sábado, 7 de fevereiro de 2015

Remate da Z - Rafael Grácio (Parte II)

O entrevistado desta semana é alguém que, como já foi citado por Diogo Sá no último “Remate da Z”, inspira e ensina os jovens a tornarem-se grandes guarda-redes, “ele mostra-nos a dificuldade que é tornar o nosso sonho realidade, mas nunca desiste”. Porém, além de treinador de guarda-redes da formação da Associação Académica de Coimbra (AAC), Rafael Grácio também joga nesta posição na Equipa B de Seniores do mesmo clube.

Rafael, perto de fazer 26 anos, gosta de futebol desde pequeno, e fala sobre como concilia e complementa o trabalho e o estudo. Traz a sua visão sobre o reconhecimento dos treinadores de guarda-redes a nível nacional e de que forma é importante este trabalho para que os clubes sejam capazes de concretizar “Um Remate Certeiro”.

Continuação (ver Parte I)

Z: Em termos de estágios, cursos e possibilidades de formação, qual a diferença que vê quando compara clubes nacionais e internacionais?
R: Em termos da área especifica do treino de guarda-redes só agora é que estamos a começar a evoluir aqui em Portugal de uma forma mais significativa. Esta iniciativa do treinador de guarda-redes do SL Benfica, Hugo Oliveira, na organização do 1º congresso internacional de guarda-redes aqui em Portugal foi, para mim, um passo muito importante.


Porém, é obvio que quando comparamos com países como Espanha, Itália, Alemanha e Holanda, vemos que as oportunidades e a maneira como é visto o treino de guarda-redes é completamente diferente, mas penso que os treinadores de guarda-redes estão agora a começar a conquistar definitivamente o seu espaço e a sua importância em termos de reconhecimento em Portugal.

Para termos uma ideia, quem está na área do treino de guarda-redes sabe que podemos identificar facilmente um estilo de treino de guarda-redes específico, característico de cada um dos países que referi atrás, nós em Portugal acabamos por não ter ainda isso.

Z: Então, o que é que falta para Portugal chegar ao mesmo nível destes países citados?
R: Acima de tudo, falta dar a credibilidade, importância e reconhecimento em Portugal de que o treinador de guarda-redes é fundamental em qualquer equipa técnica de qualquer equipa, independente do nível a que estejamos a falar. Aqui só agora é que se começa a dar o devido reconhecimento das competências exclusivas que um treinador de guarda-redes possui e que com ele o rendimento de uma equipa pode aumentar muito.

Há poucos anos, um treinador de guarda-redes em Portugal podia ser qualquer um a chutar umas bolas para a baliza, hoje isso já começa a mudar. O que acontece nos outros países é que esse reconhecimento já há largos anos que foi feito, mas atualmente temos tido muitos e bons treinadores de guarda-redes portugueses a defender a classe e a treinar com imensa qualidade, tanto em Portugal como no estrangeiro, e penso que a médio prazo o treinador de guarda-redes se imponha aqui no país na totalidade.

Então, o aparecimento de páginas nas redes sociais como “O Mundo dos Guarda-Redes” é na minha opinião um contributo muito significativo naquilo que é este processo de afirmação do trabalho dos guarda-redes e dos treinadores de guarda-redes, pois através de uma constante atualização, semana após semana, dá a conhecer de uma forma bastante abrangente a realidade daquilo que é hoje o treino de guarda-redes.



A nível mundial acaba por ser também um pouco como uma fonte de inspiração e motivação para quem gosta desta posição específica e mais concretamente para quem trabalha com guarda-redes todos os dias, ver que cada vez mais se dá destaque às ações do guarda-redes em jogo e a todo o processo de treino.

Z: E por que acha que demorou tanto a dar este reconhecimento aos treinadores de guarda-redes?
R: Sinceramente não tenho uma opinião completamente formada sobre isso, acho que talvez seja uma questão "cultural", a forma com que se olhava cá em Portugal para a posição de guarda-redes. Talvez o atraso na perceção de que ele necessitava de um treino diferente e específico para render mais e não ser aquele que nos treinos ia para a baliza quando era preciso para algum exercício. Claro que atualmente isto, em termos do nosso futebol profissional português, já está ultrapassado, mas na formação de um nível mais amador ainda se continua a ver às vezes isto acontecer, o que é completamente impensável. Acho que se demorou bastante a dar este salto.


Z: Qual a maior diferença entre ser treinador e guarda-redes?
R: É totalmente diferente. Enquanto treinador eu pelo menos acabo por sentir cada defesa dos meus guarda-redes como se fossem minhas, mas sinto-me mais ansioso pois apesar de os treinar todos os dias e de acreditar no trabalho que faço, sei que as defesas que eles vão fazer não são diretamente controladas por mim como quando estou a jogar, onde sei que conto comigo e com as minhas ações para intervir no jogo. Porém, como os guarda-redes com quem trabalho têm muita qualidade, já me habituei a ver os jogos de forma mais tranquila.

Z: O que há de positivo e negativo em ser treinador?
R: Sinceramente não encontro muitos aspetos negativos em ser treinador. Quando ocorre algum problema, por exemplo uma lesão ou um problema específico pessoal relacionado com algum atleta, pode ser mais complicado de resolver, mas acaba por não ser completamente negativo pois isso também nos ajuda a crescer e a nossa função também é ajudá-los nos momentos mais difíceis e complicados.


De positivo tem muitas coisas, especialmente na formação criam-se laços de amizade muito fortes e sabemos que podemos ter sobre a nossa responsabilidade o futuro dos jovens em termos não só desportivos como sociais, isso para mim é muito aliciante pois exige de mim o máximo todos os dias. Pensar o que fiz bem e o que fiz mal em cada treino é muito gratificante quando os vemos a alcançar determinados objetivos a que nos propusemos, parece que os objetivos deles passam a ser os meus também.

Z: E em ser jogador, há aspetos positivos e negativos?
R: Para mim, acho que o poder ser jogador é desde logo um aspeto muito positivo pois a maior parte dos jogadores sente um enorme prazer em jogar e ser recompensado financeiramente a fazer aquilo que gosta, acho que nos dias de hoje é um grande privilégio.
Quanto aos aspetos negativos, psicologicamente é muito desgastante passar por fases onde não se está a jogar com tanta regularidade, lesões, o ter de abdicar de muito tempo e de fazer outras coisas de que se gosta para dedicar ao treino. Mas é como digo, acho que quem pode jogar futebol profissional se sente um privilegiado. Porém, claro que há sempre exceções.

Z: De que forma os seus conhecimentos técnicos o influenciam e definem como jogador?
R: As duas coisas influenciam-me mutuamente, ou seja, por vezes aplico enquanto treinador algo que aprendi como jogador, outras vezes aplico como jogador algo que aprendi em um estágio ou no congresso onde estou como treinador. Acaba por ser uma influência mútua.

Z: O Rafael disse que partilha com os seus guarda-redes que é preciso treinar muito e ter a sorte ao lado deles. Com todos estes ensinamentos, o que espera deles como resposta?
R: Por um lado, aquilo que espero em termos desportivos é que eles trabalhem sempre no limite em cada treino porque se isso não acontecer estamos a perder tempo. Procuro influenciar bastante o comportamento deles no sentido de treinarem da forma mais profissional possível, independente de ainda serem jovens. Por outro lado, espero também uma resposta deles em termos de comportamento social e terem boas notas é, para mim, um dos aspetos mais importantes a esse nível.

Z: De que forma pode definir a sua carreira até hoje?
R: Sobre a minha carreira penso que em termos de futebol de formação (até aos juniores) posso dizer que tive um percurso bastante interessante. Depois disso, no futebol sénior, a minha carreira como jogador acabou por se misturar com a de treinador, ou seja, muitas vezes dei por mim a optar por integrar plantéis como jogador com o objetivo de me permitir, por um lado, ter disponibilidade para exercer a tempo inteiro a minha atividade como treinador e, por outro lado, estar em contacto com bons treinadores principais e guarda-redes para me poder desenvolver como jogador. Conseguir isso de ano para ano não é nada fácil, mas felizmente tenho tido sorte nisso.

Z: Há algum momento importante na sua carreira que queira destacar?
R: Como jogador, houve alguns momentos: o torneio Lopes Da Silva em que participei, onde fomos à final pela Seleção de Associação de Aveiro ou a subida de divisão em Seniores pelo FC Pampilhosa.




Como treinador, o ir acompanhar um dos meus guarda-redes à Moldávia quando fez a sua primeira Internacionalização, a saída de outro para o SL Benfica e a ida desse mesmo guarda-redes à Seleção Nacional.

Z: É adepto de algum clube?
R: Sim, sou adepto do FC Porto.

Z: Qual considera ser o melhor clube do mundo?
R: O melhor para mim é o Real Madrid.

Z: O melhor jogador?
R: Melhor jogador: Cristiano Ronaldo.

Z: E o melhor guarda-redes?
R: Na minha opinião, o melhor guarda-redes atualmente é Manuel Neuer do Bayern de Munique.




Obrigado, Rafael Grácio!

Para mais informações sobre a atualidade dos guarda-redes, visite o blog “O Mundo dos Guarda Redes” nos seguintes endereços:
http://www.mundodosguardaredes.blogspot.pt/
https://www.facebook.com/mundodosguardaredes?fref=ts.

Ana Zayara Michelli


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