sábado, 14 de fevereiro de 2015

Remate da Z - Marta Machado

Marta Machado é uma adepta que cresceu entre o mundo do desporto e acredita que o futebol “é algo que já vinha no ADN". A adepta do FC Porto partilha com o “Remate da Z” a sua história com o desporto e o que pensa sobre o futebol atual. 

Z: A partir de que momento é que a Marta percebeu o gosto pelo futebol?
M (Marta Machado): Não existe um momento concreto onde me apercebi que gosto de futebol. Eu nasci numa família onde o desporto está muito presente e, naturalmente, o futebol era e é, sem dúvida, um dos temas mais frequentes. Provavelmente o meu gosto por futebol nasceu e cresceu com o passar dos anos a ouvir todas as histórias que o meu pai, enquanto jogador em vários clubes regionais, entre as décadas de 70/80/90, viveu. Acho que é algo que já vinha no ADN.

Z: Porquê o futebol e não outro desporto qualquer?
M: Em primeiro lugar, eu não me cinjo apenas ao futebol. Gosto de outros desportos como basquetebol ou ténis, mas sempre dediquei mais atenção e curiosidade ao futebol. Pode ser por vários motivos. Talvez pela nossa sociedade e pelo nosso país viver muito do futebol. Já era assim no tempo de Salazar e acho que vai continuar. Vivemos muito da alegria que o futebol e que cada clube individualmente nos pode transmitir enquanto emoções e sentimentos. Talvez seja por viver numa terra onde se debate muito o futebol e se vê muito futebol. Ou talvez era para ser assim desde que nasci.

Z: A paixão pelo futebol repercute-se somente no visionamento dos jogos ou também na prática do desporto?
M: Eu nunca pratiquei futebol, apenas nas aulas do Secundário, apesar de já ter sido convidada. Nunca tive esse fascínio de jogar ou de pertencer a algum clube. O fascínio que eu tinha e que tenho é ver, analisar, comentar e perguntar sobre o jogo, e não praticá-lo. Tenho a paixão de ser a espetadora e não a jogadora.

Z: Acredita que o futebol é um desporto somente masculino?
M: Não. Não existe nada que seja apenas de um sexo. O futebol é feminino como é masculino. Existe sim uma forma que a nossa sociedade vê o futebol. Apesar de haver bastantes equipas de futebol feminino, é o masculino que aparece nas notícias e que é, de facto, notícia. Geram milhões e é talvez por esta vertente que é difícil de algumas (que ainda são muitas) pessoas olharem para o futebol feminino. Neste caso a nossa sociedade será sempre clássica, creio.


Z: Então, em sua opinião, o que falta para o futebol feminino se impor de forma a ser reconhecido e acompanhado pelos adeptos?
M: É uma pergunta com uma resposta complicada. Acho que para o futebol feminino se impor, os grandes clubes nacionais bem como europeus tem que, de facto, quererem que o futebol feminino seja elevado e reconhecido. Assistimos à entrega de melhor treinadora e melhor jogadora do mundo na gala da FIFA, o que já revela algo. Mas, basicamente, para o futebol feminino ter um papel mas relevante tem que haver apoios e, neste momento, não há.

Z: O que pensa sobre a qualidade do campeonato da Liga Portuguesa de Futebol quando comparada com as ligas de outros países?
M: A nossa liga nunca será como uma alemã, inglesa ou espanhola. Não temos clubes fortes nem milionários como existem nesses países onde compram jogadores por valores surreais. É claro que esses clubes têm jogadores excecionais que só com orçamentos elevados é que os conseguem ter e, por isso, não existem muitos jogadores desses em Portugal. No entanto, o futebol português está longe de ser fraco. Aliás, quando estamos no pódio de maior número de dinheiro envolvido em vendas só mostra que temos connosco grandes jogadores. Eu costumo dizer que temos o mesmo número de clubes “grandes” que outras ligas, só não temos o seu poder económico.


Z: A capacidade económica de um clube é o que realmente conta, hoje em dia?
M: Não é isso que realmente conta. O que conta são os títulos, as prestações e as vitórias que conseguem. Mas temos que ter noção que as grandes equipas estão favorecidas por essa vertente económica.

Z: A Marta tem alguma Liga em especial que prefere acompanhar?
M: Eu vejo a portuguesa que é, naturalmente, a mais próxima. Mas vejo muito a espanhola, talvez por esta ter dois dos melhores clubes mundiais e dos melhores jogadores que estão em atividade. Acompanho também a inglesa, que acho que seja a melhor liga do mundo, porque tem uma competitividade fora do normal, onde existem vários clubes a lutar pelo mesmo e com o mesmo poder económico.

Z: E em relação a qualidade das equipas portuguesas?
M: Na minha opinião, todos os anos existe uma evolução das equipas portuguesas, especialmente para as “pequenas”. Os grandes clubes nacionais serão sempre grandes porque tem um enorme número de adeptos, um orçamento equilibrado e elevado e jogadores excelentes. As pequenas têm que combater no mesmo campeonato com condições mais baixas, mas nota-se que algumas destas têm adotado estratégias que podem fazer frente aos dignados “grandes”. O Vitória de Guimarães, por exemplo, tem apostado muito nas suas camadas jovens e no jogador português e tem conseguido obter bons resultados.

Z: Quais são estas ditas equipas "pequenas"?
M: Temos várias no futebol português como o Sporting de Braga, o Vitória de Guimarães e o Marítimo. São exemplos de equipas que pertencem aos ditos “pequenos” mas que conseguem fazer frente ao FC Porto, Sporting CP e SL Benfica. São equipas que estão a ser orientadas por pessoas que percebem que o único caminho a seguir é apostar no jogador português e estão a conseguir bons resultados. Há poucos anos o Sporting de Braga conseguiu ficar em segundo lugar. É sinal que existe clubes que podem mudar o jogo do campeonato português.

Z: Na sua opinião, há aspetos positivos e negativos no futebol?
M: Claro que existem. Existe de tudo no futebol: o bom e o mau. O futebol consegue juntar pessoas para apoiar uma equipa ou uma nação e traz emoções indescritíveis aos espetadores. Mas há um lado mau. A corrupção será sempre um tema no futebol porque em pleno ano de 2015 assistimos a revelações surpreendentes, como por exemplo o suborno do mundial de 2022, que se realizará no Qatar. Isto só mostra que a FIFA consegue ser uma das organizações mundiais mais corruptas.


Z: Acredita que o futebol pode agir de maneira concreta sobre as pessoas e o mundo?
M: Acho que sim e a prova disso são as organizações espalhadas pelo mundo que pretendem que o futebol seja uma forma de solidariedade. Ajudam crianças em perigo e aldeias inteiras. É a beleza do futebol.

Z: Pode dar exemplo dessas organizações que citou?
M: A Fundação Luís Figo é um desses exemplos. É uma organização que tem como objetivo ajudar crianças doentes e acredita que estas podem sonhar e podem concretizar os seus sonhos.

Z: Tem alguma história ligada ao futebol que a faça lembrar do gosto que tem por este desporto?
M: Não tenho nenhuma história concreta. Acho que o gosto pelo futebol depende do sentimento e da emoção que temos ou não ao ver o jogo. Eu comovo-me imenso quando a Seleção Nacional joga. Podem jogar bem ou terrivelmente mal, mas é a minha Seleção e para mim será sempre a melhor do mundo. São estes sentimentos e emoções ao ouvir o hino que aumentam o gosto por este desporto.


Z: É adepta de algum clube?
M: Sim. Sou adepta do FC Porto.

Z: Tem algum jogo preferido do seu clube?
M: Graças a Deus que, como adepta, temos vários jogos que ficarão sempre marcados na memória! O FC Porto tem sido esmagador em termos de títulos a partir de 2000, por isso é difícil escolher. Como adepta fervorosa, o jogo contra o SL Benfica na Luz, em 2011, para a Taça de Portugal, que ficou 3-1 a favor dos dragões, relembrarei sempre. Tínhamos sido campeões nesse mesmo estádio e ir lá, em desvantagem, e contra todas espectativas e contra os bilhetes comprados já para a final dos benfiquistas, conseguimos vencer. Foi um ano em grande.


Z: Mas tem alguma equipa que considere a melhor do mundo?
M: A minha. O FC Porto para mim será sempre a melhor porque é a minha. Porém, agora a sério, o Real Madrid e o Bayern de Munique são, atualmente, os melhores em todos os aspetos.

Z: Cristiano Ronaldo ganhou recentemente a Bola de Ouro, concorda com este título ganho pelo português?
M: Concordo a 100%! Eu gosto muito do Cristiano Ronaldo por ele ser aquilo que é. Ganha porque trabalha mais que os outros. Tem um dom natural mas não se satisfaz só com ele, trabalha imenso para ser o que quer ser, o melhor do mundo. E concordo, também, porque é português. Eu sou patriota e irei sempre defender o que é nosso. Só tenho pena é que ele não tenha vencido noutras edições que, na minha opinião, era o justo vencedor.

Z: Há algum jogo que considera o melhor que já viu?
M: Quando nós vemos um grande jogo de futebol, pensamos que já vimos de tudo e, depois, há um melhor. Isto para dizer que não consigo encontrar o melhor jogo porque já houve tantos e haverá outros tantos. Na memória recente tenho o Real Madrid contra o Atlético de Madrid na final da Liga dos Campeões. Foi um jogo excecional e surpreendente.


Z: Para terminar e em poucas palavras, o que é o futebol?
M: Significa uma forma de nos abstrairmos da realidade e encontrarmos na emoção do futebol, uma outra realidade, sem problemas e só com a emoção de perder ou ganhar. O futebol é muito mais que uma bola ou que um campo de futebol, é solidariedade e paixão mundial.

Obrigada, Marta!


Ana Zayara Michelli


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