis pela exteriorização das suas capacidades
técnicas. O campeão do Mundo de Sub20 tinha efetivamente muita magia e classe
nos pés e a sua preponderância no jogo da equipa nessa temporada não deixaram
ninguém indiferente.
Foi,
por isso, sem surpresa que Capucho recebeu e aceitou o convite para viajar para
Alvalade. No Sporting CP a política (de Sousa Cintra) passava por juntar os
grandes talentos dessa geração de ouro de Queirós, onde já moravam Peixe, Figo,
Paulo Torres, Paulo Sousa, Nélson, entre outros. Capucho ia encontrar um bom
ambiente, familiar, mas um concorrente de peso. Apesar de ser considerado um
dos futebolistas mais promissores da altura, Figo já era Figo! Foi aqui que
conheceu Sir Bobby Robson, talvez o treinador que mais o marcou e o inspirou,
que lhe mostrou a alegria de jogar futebol, o prazer e o gozo que é poder fazer
aquilo que mais gostamos e ainda sermos recompensados por isso. Apesar de não
ser titular, a alegria e a paixão pelo jogo eram evidentes e o resultado foi a
participação em 27 partidas nessa temporada.
Apesar
das perspetivas serem boas, os resultados desportivos do Sporting CP não foram
os esperados e o consecutivo 3º lugar nas temporadas de 93/94 e 94/95 (já com
Carlos Queirós no comando da equipa) originou uma limpeza no balneário. Capucho
não estava a ser muito utilizado e a contratação do duo Pedro Barbosa e Pedro
Martins ao Vitória SC propiciou a sua viagem para Guimarães, servindo de moeda
de troca. Foi com alguma surpresa que o Sporting CP permitiu a saída de um
jogador de 24 anos que era uma das grandes esperanças do futebol português.
Depois
de 3 temporadas não muito produtivas em Lisboa, Capucho seguiu o seu caminho.
Em Guimarães conseguiu apurar a equipa para as competições europeias nas duas
temporadas em que vestiu a camisola vimaranense. Mais solto, sem tantas missões
do ponto de vista defensivo, foi sempre um dos jogadores mais utilizados e
preponderantes do plantel e os seus 8 golos na primeira temporada foram
importantes para a equipa, 2 dos quais contra o Sporting CP (contribuindo para
uma vitória e um empate frente à sua ex-equipa). Foi nesta altura que António
Oliveira (Selecionador de Portugal) convocou o barcelense pela primeira vez,
onde fez a sua estreia num amigável frente à Alemanha. Integrou inclusive a
lista dos 30 pré-selecionados para o Euro’96, em Inglaterra, mas acabou por não
ser chamado. Todavia, representou a Seleção Olímpica nesse mesmo ano
(Atalanta), onde foi titular em todos os jogos por Portugal até às
meias-finais, precisamente no jogo em que a equipa caiu aos pés da Argentina,
nas meias-finais.
Apesar
do assédio a Capucho nessa mesma temporada, acabou por ficar em Guimarães. Como
seria de esperar, a sua influência na manobra da equipa eram evidentes e os 7
golos, aliados à sua habilidade técnica fizeram-no dar o salto. O cerco montado
para a sua aquisição foi ficando cada vez mais apertado e face à pouca margem
de manobra do Vitória SC (terminava contrato na temporada seguinte), não foi de
estranhar a sua contratação por parte do FC Porto, equipa do seu coração.
No
FC Porto passou 6 temporadas! Foi aqui que vimos o melhor Capucho, um jogador de
alto nível, com rapidez de movimentos, com muita classe nos pés, com grande
visão de jogo, enorme técnica. Acima de tudo, distinguia-se pelo drible curto,
desconcertante, que deixava qualquer adversário direto completamente
infernizado. Marcou grandes golos! Talvez os melhores tenham sido resultado das
constantes chapeladas que ia fazendo aos guarda-redes do campeonato português,
como podemos ver:
A
par de Drulovic, foi um dos grandes municiadores de Mário Jardel, mas também de
outros avançados portistas. Extremo-direito nato e com grande capacidade de
progressão no terreno com a bola controlada, procurava sempre a linha de fundo
para arrancar cruzamentos venenosos. Ele que nesta altura ficou conhecido
nacional e internacionalmente pelo extremo com as meias descidas, a meio da
canela, a fazer jus à sua finta, curta. Rapidamente se afirmou de azul-e-branco
e na Seleção Nacional de Portugal, merecendo as chamadas para o Euro’00 e
Mundial’02 (justificando as suas 34 internacionalizações). António Oliveira,
Fernando Santos e Octávio Machado treinaram-no no FC Porto, mas foi com José
Mourinho que Capucho viveu uma época quase perfeita. Depois do fracasso de
2001/02, a caminhada e o triunfo de Sevilha’03 jamais serão esquecidos.
Saiu
no final dessa temporada, depois de cumpridos 6 anos de ligação aos portistas,
188 jogos e 32 golos. Seduzido por novos desafios profissionais, arriscou com a
sua opção pelo futebol escocês, mais concretamente pelo Glasgow Rangers. Foi a
sua primeira experiência internacional. Apesar dos 32 jogos e dos 6 golos, não
convenceu e acabou mesmo a jogar pela equipa de reservas. Rescindiu
amigavelmente e acabou em Espanha na temporada seguinte, onde atuou na 2ª
Divisão Espanhola, com 33 anos, pelo Celta de Vigo. Apesar de não ter sido
aposta constante, contribuiu em 19 jogos para a subida de divisão do clube
galego, terminando desta forma a sua carreira como jogador profissional de
futebol.
Duas
temporadas depois, em 2007, aceitou o convite do FC Porto, seu clube do
coração, para trabalhar com a formação portista. Desde essa altura que vem
integrando diversas equipas técnicas do clube. Já passou pelos Sub15, Sub17
(onde foi campeão nacional em 2012) e Sub19, fazendo parte, atualmente, do
corpo técnico de Luís Castro, treinador do FC Porto B. Acima de tudo, Capucho
pretende passar a cultura de vitória, a alegria e a paixão pelo futebol que
sentiu enquanto jogador, proporcionando o crescimento e amadurecimento de novos
jogadores. Sempre com um sonho: ser um dia treinador-principal do FC Porto!
Pela
sua qualidade, magia, drible, por tudo o que representou para o futebol
português…
Obrigado,
Capucho!
Uma
vez amado, para sempre recordado!
A
memória do João
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