terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Remate na Gaveta - Obrigado Román!


O mês de Jan15 estará para sempre ligado ao adeus ao futebol de um dos melhores jogadores de futebol que eu tive o privilégio de acompanhar, com uma visão de jogo e uma técnica acima da média! Esta semana, vamos recordar e eternizar os feitos de Juan Román Riquelme!

Nascido em Jun78, Riquelme começou a dar os primeiros passos como futebolista no Argentinos Juniors, clube conhecido pela sua aposta nas camadas jovens e que, no início da década de 80, nos deu simplesmente a conhecer Diego Armando Maradona! O orgulho de ter formado este jogador é incontornável, de tal forma que justificou o batismo do seu estádio com o mesmo nome do craque argentino, um dos maiores de sempre, senão o maior! Pois bem, uma década mais tarde era Riquelme quem começava a formação no Semillero del Mundo (tradução de Sementeira do Mundo, alcunha do clube) e por aí ficou durante 3 anos, altura em que os principais clubes argentinos já não eram indiferentes à qualidade de Román.


Foi então que em 1995, ainda com idade júnior, deu o salto para o maior clube da cidade de Buenos Aires, o Boca Juniors! No Boca estavam Caniggia (proveniente do SL Benfica nessa época), a também esperança Kily González, Martín Palermo (um ano mais tarde) e… Maradona, naquelas que seriam as últimas 2 temporadas do astro argentino! Nada melhor do que iniciar a carreira de futebolista profissional com Diego ao nosso lado como fonte de inspiração! Inspirado por Maradona ou não, o que é certo é que Riquelme começou desde logo a mostrar todo o seu potencial, pelos golos que marcava mas, principalmente, pela qualidade técnica, pela simplicidade de processos, pela visão de jogo, características vincadas de Diego Armando Maradona!

Foi ao serviço do Boca que Riquelme arrecadou mais troféus, mais concretamente os Aperturas da Liga Argentina (98/99 e 00/01), Clausuras (98/99), Copa Libertadores (2000 e 2001) e Taça Intercontinental (2000). Pelo meio, destaque ainda para o título no Mundial de Sub20 ao serviço da sua Argentina, na Malásia em 1997, jogando ao lado de Walter Samuel, Diego Placente, Cambiasso, Bernardo Romeo e Pablo Aimar, entre outros! Foram 6 épocas de sonho com a camisola azul e amarela do Boca, sempre orientado nesse período pelo argentino Carlos Bianchi. O La Bombonera (estádio do Boca) parecia pequeno demais para Román, para a sua qualidade, para a sua classe!


Atento, o FC Barcelona desferiu um ataque veroz à contratação do argentino em Mar01, antecipando-se ao rol de interessados no craque sul-americano! A transferência foi mesmo, na altura, a mais cara de sempre de um jogador da Argentina para a Europa, avaliada em aproximadamente 30 milhões de Euros! O Boca via assim perder a sua grande referência do plantel, depois de ter visto também partir Martin Palermo, poucos meses antes, para o Villarreal!

 Apesar da inegável qualidade de Riquelme, a sua contratação a meio da época não foi muito bem vista por alguns jogadores do FC Barcelona da altura. O holandês Frank de Boer chegou mesmo a afirmar que para a posição de Riquelme o clube já tinha o melhor do mundo, Rivaldo (que tinha sido considerado o melhor jogador do mundo em 1999) e que as contratações “fora de tempo” desestabilizam toda uma equipa. Curioso ou não, a equipa de Carles Rexach ficou-se por um dececionante quarto lugar nessa temporada, a 11 pontos do campeão Valência e Rivaldo seria transferido para o AC Milan!

Riquelme não teve vida facilitada em Barcelona! Chegou numa má fase do clube em termos presidenciais (Joan Gaspart cedeu o seu lugar Enric Reyna e, menos de 3 meses depois, a Joan Laporta), em termos técnicos (Van Gaal e Radomir Antic treinaram o clube nessa época) e mesmo em termos desportivos, uma vez que o clube alcançou uma das piores classificações de sempre, ao terminar no 6º posto, a 22 pontos do rival Real Madrid!


No final dessa época, a limpeza do balneário chegou também a Riquelme e o craque argentino seguiu a sua carreira no Villarreal! Esta terá sido, porventura, a melhor decisão na sua carreira como profissional! Terá sido ao serviço do submarino amarelo que Román praticou o seu melhor futebol! Uma autêntica delícia! O astro argentino deu-nos a provar a doçura do seu jogo, a sua capacidade de o interpretar, a simplicidade com que o geria, a técnica com que batia todos os livres da equipa e todos nós ficávamos saciados só de o vermos jogar! O Villarreal, que até 2001 tinha passado 67 anos nas divisões inferiores (em 78 anos de existência) e lutava para se permanecer no escalão principal do futebol espanhol, garantido a tanto custo, ganhou uma nova vida com Riquelme ao leme! Duas Taças Intertoto (2003 e 2004), oitavo lugar na temporada de 2003/04 e terceiro lugar na temporada seguinte (2004/05), garantindo um acesso inédito à Liga dos Campeões, chegando com estrondo às meias-finais da prova (derrotados apenas pelo Arsenal por 1:0) depois de passar em primeiro lugar num grupo composto por SL Benfica, Man Utd e Lille, e de eliminar Galsgow Rangers e FC Inter nos oitavos-de-final e quartos-de-final da competição, respetivamente! Tinha o tango e o mundo a seus pés!


Foram tempos de ouro no El Madrigal (estádio do Villarreal), graças à qualidade de grandes jogadores como Pepe Reina, Juan Pablo Sorín, Santi Cazorla, Marcos Senna, Battaglia, Sonny Anderson, Diego Forlán e… claro está, Juan Román Riquelme! Jamais esquecerei este período fantástico do submarino amarelo sob as ordens de Benito Floro e, principalmente, do chileno Manuel Pellegrini, bem como da qualidade do craque argentino, que faturou por 36 vezes!
 
Depois de conquistado mais um sétimo e quinto lugares nas temporadas seguintes ao serviço do Villarreal, Riquelme, com 29 anos e depois de alguns desentendimentos com o técnico chileno, decidiu voltar ao seu país de origem e ao clube do seu coração, o Boca Juniors! Primeiro por empréstimo e depois a título definitivo, Riquelme, na companhia dos seus amigos e compatriotas Martín Palermo e Battaglia, bem como dos nossos conhecidos “portugueses” Hugo Ibarra e Nico Gaitán e ainda de Castroman, Ledesma, Roncaglia e Rodrigo Palacio voltou a conquistar a Copa Libertadores (2007) e a Recopa Sudamericana (2008)!

Em 2008, Riquelme alcançou ainda o seu maior feito pela seleção argentina! Depois da frustrante eliminação nos quartos-de-final do Mundial de 2006 perante a anfitriã Alemanha (nos penalties), Román conseguiu o ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, tendo sido selecionado por Sergio Batista como um dos 3 jogadores permitidos com idade superior aos 23 anos! Juntamente com Kun Aguero, Di María e Messi, limparam tudo o que lhes apareceu pela frente, ganhando na final à Nigéria por 1:0!


Em 2011/12, El 10 ainda viria a ganhar os seus últimos dois troféus, o Apertura e o Clausura, ambos com a camisola do Boca, onde já era um dos maiores ídolos da história do clube!
 
Em 2014 Riquelme decidiu ingressar no Argentinos Juniors (clube da sua formação) para cumprir a sua última temporada como jogador profissional de futebol, tendo anunciado o abandono no início deste ano. Para trás, ficaram 415 jogos, 98 golos, 15 títulos e muita, muita classe! Um senhor!




Obrigado por me teres mostrado o que é o futebol Román, obrigado por tudo mesmo!

Riquelme, uma vez amado, para sempre recordado!

A memória do João

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