Esta
semana recuperamos um jogo da mais prestigiada competição de clubes do mundo, a
Champions League! Mais especificamente, recordamos um dos melhores resultados
alcançados pelo FC Porto fora de portas.
Palco:
San Siro(Milão, Itália)
Competição:
Champions League 1996/97, Fase de Grupos, Grupo D, 1ª Jornada (11.09.1996)
Jogo:
AC Milan 2:3 FC Porto
Efetivamente,
o desfecho dos encontros entre equipas portuguesas e italianas não nos é
favorável. O estilo de jogo mais defensivo, sólido e pragmático dos italianos
tem sido extremamente eficaz nos confrontos com as equipas portuguesas, menos
tolerantes, menos concentradas e menos confiantes nas suas reais capacidades.
Felizmente, também tivemos casos de sucesso, exemplo disso mesmo este
fantástico jogo e resultado alcançado pelos azuis-e-brancos.
O
AC Milan era “apenas” o campeão italiano e nas duas últimas participações na
Liga dos Campeões tinha chegado à final, perdendo uma frente ao Ajax por 1:0 em
1993 e vencido outra, no 4:0 frente ao Barcelona na final de 1994. O seu
plantel estava recheado de estrelas, como Rossi, Panucci, Desailly, Maldini,
Costacurta, Albertini, Boban, Davids, Ambrosini ou Marco Simone. Mas no meio de
todas estas, cintilavam bem lá no alto outras duas: Roberto Baggio e George
Weah!
O
italiano era um dos melhores jogadores da atualidade, por alguma razão tinha
recebido a Bola de Ouro FIFA em 1993 e tinha ficado em 3º lugar no ano seguinte
(ao serviço da Juventus). O miúdo do “rabinho de cavalo” era constantemente
apanhado em campo em excesso de velocidade e com técnica a mais no sangue. Com
ele em campo, o êxtase era uma constante. Já o liberiano estava no topo da sua
carreira, era para muitos o melhor ponta-de-lança da altura, tendo conquistado
a Bola de Ouro em 1995 (com Maldini em segundo lugar) e o segundo lugar em
1996, sem qualquer contestação! O uruguaio Óscar Tabárez tinha à sua disposição
um dos plantéis mais apetecíveis da atualidade, disso ninguém tinha dúvidas.
No
entanto, do outro lado, estava um FC Porto bicampeão sob as mãos de Bobby Robson,
que acabou por sair para Barcelona. Pinto da Costa tinha escolhido António
Oliveira, velha glória do clube, ex-selecionador de Portugal no Euro96, e
estabelecido como grande objetivo a conquista do tricampeonato, que fugia aos
dragões desde o início dos anos 30. No entanto, o FC Porto ia espalhando a sua
qualidade nos relvados europeus e não queria manchar essa reputação. Na grande
equipa do FC Porto jogavam João Pinto, Rui Jorge, Aloíso, Jorge Costa, Rui
Barros, Paulinho Santos, Sérgio Conceição, Zahovic, Domingos, Drulovic, Edmilson,
Artur e… Mário Jardel, acabadinho de chegar ao clube, vindo do Gémio! A mística
do clube estava impregnada na maioria dos jogadores, já com muitos anos de casa
e isso fazia a diferença!
Esta
era a primeira jornada de um grupo completado pelos noruegueses do Rosenborg e
pelos suecos do IFK Gotenburgo. Para o jogo os treinadores fizeram alinhar os
seguintes onzes:
AC Milan: Rossi, Panucci,
Reiziger, Desailly, Maldini, Galli, Albertini, Boban, Baggio, Simone e Weah.
FC
Porto: Wozniak, Jorge Costa, Fernando Mendes, Aloísio, Lula, Paulinho Santos,
Sérgio Conceição, Barroso, Zahovic, Artur e Edmilson.
Se
do lado do AC Milan não haviam grandes surpresas, do lado do FC Porto todos os
prognósticos para o onze inicial saíram completamente ao lado. António Oliveira
entendeu que a equipa precisa de maior solidez na defesa e meio-campo e estreou
3 elementos com a camisola azul-e-branca! Lula e Fernando Mendes (ambos
ex-Belenenses) e Zahovic (ex-Vitória de Guimarães) tinham aqui uma bela
oportunidade de se mostrarem! Os dragões entraram em campo com um esquema de
três centrais (Jorge Costa, Lula e Aloísio), dois alas com grande profundidade
ofensiva (Sérgio Conceição e Fernando Mendes), dois médios de contenção
(Paulinho Santos e Barroso) e, depois, três elementos capazes de atazanar a
defensiva milanesa (Zahovic no apoio a Artur e Edmilson).
Aos
14 minutos o primeiro momento da partida. Paulinho Santos falhou o passe no
momento da construção de jogo e a bola sobrou para quem não devia, Roberto Baggio.
O génio italiano combinou com Weah, arrancou em direção à área e assistiu Marco
Simone que, com um trabalho notável, livrou-se da tripla de centrais portista e
abriu o ativo! Estava desmontado o castelo que Oliveira queria construir
durante grande parte do jogo. La squadra
rossonera controlava e dominava a partida e tentava o segundo golo, o da
tranquilidade. O FC Porto ia aplicando o estilo de jogo italiano, com muita
cautela no processo defensivo e sempre à espreita de uma posse de bola para
avançar com velocidade. Teve alguns lances que poderiam ter dado golo mas era
pouco para o caudal ofensivo que os milaneses apresentavam. O 1:0 manteve-se
até ao intervalo e, cinco minutos antes, Reiziger (lesionado) tinha dado o
lugar a Mauro Tassotti que, com 36 anos, viria a ser uma das figuras da partida.
O
balneário fez bem aos portistas. Na segunda-parte veríamos um grande espetáculo!
Aos 52 minutos, após jogada pela esquerda iniciada por Fernando Mendes, Zahovic
vê Artur livre da marcação de Tassotti dentro da área e assiste o ex-Boavista. O
brasileiro, com uma enorme classe, fintou um dos melhores defesas do mundo
(Maldini) e atirou a contar: 1:1! Surpresa em Milão!
António
Oliveira, sem medo e a ver o seu FC Porto com disponibilidade e ambição para
mais do que o empate, lançou Mário Jardel aos 62 minutos, em detrimento de
Barroso (recuando Zahovic). O FC Porto estava melhor e a dupla Jardel-Artur
ameaçava a defensiva contrária, sempre com Tassotti como o elo mais fraco da
defesa italiana.
No
entanto, contra a corrente do jogo, Weah (quem mais?) fugiu aos centrais
portistas e emendou à boca da baliza um cruzamento venenoso de Marco Simone! O
AC Milan ganhava novamente vantagem no marcador aos 69 minutos! Weah saiu
lesionado do lance do golo e teve mesmo de ser substituído, um rude golpe para
a equipa rossonera. Este terá sido um
dos últimos lances de perigo do AC Milan e o momento de viragem no jogo, que apontou
todos os holofotes para a péssima exibição de Tassotti. O italiano dava muito
espaço aos avançados portistas, falhava passes, marcações, perdia nos duelos, estava
em dia não e isso motivava o FC Porto! Oliveira arriscou tudo, desfazendo a
tripla de centrais e fazendo entrar Drulovic para o lugar de Aloísio, aos 73
minutos.
Três
minutos mais tarde, nova jogada pela esquerda, Zahovic cruza para a área e
Super Mário fez o que tão bem ele sabia fazer, o golo de cabeça! Remate
exemplar do brasileiro, do cabeça de ouro,
deixando Rossi pregado ao relvado sem qualquer hipótese de defesa! O FC Porto
acreditava!
Mas
a derrocada final do AC Milan ainda estava por acontecer. Passe para as costas
de Tassotti, Artur ganhou na raça ao italiano e tentou o cruzamento. A bola
sobrou novamente para Tassotti que “aliviou” para a entrada da área e para os
pés de Zahovic. O esloveno, mais uma vez no sítio certo e sempre de cabeça
levantada, descobriu Jardel na área. O brasileiro livrou-se de Maldini e
sentenciou a partida aos 83 minutos! 3:2 para os bicampeões nacionais, era a
reviravolta no marcador, o corolário de uma bela exibição, sobretudo na
segunda-parte, marcada sobretudo pela grande qualidade de Zahovic e dos avançados
brasileiros portistas, que não desperdiçaram os buracos abertos pela defensiva
italiana. Vale a pena recordar:
Esta
foi uma das melhores fases de grupos de sempre do FC Porto na Champions League,
cedendo pontos apenas no empate a 1 na receção ao AC Milan (surpreendente os
italianos ficariam no terceiro lugar, através do Rosenborg). No entanto, viria
a cair nos quartos-de-final aos pés do Manchester United.
Nada
apagará este jogão em Milão, esta saborosa e tão rara vitória portuguesa em
solo italiano. Estará sempre na nossa memória. Obrigado FC Porto!
Uma
vez amado, para sempre recordado!
A memória do João
A memória do João
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