quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Remate na Gaveta - De se tirar o chapéu!

Esta semana o “Remate na Gaveta” pretende eternizar um jogador estrangeiro que deixou marcas no futebol português, fruto da magia que trazia nos pés. Um jogador que nos deixou boas e más recordações pelo simples facto de expor todo o seu talento dentro das 4 linhas.

Hoje falamos de Karel Poborský!

O ser humano aprecia um bom enredo mas sempre deu mais valor à parte final das coisas: a melhor peça de sushi para o fim, o final do filme, o perfume antes de sair de casa, o ordenado no final do mês, o golo da vitória no último minuto. Por isso, vamos deixar para o final as melhores recordações que temos deste grande jogador e que o consagraram como um dos melhores jogadores estrangeiros em palcos nacionais no final da década de 90.

Karel Poborský nasceu e deu os primeiros passos, como futebolista, no TJ Trebon e no Dynamo Ceske Budejovice, duas equipas da antiga Checoslováquia, sendo esta última equipa responsável pela sua estreia no futebol sénior, estávamos no início dos anos 90. A sua irreverência e o poder que tinha no drible não passavam despercebidos e fizeram-no dar o salto em 1994 para o Viktoria Zizkov e em 1995 para o Slavia Praha, dois clubes do primeiro escalão do futebol nacional checo. Foi no Slavia Praha que explodiu e que conquistou o título de campeão nacional do seu país, o primeiro do seu palmarés!

Estávamos então em 1996, ano em que Inglaterra recebia a fase final do EURO e Poborský era uma das figuras da sua seleção, que contava com outros talentos como Petr Kouba, Radek Bejbl, Patrik Berger, Vladimir Smicer, Pavel Kuka e Pavel Nedved!


Portugal e República Checa, depois de passarem a fase de grupos, defrontavam-se em Birmingham nos quartos-de-final da prova, com Nedved ausente por castigo. Portugal tomou as rédeas do jogo mas do outro lado estava uma defesa intransponível, que sofria muito poucos golos e que raramente permitiam uma oportunidade de golo à equipa advresária. Até que, aos 53 minutos, apareceu o génio checo. Depois de ganhar um ressalto, conduziu a bola até à entrada da área e vendo Vítor Baía a sair dos postes, decidiu-se pela mais bela das finalizações! Um espetacular “chapéu” para ver e rever!


Momento mágico para o camisola 8, o miúdo do cabelo comprido, momento inglório para uma seleção nacional que nunca mais conseguiria recuperar da desvantagem. Portugal caía assim aos pés daquela que viria a ser a vice-campeã do torneio que, depois de eliminar a França nas meias-finais (no desempate por “penalties”) e de estar na frente na final frente à Alemanha (através de um “penalty” sofrido por Poborský), baqueou apenas com o “bis” de Bierhoff, cujo golo decisivo surgiu já no período de “morte súbita”. A preponderância de Poborský na seleção era inegável, prova disso o feito que atingiu ao tornar-se no jogador checo com maior número de internacionalizações, 118 no total!

As suas exibições convenceram todos os amantes do futebol e a UEFA distinguiu-o como o melhor médio direito da competição! Era um momento alto na carreira do checo e ele soube aproveitá-lo, transferindo-se nesse mesmo verão para o Manchester United!

As expectativas estavam altíssimas, Sir Alex Ferguson teria ao seu dispor um dos alas mais promissores da Europa! No entanto, Poborský viria a deparar-se com um grande problema: David Beckham! O talentoso médio inglês estava em plena afirmação nos “red devils” e começava a época desta forma...


O inglês deslumbrava e o checo não se afirmava nas oportunidades que tinha. Beckham estava de pedra e cal na equipa, participava em todos os jogos da equipa e Poborský, depois de época e meia na sombra do inglês e com uma liga e taça inglesas na “bagagem” decide dar novo rumo à sua carreira. Destino: SL Benfica!

No SL Benfica, Vale e Azevedo tinha acabado de tomar posse como presidente do clube depois de um início de época atribulado e cumpria com uma das várias promessas eleitorais, reforçar a equipa, do escocês Graeme Souness, de talentos internacionais. Foi o início de um período extremamente feliz para o jogador checo, principalmente a nível individual, não defraudando as expetativas dos benfiquistas. Tinha uma qualidade técnica fenomenal, um poder de drible estonteante, uma velocidade diabólica!

Quando o "Hurricano" pegava na bola, os adeptos benfiquistas vibravam e os adversários... tremiam!


Era um jogador-chave no plantel do SL Benfica, não só nessa época, como nas épocas seguintes! O seu talento estava à solta, as suas exibições eram quase sempre de nível elevado, suava a camisola, atacava, defendia, assistia, marcava golos. Prova disso, aquilo que conseguiu fazer em Novembro de 1998 frente ao Sporting de Braga… Palavras para quê? Um golo “maradoniano” considerado pelo próprio como um dos melhores da sua carreira!


Apesar de não ter conseguido conquistar nenhum grande título na sua passagem pelo SL Benfica, fruto da instabilidade que o clube atravessou no final da década de 90, Poborský não teve dúvidas em eleger estas três épocas e meia ao serviço dos “encarnados” como o melhor período da sua carreira! Foram 112 jogos pelas “águias”, 17 golos marcados e muita, muita classe!

Poborský viria ainda a jogar pelos italianos da Lázio, de 2000 a 2002 (conquistando uma supertaça), antes de regressar ao seu país, mais concretamente ao Sparta Praha (conquistando mais dois campeonatos e duas taças) e ao Dynamo Ceske Budejovice, clube onde iniciou e viria a terminar a sua carreira, em 2007, e onde ocupa o cargo de Presidente.

O “Hurricano” deixou muitas saudades a todos os amantes do futebol, sobretudo aos checos, que o idolatram, e aos benfiquistas, que nunca o esqueceram! Pela sua qualidade e pela falta que faz ao futebol português, sim, tiro o meu chapéu!

Karel Poborský, uma vez amado, para sempre recordado!

A memória do João