O entrevistado desta semana é alguém que, como já foi
citado por Diogo Sá no último “Remate da Z”, inspira e ensina os jovens a
tornarem-se grandes guarda-redes, “ele mostra-nos a dificuldade que é tornar o
nosso sonho realidade, mas nunca desiste”. Porém, além de treinador de
guarda-redes da formação da Associação Académica de Coimbra (AAC), Rafael
Grácio também joga nesta posição na Equipa B de Seniores do mesmo clube.
Rafael,
perto de fazer 26 anos, gosta de futebol desde pequeno, e fala sobre como
concilia e complementa o trabalho e o estudo. Traz a sua visão sobre o
reconhecimento dos treinadores de guarda-redes a nível nacional e de que forma
é importante este trabalho para que os clubes sejam capazes de concretizar “Um
Remate Certeiro”.
Continuação (ver Parte I)
Z: Em termos de
estágios, cursos e possibilidades de formação, qual a diferença que vê quando
compara clubes nacionais e internacionais?
R: Em termos da
área especifica do treino de guarda-redes só agora é que estamos a começar a
evoluir aqui em Portugal de uma forma mais significativa. Esta iniciativa do treinador
de guarda-redes do SL Benfica, Hugo Oliveira, na organização do 1º congresso
internacional de guarda-redes aqui em Portugal foi, para mim, um passo muito
importante.
Porém, é
obvio que quando comparamos com países como Espanha, Itália, Alemanha e
Holanda, vemos que as oportunidades e a maneira como é visto o treino de guarda-redes
é completamente diferente, mas penso que os treinadores de guarda-redes estão
agora a começar a conquistar definitivamente o seu espaço e a sua importância
em termos de reconhecimento em Portugal.
Para termos
uma ideia, quem está na área do treino de guarda-redes sabe que podemos identificar
facilmente um estilo de treino de guarda-redes específico, característico de
cada um dos países que referi atrás, nós em Portugal acabamos por não ter ainda
isso.
Z: Então, o que é que falta para Portugal
chegar ao mesmo nível destes países citados?
R: Acima de tudo,
falta dar a credibilidade, importância e reconhecimento em Portugal de que o treinador
de guarda-redes é fundamental em qualquer equipa técnica de qualquer equipa, independente
do nível a que estejamos a falar. Aqui só agora é que se começa a dar o devido
reconhecimento das competências exclusivas que um treinador de guarda-redes possui
e que com ele o rendimento de uma equipa pode aumentar muito.
Há poucos
anos, um treinador de guarda-redes em Portugal podia ser qualquer um a chutar
umas bolas para a baliza, hoje isso já começa a mudar. O que acontece nos
outros países é que esse reconhecimento já há largos anos que foi feito, mas
atualmente temos tido muitos e bons treinadores de guarda-redes portugueses a
defender a classe e a treinar com imensa qualidade, tanto em Portugal como no estrangeiro,
e penso que a médio prazo o treinador de guarda-redes se imponha aqui no país
na totalidade.
Então, o aparecimento de páginas nas redes sociais como “O
Mundo dos Guarda-Redes” é na minha opinião um contributo muito
significativo naquilo que é este processo de afirmação do trabalho dos
guarda-redes e dos treinadores de guarda-redes, pois através de uma constante
atualização, semana após semana, dá a conhecer de uma forma bastante abrangente
a realidade daquilo que é hoje o treino de guarda-redes.
A nível mundial acaba
por ser também um pouco como uma fonte de inspiração e motivação para quem
gosta desta posição específica e mais concretamente para quem trabalha com
guarda-redes todos os dias, ver que cada vez mais se dá destaque às ações do
guarda-redes em jogo e a todo o processo de treino.
Z: E por que acha que demorou tanto a dar este
reconhecimento aos treinadores de guarda-redes?
R: Sinceramente não
tenho uma opinião completamente formada sobre isso, acho que talvez seja uma
questão "cultural", a forma com que se olhava cá em Portugal para a
posição de guarda-redes. Talvez o atraso na perceção de que ele necessitava de
um treino diferente e específico para render mais e não ser aquele que nos
treinos ia para a baliza quando era preciso para algum exercício. Claro que
atualmente isto, em termos do nosso futebol profissional português, já está
ultrapassado, mas na formação de um nível mais amador ainda se continua a ver às
vezes isto acontecer, o que é completamente impensável. Acho que se demorou
bastante a dar este salto.
Z: Qual a maior diferença entre ser treinador e
guarda-redes?
R: É totalmente
diferente. Enquanto treinador eu pelo menos acabo por sentir cada defesa dos
meus guarda-redes como se fossem minhas, mas sinto-me mais ansioso pois apesar de
os treinar todos os dias e de acreditar no trabalho que faço, sei que as
defesas que eles vão fazer não são diretamente controladas por mim como quando
estou a jogar, onde sei que conto comigo e com as minhas ações para intervir no
jogo. Porém, como os guarda-redes com quem
trabalho têm muita qualidade, já me habituei a ver os jogos de forma mais
tranquila.
Z: O que há de
positivo e negativo em ser treinador?
R: Sinceramente
não encontro muitos aspetos negativos em ser treinador. Quando ocorre algum
problema, por exemplo uma lesão ou um problema específico pessoal relacionado
com algum atleta, pode ser mais complicado de resolver, mas acaba por não ser
completamente negativo pois isso também nos ajuda a crescer e a nossa função
também é ajudá-los nos momentos mais difíceis e complicados.
De positivo
tem muitas coisas, especialmente na formação criam-se laços de amizade muito
fortes e sabemos que podemos ter sobre a nossa responsabilidade o futuro dos
jovens em termos não só desportivos como sociais, isso para mim é muito
aliciante pois exige de mim o máximo todos os dias. Pensar o que fiz bem e o
que fiz mal em cada treino é muito gratificante quando os vemos a alcançar
determinados objetivos a que nos propusemos, parece que os objetivos deles passam
a ser os meus também.
Z: E em ser jogador, há aspetos positivos e
negativos?
R: Para mim,
acho que o poder ser jogador é desde logo um aspeto muito positivo pois a maior
parte dos jogadores sente um enorme prazer em jogar e ser recompensado
financeiramente a fazer aquilo que gosta, acho que nos dias de hoje é um grande
privilégio.
Quanto aos aspetos
negativos, psicologicamente é muito desgastante passar por fases onde não se
está a jogar com tanta regularidade, lesões, o ter de abdicar de muito tempo e
de fazer outras coisas de que se gosta para dedicar ao treino. Mas é como digo,
acho que quem pode jogar futebol profissional se sente um privilegiado. Porém,
claro que há sempre exceções.
Z: De
que forma os seus conhecimentos técnicos o influenciam e definem como jogador?
R: As duas coisas
influenciam-me mutuamente, ou seja, por vezes aplico enquanto treinador algo
que aprendi como jogador, outras vezes aplico como jogador algo que aprendi em
um estágio ou no congresso onde estou como treinador. Acaba por ser uma
influência mútua.
Z: O Rafael disse que partilha com os seus
guarda-redes que é preciso treinar muito e ter a sorte ao lado deles. Com todos
estes ensinamentos, o que espera deles como resposta?
R: Por um lado, aquilo
que espero em termos desportivos é que eles trabalhem sempre no limite em cada
treino porque se isso não acontecer estamos a perder tempo. Procuro influenciar
bastante o comportamento deles no sentido de treinarem da forma mais
profissional possível, independente de ainda serem jovens. Por outro lado,
espero também uma resposta deles em termos de comportamento social e terem boas
notas é, para mim, um dos aspetos mais importantes a esse nível.
Z: De que forma pode definir a sua carreira até
hoje?
R: Sobre a minha
carreira penso que em termos de futebol de formação (até aos juniores) posso
dizer que tive um percurso bastante interessante. Depois disso, no futebol
sénior, a minha carreira como jogador acabou por se misturar com a de treinador,
ou seja, muitas vezes dei por mim a optar por integrar plantéis como jogador
com o objetivo de me permitir, por um lado, ter disponibilidade para exercer a
tempo inteiro a minha atividade como treinador e, por outro lado, estar em
contacto com bons treinadores principais e guarda-redes para me poder
desenvolver como jogador. Conseguir isso de ano para ano não é nada fácil, mas
felizmente tenho tido sorte nisso.
Z: Há
algum momento importante na sua carreira que queira destacar?
R: Como jogador, houve alguns momentos: o torneio Lopes Da
Silva em que participei, onde fomos à final pela Seleção de Associação de
Aveiro ou a subida de divisão em Seniores pelo FC Pampilhosa.
Como
treinador, o ir acompanhar um dos meus guarda-redes à Moldávia quando fez a sua
primeira Internacionalização, a saída de outro para o SL Benfica e a ida desse
mesmo guarda-redes à Seleção Nacional.
Z: É adepto de algum clube?
R: Sim, sou
adepto do FC Porto.
Z: Qual considera ser o melhor clube do mundo?
R: O melhor para
mim é o Real Madrid.
Z: O melhor jogador?
R: Melhor
jogador: Cristiano Ronaldo.
Z: E o melhor guarda-redes?
R: Na minha
opinião, o melhor guarda-redes atualmente é Manuel Neuer do Bayern de Munique.
Obrigado, Rafael
Grácio!
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Ana Zayara
Michelli
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