As
últimas semanas têm sido marcadas pelo colapso financeiro de uma grande equipa
que ajudou a difundir o prestígio do futebol italiano na Europa e no Mundo,
graças aos títulos e ao bom futebol praticado nos últimos 25 anos, mais
concretamente, na década de 90.
Hoje,
falamos sobre um pouco de tudo aquilo por que esta equipa passou ao longo dos
seus mais de 100 anos de história. Hoje, falamos do Parma FC.
Curiosamente,
o Parma FC já apresentou diversas designações desde a sua fundação, a 27 de
Julho de 1913. Começou como Verdi FC, tendo conseguido na longínqua temporada
de 1924/25 a subida à primeira divisão italiana (permanecendo apenas por um
ano) e passou para Parma AS a partir de 1930. Durante as décadas de 30 a 60 o
clube alinhou sempre nos escalões secundários italianos e, no ano de 1966, foi
mesmo relegado para a Serie D. Foi uma fase extremamente complicada para o
clube em termos desportivos e com graves consequências financeiras: a equipa
italiana mergulhou num mar de dívidas, afogou-se, valendo o pronto-socorro de
um grupo de empresários locais. Esse salvamento permitiu dar um novo rumo ao
clube, finalmente designado de Parma AC, a partir de 1970.
O
clube foi subindo de produção lentamente, de forma sustentada,
tendo atingido o topo (Serie A) no ano de 1990, sob as ordens do famoso técnico
italiano Nevio Scala.
Foi
apenas o início de um período de sonho dos gialloblú.
Foram 10 anos de classe, de afirmação a nível interno e externo também. No
espaço de um ano, o Parma AC deixava a segunda divisão italiana, conquistava o
sexto lugar na estreia na Serie A e, com isso, carimbava pela primeira vez o
passaporte de acesso às competições europeias! Notável! Na equipa desse ano
pontificava uma grande dupla de avançados: Alessandro Melli e Thomas Brolin! O
sueco, futuro herói da sua seleção no EUA’94, tinha acabado de chegar ao clube
e por lá ficou uns anos, ajudando a escrever uma das páginas mais bonitas do
clube: a conquista do primeiro troféu, a Taça de Itália no ano de 1992 e
consequente apuramento para a Taça das Taças na temporada seguinte!
O
Parma AC estava imparável! A fome de títulos era muita, há muito que os adeptos
esperavam por estes momentos. Tinha valido a pena a espera… e de que maneira!
No ano seguinte o clube despachou todos os clubes que lhe apareceram pela
frente na Taça das Taças (incluindo o nosso Boavista FC nos oitavos-de-final) e
trouxe o caneco para Itália! O primeiro troféu internacional para o museu parmensi. Quando o capitão Minotti
corria em pleno Estádio do Wembley com o troféu nas mãos os adeptos gialloblú sabiam que Freddy Mercury não
lhes estava a cantar “We are the champions” pela última vez! Tal como para
todos nós, o sonho comandava a vida desta gente!
E
os sonhos concretizavam-se… A Supertaça Europeia também não fugiu, depois de
uma vitória agregada de 2:1 frente ao todo poderoso AC Milan! O céu parecia ser
o limite!
Também
para os dirigentes do clube, os êxitos davam a esperança de um futuro risonho,
pelo que o Presidente Giorgio Pedraneschi atacava o mercado com unhas e dentes,
em busca de grandes reforços para Nevio Scala (Faustino Asprilla foi o
primeiro, seguiram-se Gianfranco Zola, Fernando Couto, Massimo Crippa, Roberto
Sensini, Dino Baggio, Stoichkov) e apostava na formação da equipa. Foi a partir
de 1994 que começámos a ver crescer o enorme Gianluigi Buffon na equipa
principal.
E
Nevio Scala não desperdiçava o talento da equipa que ajudou a construir! Na temporada de
1994/95 confirmou aquilo que já todos sabiam, o Parma AC tinha voltado aos
grandes palcos e não parecia querer sair deles sem deixar a sua marca de
qualidade. O terceiro lugar na Serie A (com os mesmos pontos que o segundo
classificado Lázio) e a Taça UEFA foram exemplo disso mesmo, onde nem o Vitesse,
AIK, Athletic Bilbau, Odense BK, Bayer Leverkusen e Juventus conseguiram
impedir o clube de conquistar o troféu europeu! O terceiro! Incrível como no
espaço de 4 anos no primeiro escalão o clube já tinha conquistado tanto…
Com
Nevio Scala à frente da equipa na Serie A (6 anos), o Parma AC nunca ficou
abaixo do 7º lugar e conseguiu o 3º lugar em duas temporadas! Foi um período
espetacular, mas não tinha terminado por aqui! Nada disso… em 1996 Carlo
Ancelotti assumiu o cargo da equipa e com ele vieram Lilian Thuram, Zé Maria, Amaral,
Mario Stanic, Enrico Chiesa e Hernan Crespo! Fabio Cannavaro, contratado na
época anterior, destacava-se na defesa! Se já impunham respeito, com este arsenal
o clube parecia querer ganhar outra dimensão, poder conquistar o título
italiano, jogar a Champions League. E nessa mesma temporada de 1996/97 o
scudetto esteve a centímetros, escorregou das mãos por escassos 2 pontos, para a
Juventus! Foi por pouco, por muito pouco… Contudo, deu o acesso à Champions
League!
Pela
primeira vez ouviu-se o hino dos hinos no Estádio Ennio Tardini, capaz de
arrepiar qualquer um! Na prova milionária o clube italiano conseguiu o segundo
lugar (atrás do B. Dortmund de Paulo Sousa) mas não conseguiu o apuramento,
numa altura em que apenas os 2 melhores segundo classificados de um total de 6
grupos garantiam o acesso à fase final! Foi uma prestação digna e que mostrou à
Europa o poderio defensivo (Buffon, Cannavaro e Thuram) mas, acima de tudo,
coletivo da equipa. Dino Baggio, Fiore, Chiesa e Crespo davam outra dimensão à
equipa, efetivamente!
Em
1998 chegou Alberto Malesani para o lugar de Ancelotti (entraram também os
argentinos Verón e Ortega) e o resultado foi “apenas” este: conquista da Taça
de Itália (vencendo a Fiorentina na final), da Taça UEFA (vencendo na final o
Marselha por 3:0) e ainda da Supertaça Italiana no início da temporada seguinte
(vitória frente ao AC Milan por 2:1)! Uma década de sucesso de um clube acabado
de chegar ao primeiro escalão de Itália! Estavam intratáveis os gialloblú... Palavras para quê? A alegria destas imagens é contagiante!
No
entanto, já depois de ter conquistado mais uma Taça de Itália em 2001/02 (final
ganha à Juventus) o clube deparou-se com a crise da Parmalat no final de 2003,
o grande patrocinador durante largos anos! Uma crise que se alastrou ao
clube, um tremendo choque financeiro, a equipa nunca mais seria a mesma… Em
2004, a fim de evitar o reinício do clube e o regresso ao futebol amador nasceu
o Parma FC (designação atual), mantendo vivos todos os direitos do, até então, Parma
AC, que tantas alegrias nos tinha proporcionado.
O
buraco de aproximadamente 100 milhões de euros deixou o clube num beco sem
saída. No início de Fev15 o clube foi comprado por 1 euro mas a tarefa de
liquidar toda a dívida acumulada parece impossível. Os leilões promovidos pelo
clube não parecem ter trazido grandes resultados e não parecem haver investidores dispostos a
assumir tamanha responsabilidade.
O
futuro do clube é incerto, todas as semanas saem notícias sobre a eventual desclassificação
do clube (onde jogam os portugueses Varela e Pedro Mendes), faltas de comparência
em alguns jogos, saídas de jogadores influentes, eventuais apoios da Liga
Italiana (falam-se em 5 milhões de euros). Todo o apoio é pouco para salvar
este clube, detentor de 8 títulos, 4 nacionais e 4 internacionais.
Estamos
numa verdadeira corrida contra o tempo, contra o fim deste histórico e
centenário clube! Eu acredito que ainda é possível evitar o inevitável. Independentemente
do desfecho…
Obrigado
por tudo, Parma! Uma vez amado, para sempre recordado!
A
memória do João
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