domingo, 10 de maio de 2015

O mundo é bué de cenas - Porto-Díli

A aventura neste país encantado começa, invariavelmente, na partida de Portugal e na longa viagem que separa as duas pátrias de língua portuguesa. Desta vez saí do Porto, direta para Istambul. Sem greves nem atrasos, o voo da Turkish Airlines partiu à hora prevista e as primeiras cinco horas foram só um gostinho do que me esperava a seguir.

O aeroporto de Istambul, grande e cheio de lojas bastante conhecidas, pode ser muito apelativo para quem quer comprar algo que foi esquecido em casa ou uma prenda para quem regressa, mas não tem internet grátis e o roaming dos telemóveis é afetado constantemente pela falta de rede. Foi, então, bastante difícil avisar os familiares de que tinha chegado bem. Com passeios de um lado para o outro para esticar as pernas, o tempo de espera para o segundo voo passou num ápice e, já com o grupo de colegas de trabalho todo reunido, chegou a altura de embarcar: próximo destino Singapura e onze horas até lá.

O avião grande era suficientemente espaçoso para as pernas e o banco confortável q.b. para dormir. Já no ar, foi-nos servido o jantarinho, passaram as toalhas quentes para limpar as mãos, o café ou o chá e, num ápice, apagaram-se as luzes, recolheram-se os carrinhos, o barulho acabou e foi ver toda a gente a dormir ou a ver filmes ou a ver filmes dormitando. Pela primeira vez desde que viajo para Timor-Leste e apanho estes voos de longa duração, dormi, com intervalos para recompor o cobertor e a almofada, seis horinhas, as quais deram para restabelecer forças e endireitar as costas fustigadas por causa dos sete quilos de livros que trouxe na mochila. Também deu tempo para ver um filme, o mesmo que a minha amiga estava a ver, mas a meio já chorávamos com a história e todos olhavam para nós e nós tristes e aflitas e piores que Marias Madalenas malogradas. De certeza que pensavam que estávamos já com saudades de casa ou com medo de voar, só que vimos até ao fim, olhámos uma para outra com ar de “tristeza!” e dormimos sossegadinhas.

Chegada a Singapura, foi reunir os colegas, apanhar as malas e ir para o hotel que já estava reservado para nós: que mimo! Cama de casal, janelas para o aeroporto, banheira e chuveiro, águas, cafés e refrigerantes, televisão gigante e com cabo. Nem tinha ainda aberto a mala e já estava a banheira a encher para um banho de relaxamento deveras merecido. Música ambiente, telefonemas para a família e foi mergulhar em água quente para relaxar os músculos e as dores de já vinte horas de viagem. Depois disso, houve ainda tempo para sentir a humidade asfixiante de Singapura e ir ao centro, mais propriamente à marina, passear os vestidos de verão e as sandálias novas.

A Marina Bay Sands é um pequeno Dubai importado para a cidade estado, com prédios gigantes ao estilo nova iorquino e umas luzes frenéticas que cativam os demais. De resto, uma cidade normal, com os seus bairros e o corrupio comum de um final de dia de semana. Jantámos num espaço aconselhado por um amigo meu que lá mora, passeámos à beira rio, tirámos fotos. Não deu para prolongar pela noite fora, visto que o cansaço era demasiado e às seis da manhã o despertador iria tocar para a última e tão esperada viagem para a ilha.



Confesso que vim de Portugal com o bichinho de aterrar em Timor um pouco adormecido, talvez pela fadiga ou por saber que não seria novidade para mim. Mas bastou-me entrar no avião para as mãos começarem a tremer, o coração a saltar, a emoção vir ao flor da pele. Quando aterrámos estremeci, e quando saí foi imediata a lágrima de felicidade que saltou: parei, respirei fundo e senti que estava, novamente e depois de um ano, na minha segunda casa. Corri para não ficar para trás na fila do controlo do passaporte, agarrei nas malas, passei pela segurança e pelo RX e vi logo as minhas caras familiares, as quais abracei e agarrei e a quem agradeci por estar de novo aqui.


C H E G U E I.

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