O
mês de Jan15 estará para sempre ligado ao adeus ao futebol de um dos melhores
jogadores de futebol que eu tive o privilégio de acompanhar, com uma visão de
jogo e uma técnica acima da média! Esta semana, vamos recordar e eternizar os feitos
de Juan Román Riquelme!
Nascido
em Jun78, Riquelme começou a dar os primeiros passos como futebolista no
Argentinos Juniors, clube conhecido pela sua aposta nas camadas jovens e que,
no início da década de 80, nos deu simplesmente a conhecer Diego Armando
Maradona! O orgulho de ter formado este jogador é incontornável, de tal forma
que justificou o batismo do seu estádio com o mesmo nome do craque argentino,
um dos maiores de sempre, senão o maior! Pois bem, uma década mais tarde era
Riquelme quem começava a formação no Semillero
del Mundo (tradução de Sementeira do Mundo, alcunha do clube) e por aí
ficou durante 3 anos, altura em que os principais clubes argentinos já não eram
indiferentes à qualidade de Román.
Foi
então que em 1995, ainda com idade júnior, deu o salto para o maior clube da
cidade de Buenos Aires, o Boca Juniors! No Boca estavam Caniggia (proveniente
do SL Benfica nessa época), a também esperança Kily González, Martín Palermo (um
ano mais tarde) e… Maradona, naquelas que seriam as últimas 2 temporadas do
astro argentino! Nada melhor do que iniciar a carreira de futebolista
profissional com Diego ao nosso lado como fonte de inspiração! Inspirado por
Maradona ou não, o que é certo é que Riquelme começou desde logo a mostrar todo
o seu potencial, pelos golos que marcava mas, principalmente, pela qualidade
técnica, pela simplicidade de processos, pela visão de jogo, características
vincadas de Diego Armando Maradona!
Foi
ao serviço do Boca que Riquelme arrecadou mais troféus, mais concretamente os Aperturas da Liga Argentina (98/99 e
00/01), Clausuras (98/99), Copa
Libertadores (2000 e 2001) e Taça Intercontinental (2000). Pelo meio, destaque
ainda para o título no Mundial de Sub20 ao serviço da sua Argentina, na Malásia
em 1997, jogando ao lado de Walter Samuel, Diego Placente, Cambiasso, Bernardo
Romeo e Pablo Aimar, entre outros! Foram 6 épocas de sonho com a camisola azul
e amarela do Boca, sempre orientado nesse período pelo argentino Carlos
Bianchi. O La Bombonera (estádio do
Boca) parecia pequeno demais para Román, para a sua qualidade, para a sua
classe!
Atento,
o FC Barcelona desferiu um ataque veroz à contratação do argentino em Mar01,
antecipando-se ao rol de interessados no craque sul-americano! A transferência
foi mesmo, na altura, a mais cara de sempre de um jogador da Argentina para a
Europa, avaliada em aproximadamente 30 milhões de Euros! O Boca via assim
perder a sua grande referência do plantel, depois de ter visto também partir
Martin Palermo, poucos meses antes, para o Villarreal!
Apesar
da inegável qualidade de Riquelme, a sua contratação a meio da época não foi
muito bem vista por alguns jogadores do FC Barcelona da altura. O holandês
Frank de Boer chegou mesmo a afirmar que para a posição de Riquelme o clube já
tinha o melhor do mundo, Rivaldo (que tinha sido considerado o melhor jogador
do mundo em 1999) e que as contratações “fora de tempo” desestabilizam toda uma
equipa. Curioso ou não, a equipa de Carles Rexach ficou-se por um dececionante
quarto lugar nessa temporada, a 11 pontos do campeão Valência e Rivaldo seria
transferido para o AC Milan!
Riquelme
não teve vida facilitada em Barcelona! Chegou numa má fase do clube em termos
presidenciais (Joan Gaspart cedeu o seu lugar Enric Reyna e, menos de 3 meses
depois, a Joan Laporta), em termos técnicos (Van Gaal e Radomir Antic treinaram
o clube nessa época) e mesmo em termos desportivos, uma vez que o clube
alcançou uma das piores classificações de sempre, ao terminar no 6º posto, a 22
pontos do rival Real Madrid!
No
final dessa época, a limpeza do balneário chegou também a Riquelme e o craque
argentino seguiu a sua carreira no Villarreal! Esta terá sido, porventura, a
melhor decisão na sua carreira como profissional! Terá sido ao serviço do submarino amarelo que Román praticou o
seu melhor futebol! Uma autêntica delícia! O astro argentino deu-nos a provar a
doçura do seu jogo, a sua capacidade de o interpretar, a simplicidade com que o
geria, a técnica com que batia todos os livres da equipa e todos nós ficávamos
saciados só de o vermos jogar! O Villarreal, que até 2001 tinha passado 67 anos
nas divisões inferiores (em 78 anos de existência) e lutava para se permanecer
no escalão principal do futebol espanhol, garantido a tanto custo, ganhou uma
nova vida com Riquelme ao leme! Duas Taças Intertoto (2003 e 2004), oitavo
lugar na temporada de 2003/04 e terceiro lugar na temporada seguinte (2004/05),
garantindo um acesso inédito à Liga dos Campeões, chegando com estrondo às
meias-finais da prova (derrotados apenas pelo Arsenal por 1:0) depois de
passar em primeiro lugar num grupo composto por SL Benfica, Man Utd e Lille, e
de eliminar Galsgow Rangers e FC Inter nos oitavos-de-final e quartos-de-final
da competição, respetivamente! Tinha o tango e o mundo a seus pés!
Foram tempos de ouro no El Madrigal (estádio do Villarreal), graças à qualidade de grandes jogadores como Pepe Reina, Juan Pablo Sorín, Santi Cazorla, Marcos Senna, Battaglia, Sonny Anderson, Diego Forlán e… claro está, Juan Román Riquelme! Jamais esquecerei este período fantástico do submarino amarelo sob as ordens de Benito Floro e, principalmente, do chileno Manuel Pellegrini, bem como da qualidade do craque argentino, que faturou por 36 vezes!
Depois
de conquistado mais um sétimo e quinto lugares nas temporadas seguintes ao
serviço do Villarreal, Riquelme, com 29 anos e depois de alguns
desentendimentos com o técnico chileno, decidiu voltar ao seu país de origem e
ao clube do seu coração, o Boca Juniors! Primeiro por empréstimo e depois a
título definitivo, Riquelme, na companhia dos seus amigos e compatriotas Martín
Palermo e Battaglia, bem como dos nossos conhecidos “portugueses” Hugo Ibarra e
Nico Gaitán e ainda de Castroman, Ledesma, Roncaglia e Rodrigo Palacio voltou a
conquistar a Copa Libertadores (2007) e a Recopa Sudamericana (2008)!
Em
2008, Riquelme alcançou ainda o seu maior feito pela seleção argentina! Depois
da frustrante eliminação nos quartos-de-final do Mundial de 2006 perante a
anfitriã Alemanha (nos penalties), Román conseguiu o ouro nos Jogos Olímpicos
de Pequim em 2008, tendo sido selecionado por Sergio Batista como um dos 3
jogadores permitidos com idade superior aos 23 anos! Juntamente com Kun Aguero,
Di María e Messi, limparam tudo o que lhes apareceu pela frente, ganhando na
final à Nigéria por 1:0!
Em
2011/12, El 10 ainda viria a ganhar
os seus últimos dois troféus, o Apertura
e o Clausura, ambos com a camisola do
Boca, onde já era um dos maiores ídolos da história do clube!
Em
2014 Riquelme decidiu ingressar no Argentinos Juniors (clube da sua formação) para
cumprir a sua última temporada como jogador profissional de futebol, tendo
anunciado o abandono no início deste ano. Para trás, ficaram 415 jogos, 98
golos, 15 títulos e muita, muita classe! Um senhor!
Obrigado por me teres mostrado o que é o futebol Román, obrigado por tudo mesmo!
Riquelme,
uma vez amado, para sempre recordado!
A
memória do João
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