domingo, 17 de maio de 2015

O mundo é bué de cenas - TL10: Novamente Crocodilo

«Faz quase dois anos que escrevi a última crónica em Timor-Leste, apesar de ter cá passado mais um ano depois disso. Hoje, dezassete meses depois de ter deixado esta ilha encantada sem a ideia de poder voltar tão cedo, recomeço o relato do que por aqui vivo e, a julgar pelo que já aconteceu nos últimos dias (estou cá nem há uma semana!), vou ter sempre muito sobre o que escrever.

A chegada ao aeroporto Nicolau Lobato fez-se sem qualquer problema: o avião aterrou ligeiramente antes da hora; as malas vieram e em bom estado; as amigas estavam à espera; os responsáveis pelo projeto para o qual vim trabalhar prontos para receber a equipa que integro. Por isso, não podia ser melhor! Entrámos no carro, dirigimo-nos ao shopping e fui logo comprar o cartão de telemóvel, conhecer os pacotes novos de internet, buscar pão e apanhar o primeiro ar fresco da cidade. Tudo pronto, siga para casa que o que se quer é descansar!

Quatro amigas no carro e, claro, conversa, piadas, novidades e cusquices em dia não pôde faltar. Fui aproveitando para me deslumbrar pelo que não conhecia ainda, como restaurantes, casas, centros comerciais, menos mercados, mais pó e a ponte com duas faixas para cada sentido. Estava tão abismada com o crescimento significativo em tão pouco tempo que não percebi que, a determinada altura, o fumo que me batia na cara era do carro da Meg. Pior: nem eu, nem ela, nem as restantes ocupantes do veículo! 

Passávamos em frente à entrada para o porto, onde se encontravam dezenas de pessoas à espera para embarcar no Nakroma, quando o episódio se deu. Estávamos já a refilar com o carro da frente porque parecia ter o tubo de escape estragado, mas tornou-se bem evidente que o fumo saía do capô. Travões para que vos quero, toca a saltar do carro para fora, a meter as mãos à cabeça e a olhar enquanto os timorenses do outro lado da rua corriam para “ajudar”. Depois de uns minutos à espera, do mecânico amigo (tempo esse que deu perfeitamente para registos fotográficos fantásticos),  de alguns transeuntes passarem, olharem e darem a sua opinião, alguém nos foi buscar e deixar, enfim, em casa. Eu já me tinha descalçado, já me tinha rido e, com tudo, já nem sentia cansaço nenhum. Melhor recepção impossível!

Estando temporariamente a morar na praia, foi atirar as malas para o chão, vestir o bikini, agarrar na toalha e numa bintang e pisar a Areia Branca e quente da qual senti tanta falta! A ilha Alor em frente, o centro de Díli distante, os barcos a passarem, o sol prestes a cair no horizonte e, entre tragos gelados de cerveja, tive a sensação de que não tinha sequer chegado a sair do país, tal foi o sentimento de “estou em casa”.Para não deixar que o jetlag levasse a melhor, aguentei até bem depois do jantar para me deitar, não fosse a diferença horária incapacitar-me de acordar a horas para a reunião com o Senhor Embaixador logo na manhã seguinte. 

Dormi mais de oito horas seguidas, nunca tal visto em anos anteriores, tendo acordado mais do que a tempo para apanhar a boleia para o centro. Reunião vai, outra reunião vem, almoço com direito a rever muitos amigos, até que o cansaço bateu a meio da tarde de forma tão brutal que só queria cama e almofada. Ainda estive assim durante o fim de semana, não descurando, obviamente, as idas à praia que implicam, pura e simplesmente, atravessar os escassos metros de rua.

Neste momento estou mais do que ambientada, o sono já se orientou e só falta mesmo começar a trabalhar para entrar no ritmo frenético que tanto preciso: venham as monografias para orientar, as aulas para dar, os manuais para ajudar a fazer.
Venha, então, mais um ano de sol, calor e carinho timorense.

SMS


* Todos os Domingos, a SMS diz que "o mundo é bué de cenas".


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