sábado, 28 de fevereiro de 2015

Remate da Z - Frederico Gonçalves (Parte II)

Frederico Rodrigues Gonçalves é francês, mas conheceu e vive em Portugal, no distrito de Viana do Castelo, desde os três anos de idade.

O entrevistado da semana tem uma longa história com o futebol, foi jogador e hoje é treinador do clube União Desportiva de Moreira, onde procura transmitir para os seus jogadores que “o futebol de formação tem como objetivo formá-los enquanto jogadores e não como máquinas de títulos”.


Continuação (ver Parte I)

Z: O que diferencia um treinador de uma equipa de iniciados do de uma equipa profissional? F: Penso que muda muita coisa. Primeiro, uma equipa profissional tem de ter objetivos que uma equipa de iniciados não pode ter devido à sua idade e à sua evolução de aprendizagem no futebol. Depois, uma equipa de iniciados, como é a minha, tem treinadores que têm os seus empregos e muitas dificuldades para se apresentarem pontualmente aos treinos e uma equipa profissional tem um staff em que cada um tem a sua função, enquanto nós fazemos de tudo, desde elaboração de treinos, encher bolas, preparar o material didático e tratar de toda a logística para os jogos.



Z: Analisando o psicológico do jogador, diríamos que o jogador jovem ambiciona a profissionalização e que o jogador profissional movimenta-se em função das condições salariais. Qual dos dois tipos de jogador será o mais difícil de treinar?
F: Ser treinador de uma equipa de iniciados é de grande responsabilidade, porque é o início deles no futebol de 11 e temos de ajudá-los a evoluir na sua formação para que não desistam dos seus sonhos de serem futebolistas. Enquanto ser treinador de uma equipa profissional tem outras dificuldades e acredito que não seja só pelo salário, deveriam lembrar-se do seu passado enquanto jogador formado e serem exemplos para os que olham para eles como heróis.

Z: Como participante da formação de jogadores de futebol, acredita que há um investimento devido a este nível?
F: A maioria dos clubes tem a preocupação de conseguir vitórias e esquece facilmente que a formação é fundamental para o futebol português e importante para os clubes formadores. Em Portugal sempre houve grandes jogadores e grandes seleções jovens, mas quando chega o momento de apostar neles, enquanto seniores, as coisas mudam e muito! Temos muitos jogadores estrangeiros a jogar em Portugal, muitos deles com falta de qualidade e a ocupar espaço dos nossos jogadores que são obrigados a ir para o estrangeiro. Algo está errado, mas os clubes não podem dizer que a formação é o futuro e depois irem contratar jogadores estrangeiros, quando os portugueses têm provas dadas e só precisam de oportunidades.

Z: Qual considera ser a principal função no trabalho de um treinador?
F: A principal função é mostrar-lhes que têm valor para jogarem, é potenciar as suas qualidades e colocá-los a jogar para expor toda a formação que receberam ao longo dos anos.

Z: Quando uma equipa é derrotada há várias justificações para tal. Enquanto treinador, acredita que é o principal culpado, uma vez que tem o poder de escolher os jogadores que coloca em campo e a estratégia que a equipa deve seguir?
F: Quando uma equipa é derrotada, o treinador diz que a culpa é dele para proteger a equipa. Se os seus jogadores entenderem a mensagem a resposta no jogo a seguir será positiva e a união será maior, agora se a resposta for negativa então aí o treinador não teve o cuidado de escolher os jogadores à sua imagem para que na vitória e na derrota estejam todos unidos.

Z: Falando de um caso concreto, e enquanto treinador, acredita que a derrota da Seleção de Portugal na Copa do Mundo de 2014 foi devido às escolhas feitas pelo treinador, Paulo Bento? 
F: Sim, na minha opinião as escolhas do selecionador Paulo Bento não foram as melhores, acho que alguns jogadores selecionados não tinham ritmo para poder disputar uma fase final de um Mundial. As suas opções durante os jogos não foram de acordo com as ambições a que todos eles se propuseram.



Z: Qual é o próximo passo na carreira?
F: Penso época a época, por isso não penso na próxima época, ainda temos muito campeonato e muita coisa para trabalhar.

Z: Há algum momento que o tenha marcado enquanto jogador?
F: Acho que o momento que mais me marcou enquanto jogador foi quando joguei pela primeira vez, sensação de grande prazer, estava a começar a jogar futebol!

Z: E enquanto treinador?
F: Enquanto treinador foi quando consegui que a minha equipa de benjamins em 2012/2013 fosse campeã distrital.



Z: Como pode definir a sua carreira de treinador de futebol até hoje?
F: Foi de evolução, digamos que comecei do nada, sem noção real de como orientar treinos e treino após treino, jogo após jogo, noto que houve evolução e que consegui que os jogadores evoluíssem e pudessem mostrar futebol.

Z: O Frederico esperava vingar como treinador ou o seu sonho era mesmo ser jogador de futebol?
F: O meu sonho enquanto criança era ser jogador de futebol, mas não passou de um sonho. O de ser treinador foi a oportunidade de voltar a estar no mundo de futebol e de ajudar outros a conseguir seguir os seus sonhos e a viverem o futebol.

Z: Por ter nascido em França, ainda tem alguma ligação com o país a nível de futebol?
F: Nasci em França mas não tenho ligação com o futebol francês.

Z: Quais as principais diferenças, em sua opinião, entre o futebol francês e o futebol português?
F: Acho que o futebol francês tem melhores condições a nível financeiro, vê-se nas equipas como PSG e Mónaco que têm orçamentos altíssimos.



Z: E ao viver em Espanha, quais as principais diferenças que observa no futebol espanhol e no português?
F: É o melhor campeonato do Mundo, em termos de seleções têm ganho tudo, apostam nos seus jogadores, a maioria dos jogadores da seleção espanhola joga em Espanha e financeiramente é muito forte. Em Portugal o futebol é menos atrativo, há portugueses que preferem ver um jogo do campeonato de Espanha do que do campeonato de Portugal.

Z: A nível de treino e técnicas utilizadas pelo treinador, também observa diferenças?
F: Os treinadores hoje em dia modernizaram-se e muito, antes trabalhava-se muito a parte física e hoje é mais a tática. Digamos que os treinadores dos grandes clubes não podem só ter pontos, têm de apresentar um futebol que faça com que os adeptos se desloquem até aos estádios e têm a preocupação de arranjar soluções nos treinos para precaverem as dificuldades que o adversário lhes possa apresentar no jogo. Têm muito trabalho de treino e na elaboração dos mesmos, tanto em Portugal como em qualquer país da Europa.
  
Z: É adepto de algum clube?
F: Sporting CP.


Z: E para si qual é o melhor clube do mundo?
F: O Sporting CP, pela sua formação e porque tem 2 jogadores (Figo e Cristiano Ronaldo) como melhores do Mundo.

Z: Qual o melhor jogador do mundo da atualidade?
F: Cristiano Ronaldo.

Z: E o melhor treinador?
F: Eu, porque acredito que o trabalho que realizei até ao dia de hoje foi benéfico para todos nós e porque não recebo nem um cêntimo por treinar, faço-o pelo enorme prazer de treinar e de ajudar os outros.



Obrigado, Frederico!


Ana Zayara Michelli


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