Esta semana revisitamos a letra B, um B bem grande, B
de Boavistão!
Certamente estarão na memória de todos os adeptos de
futebol as sensacionais temporadas dos “axadrezados” nos primeiros anos
deste século, principalmente na época de 2000/2001, em que surpreenderam tudo e
todos e foram, merecidamente, os campeões nacionais!
A época arrancava com o favoritismo do lado do Sporting
que tinha voltado aos títulos, 18 anos depois, quebrando a hegemonia e o penta
campeonato do FC Porto. Era um campeão muito bem reforçado com excelentes
internacionais portugueses, como eram o caso de Dimas, Paulo Bento, Sá Pinto e
João Vieira Pinto, este último dispensado pelo SL Benfica. À semelhança do
clube da Luz, o FC Porto tinha também acabado de perder a sua grande referência
ofensiva, Mário Jardel, atribuindo ainda maior favoritismo ao Sporting CP. Era
neste contexto que o Boavista FC surgia assim como o único clube capaz de poder
importunar este trio, mas nunca encarado como potencial vencedor. Convém não
esquecermos que vínhamos de 55 anos em que o título não fugia aos “três
grandes”, o Boavista FC era um outsider.
A estrutura do clube não sofria significantes
alterações face à temporada transata. João Loureiro era o líder máximo da
equipa, Jaime Pacheco mantinha-se como treinador principal e o núcleo duro dos
jogadores mais utilizados nas temporadas anteriores permanecia no Bessa.
Estávamos perante uma estrutura sólida e um plantel compacto!
Na baliza, tanto Ricardo como o camaronês William
davam segurança a toda a equipa e as boas exibições eram uma constante, quer
nos palcos nacionais como internacionais. Na defesa moravam dois dos patrões da
equipa, Litos (o grande capitão) e Pedro Emanuel, duas autênticas rochas no
eixo de uma defesa que seria preferencialmente complementada com Erivan à
esquerda e Frechaut à direita. Jorge Silva, Quevedo e Rui Óscar, eram
alternativas credíveis para qualquer uma das posições defensivas. No meio-campo
moravam os operários e raçudos Petit e Rui Bento, enquanto a batuta estava
entregue ao boliviano Erwin Sanchez, um homem da casa que já levava 6
temporadas com a camisola axadrezada ao peito e que não tinha tido sorte no SL
Benfica. Era um trio de meio campo de grande experiência, formado por jogadores
internacionais, que sabiam muito bem o que faziam dentro de campo. Pedro Santos
e a polivalência de Jorge Silva e Frechaut davam garantias a Jaime Pacheco de
que o meio campo estaria bem constituído. O ataque era o setor que mais
precisava de reforços, dado o reduzido número de golos que os “axadrezados” tinham
marcado na temporada anterior. Martelinho e Jorge Couto eram flechas nas alas e
receberam a concorrência de Duda, um extremo que não vingou no FC Porto e que o
Boavista FC soube aproveitar com grande categoria. Na frente de ataque,
Whelliton e Demétrius viram chegar de Braga o “Pistoleiro” Elpídio Silva. Como
podemos constatar, era um plantel maioritariamente português, que mantinha a
estrutura das épocas anteriores e que depositavam nos brasileiros Duda e Silva
grandes expetativas, expetativas essas que não sairiam furadas.
Apesar do mau arranque no campeonato, as “panteras”
começaram a recuperar terreno à medida que iam solidificando o seu modelo de
jogo, arrancando excelentes resultados com os “três grandes” e chegaram ao
final da primeira volta como líderes isolados, depois de vencerem o FC Porto no
Bessa por 1:0, fruto do golo de Martelinho! Os campeões de Inverno mantinham-se
firmes no comando e começavam, efetivamente, a incomodar os mais diretos
adversários. O Estádio do Bessa enchia na esperança de tornar real o maior dos
sonhos de qualquer boavisteiro: ser campeão nacional!
É então chegado o momento decisivo, o momento em que
se vê de que fibra é feita uma equipa, o momento em que os fracos fraquejam, em
que os vencedores vencem! As “panteras” empatavam na Luz à 22ª jornada (num jogo
em que os benfiquistas poderiam saltar para a liderança da prova) e arrancavam
para uma série impressionante de 8 vitórias e 1 empate em 9 jogos! Não tremeram
em Guimarães e venceram o campeão Sporting por 1:0, numa “chapelada” do talismã
Martelinho aos 89 minutos ao também sensacional Peter Schmeichel, quando
faltavam apenas 4 jornadas para o final! Demolidores! Nesta altura, só o FC
Porto mantinha reais aspirações de ainda ser campeão nacional, mas estava a 4
pontos e precisava de um deslize do clube do Bessa para que o campeonato fosse
decidido na derradeira jornada, no derby da Invicta, a ser disputado nas Antas.
Mas o Boavista FC não desacelerou e chegou à 33ª jornada a precisar de uma vitória frente ao D. Aves para se sagrar campeão: presa fácil para uma “pantera” que estava sedenta de títulos, que não podia deixar escapar esta excelente oportunidade. Resultado final, 3:0! BOAVISTA FC CAMPEÃO!!!
Mas o Boavista FC não desacelerou e chegou à 33ª jornada a precisar de uma vitória frente ao D. Aves para se sagrar campeão: presa fácil para uma “pantera” que estava sedenta de títulos, que não podia deixar escapar esta excelente oportunidade. Resultado final, 3:0! BOAVISTA FC CAMPEÃO!!!
Loucura no estádio, loucura nas ruas! Um momento único
na vida do emblemático “Manuel do Laço”, ícone da massa adepta do novo campeão,
um exemplo de dedicação, de paixão, de esperança, de confiança, de fidelidade.
Foi também um momento único para todos os boavisteiros, para todos os habitantes
da cidade do Porto, para todos os portugueses: 55 anos depois, tinha sido
quebrada a ditadura dos “três grandes” e o Boavista FC voltava a ser, finalmente,
o Boavistão!! A imagem do Boavistão de José Maria Pedroto da década de 70 tinha
voltado! Após dois segundos lugares, Taças e Supertaças, presença na Liga dos Campeões, carreiras de sucesso na Europa, o Boavista FC conquistava o tão almejado
título de campeão nacional!
A cidade do Porto tinha agora um maior encanto, vestida de preto e branco!
O Boavista FC era um rolo compressor no relvado. O dogma de que os boavisteiros não tinham “fio de jogo” e que eram “caceteiros” não passou de isso mesmo, de um dogma. A equipa demonstrou dentro de campo que era a melhor, a mais competitiva, não nos esqueçamos que venceu todos os seus concorrentes diretos. Depois da vitória decisiva frente ao D. Aves, o Boavista FC tinha apenas 2 derrotas em 33 jogos, tinha a melhor defesa do campeonato com apenas 18 golos sofridos e o segundo melhor ataque, com 63 golos marcados! Em casa, tinha construído uma autêntica fortaleza, 16 vitórias em 17 jogos e uma “goal-average” de 39-6! Dúvidas? Nenhumas, impossível tê-las! Portugal rendeu-se ao talento das “panteras” e a Europa também o fez mais tarde, quando os rapazes das “camisolas esquisitas” fizeram furor na Liga dos Campeões e na Taça UEFA, mostrando que não chegaram lá por acaso.
Eram períodos de glória! O próprio Timofte, que tinha
saído na época anterior do clube do Bessa reconheceu que uma das grandes bases
do sucesso, para além de um plantel recheado de bons valores, foi o trabalho:
“aposto que nunca mais na vida Jaime Pacheco vai ter um plantel tão disponível
para treinar quatro/cinco horas diárias como aquele que levou ao título…”.
Agora sim, percebemos o “mister” quando dizia “trabalho, trabalho, trabalho”!
Olhando à distância para a vida deste clube percebemos
que tem sido marcada por muitos altos e baixos ao longo dos seus 111 anos de
história. A década de 70 e o primeiro Boavistão do “Zé do Boné” (a quem Jaime
Pacheco dedicou postumamente este título de 2001) apareceu quando na década
anterior o clube disputava a terceira divisão portuguesa. Passados 40 anos e
depois do clube do Bessa ter sido campeão em 2001 e ter andado novamente pelas
divisões inferiores (pelos motivos que conhecemos e que condenamos), chegou o
momento do Boavista FC voltar a mostrar a alma enorme que carrega e que tem
ainda muito para dar ao futebol português! Portugal precisa de mais clubes como
este! E nós? Nós cá estaremos para recordar este renascimento com muito orgulho!
Boavistão, uma vez amado, para sempre recordado!
A memória do João
A memória do João