domingo, 24 de maio de 2015

O mundo é bué de cenas - TL11 – The Villa

Dois dias foi o que bastou para encontrar casa. Uma semana para fazer as mudanças, mas isso são pormenores! 
A procura foi intensa, chata e já tinha começado comigo ainda em Portugal, a ver anúncios e a apreciar fotos enviadas por quem cá está. Desde casas com quartos sem janela, no quintal, e com pouco mais de metro e meio de largura, a uma casa decorada da forma mais desenlegantemente engraçada com sofás em tons de leopardo e naperons nas prateleiras das estantes, The Villa surgiu durante a bica, em conversa: “Há uma casa espetacular para arrendar, livre há um mês, com três quartos e num bairro pacato”. Telefonou-se a um, enviou-se mensagem a outro e entrámos em contacto com o senhorio, o maun Crispim.

O primeiro encontro foi nesse mesmo dia ao fim da tarde, depois dos banhos de mar: chegar à Catedral, virar, virar novamente e ao fundo da rua uma cara simpática abriu o cadeado do portão, depois o da porta de segurança, rodou a chave duas vezes e eis que vimos a casa. Para nos receber, um sofá gigante, colocado numa das partes da sala gigante, com uma mesa pequena a separá-lo da televisão gigante. O impacto inicial foi ótimo, mas à medida que avançávamos na casa e nos perdíamos nas divisões começamo-nos a assustar com o preço que nos iria pedir.
– “Maun, os quartos não têm camas nem armários…”
– “Eu coloca.”
– “E um dos quartos não tem ar condicionado…”
– “Eu podi troca com o da sala de jantar.”
– “E o que é isto na cozinha, aqui no meio?”
– “É a bomba da água, mas só deita quando chóvi.”
– “Se calhar precisaríamos de um estrado de madeira para não molhar os pés a lavar a loiça.”
– “Sim, eu põe.”
– “E frigorífico e fogão e máquina de lavar roupa?”
– “Manas compram e depois abate na renda.”
A verdade é que mais prestável não podia ser, então chegou a parte de perguntar quanto. As palavras que saíram de seguida da boca dele fizeram-nos olhar pasmadas umas para as outras, por ser tão pouco; ele, Santo Crispim, pensando que tinha pedido demais, baixou ainda mais, o que nos fez desconfiar de tamanha esmola. Perguntámos se ele não se tinha enganado a dizer os números, mostrámos a quantia escrita no telemóvel, voltámos a perguntar e o preço era mesmo aquele.
– “Pronto, obrigada, amanhã dizemos alguma coisa.”
– “Sim.”
E saímos – encantadas mas com a pulga atrás da orelha. Fomos todo o caminho de volta a questionarmo-nos sobre o valor, sobre se a casa teria algum problema, se o bairro seria, afinal, perigoso, se teria bichos e tanta outra coisa que resolvemos ligar a quem nos deu o contacto. Apercebemo-nos de que tínhamos a oportunidade de fazer o verdadeiro negócio da China, porque o senhor é, pura e simplesmente, espetacular e precisava mesmo de arrendar a casa, visto nunca ter praticado um preço tão baixo. É óbvio que não perdemos nem mais um segundo e ligámos-lhe nem uma hora depois e dissemos que sim!




Uns dias depois voltámos à Villa, cujo título surgiu da grandeza do espaço, e já tinha sido limpa, organizada, com as camas e os armários prontos a estrear e loiça extra novinha em folha. Foi uma questão de arranjar tempo para ir comprar os eletrodomésticos e colocar os pertences em dois carros e mudámo-nos. O resto que for preciso vai sendo comprado aos poucos.




Agora, todos os dias ao fim da tarde e aos fins de semana durante todo o dia, as crianças da rua jogam à bola e ao berlinde à nossa porta, fazem desenhos no vidro sujo do carro, cumprimentam-nos quando nos veem no alpendre, a sair ou a chegar. O quiosque a cinco metros tem a senhora mais simpática da rua, que, acompanhada pelos pombos que a visitam, nos sorri e acena sempre. Os cães passeiam de um lado para o outro, sem chatear ninguém. E à noite não se ouve vivalma, só o galo descontrolado da vizinha que antes de cucuricar abana as asas três vezes (batendo-as na parede abaixo da janela do meu quarto).
Já temos poiso. E que poisinho mais bonito

SMS
https://duzentosequatro.wordpress.com/2015/05/24/tl11-the-villa/

Sem comentários :

Enviar um comentário