sábado, 15 de novembro de 2014

Remate da Z - José Raimundo (Parte I)

José Raimundo Michelli Coelho, brasileiro, pode contar como a sua infância foi diferente da maioria das pessoas. Zé Raimundo, como também é conhecido, teve a infância e juventude marcadas pelo futebol, pois foi jogador de futebol nas categorias de base de um dos maiores clubes brasileiros e que hoje está a competir o Campeonato Brasileiro na 1ª divisão, o Esporte Clube Bahia.

Jogou como lateral-esquerdo no período de Janeiro de 1985 até Dezembro de 1989, mas por mais impressionante que seja, Zé Raimundo nunca teve aquele sonho de criança, que a maioria de nós, amantes de futebol, já teve, de vir a jogar profissionalmente. Ele afirma que “jogava porque gostava, não para vir a ser um jogador de futebol profissional, isso seria somente uma consequência”. A sua relação com o desporto rei passou das ruas, com os amigos, para as quatro linhas dos grandes estádios de futebol, com jogadores profissionais.

“É amor”, assim ele define a sua relação com o futebol.

Z: Como iniciou a sua carreira de futebolista?
J: Quando tinha 14 anos, em 1984, jogava futebol com os meus amigos na rua da casa da minha avó e um “olheiro”, que estava à procura de novos jogadores, chamado Zelito, viu-me e acabou por me convidar para disputar o torneio Dente de Leite pela categoria infantil do clube ABB, Associação Bancários da Bahia. O torneio era composto por clubes da zona da cidade de Salvador, mas tinha equipas famosas como o Bahia, Vitória, Galícia e Redenção.
Treinámos durante 3 meses e disputámos o torneio no estádio de Itapuã e as finais foram no Estádio de Periperi [Salvador-BA]. Acabámos em terceiro lugar, tinha muitas pessoas para assistir.

Z: Então foi como um sonho de menino, ser encontrado e levado ao mundo profissional?
J: Sim. Claro que foi muito bom sentir que fui “descoberto”, mas eu jogava porque gostava, não para vir a ser um jogador de futebol profissional, isso seria somente uma consequência.

Z: Após o torneio, continuou no clube ABB?
J: Não. No final fiz parte da seleção do torneio e acabei por ser convidado pelo Esporte Clube Bahia para integrar o grupo em Janeiro de 1985, na equipe infantil. Foi assim que fui para o Bahia.

Z: O Esporte Clube Bahia é, hoje, um dos maiores clubes do Brasil, naquela época já sentia o peso dessa camisola?
J: Não sentia porque jogar, para mim, era motivo de alegria, satisfação pessoal. Eu achava o máximo estar conhecendo jogadores famosos, que somente os conhecia através do rádio.


Z: Foi fácil a passagem repentina do jogo amador para o profissional?
J: Por um lado sim, ao pensar na diversão e no gozo que me dava jogar futebol mas, por outro lado, não era assim tão fácil, os treinos físicos, técnicos e táticos eram intensos e havia jogos todos os sábados. 

Z: Como foi conciliar a vida de um jogador de futebol com a rotina de uma criança, com estudos?
J: Não era difícil porque a minha rotina era jogar futebol na rua. Eu estudava de manhã e treinava à tarde e tinha mesmo que estudar senão a minha mãe tirava-me a bola. Apesar de a minha família ter aceitado bem a minha entrada no futebol profissional, havia uma espécie de chantagem, podia jogar desde que não deixasse de estudar.
Uma vez íamos jogar no Estádio do Ypiranga, durante o campeonato baiano que disputei, jogando já pelo Esporte Clube Bahia, e tinha prova do Básico para entrar na Escola Técnica. Eu esperei pela hora de entregar a prova, entreguei, saí correndo para pegar o autocarro e cheguei em cima da hora. Jogámos e vencemos a partida, mas não passei na escola técnica. Quando o resultado chegou, só apanhei em casa. Mas joguei, o que para mim era tudo.



Z: Qual foi o primeiro torneio que enfrentou vestindo a camisa do clube da Bahia?
J: Em Julho de 1985 fomos disputar o torneio infantil em São Paulo. Era um torneio que acontecia todos os anos, entre 30 jogadores que treinavam na categoria infantil do clube, 22 foram selecionados e eu fui um deles.
Na fase de grupos tínhamos de enfrentar o Corinthians e o Flamengo, porém perdemos 3:0 contra o Corinthians e empatamos com o Flamengo 1:1. Assim, acabámos por sair na primeira fase.



Mas, de qualquer das formas, apesar de voltar cedo para casa, foi bom encontrar os jogadores do Corinthians no Parque São Jorge, campo do clube. Fiquei de boca aberta.

Z: Este foi o maior dos campeonatos que jogou durante a carreira?
J: Além deste, ainda disputamos a taça Rio em 1986, já na categoria juvenil, também ficámos pela primeira fase.
E fomos campeões baianos em 1986 jogando na Fonte Nova, foi uma satisfação jogar lá, muita emoção. Foi contra o Botafogo de Alagoinhas e faltando 10 minutos para o final do jogo, eu fiz uma jogada na linha de fundo driblando dois jogadores e cruzei a bola na área: golo de cabeça do centroavante (ponta de lança). Ganhámos 1:0 e fomos Campeões.

Z: Mesmo jogando no futebol juvenil, você tinha contacto com jogadores das equipes principais?
J: Sim. Jogávamos todos no mesmo local e apesar de estarmos em campos diferentes, era comum sermos chamados para completar a equipa profissional quando alguém estava machucado. Eu participei várias vezes dos treinos na época que o Bahia foi campeão do Campeonato Brasileiro em 1988.

Z: Nesta época já ganhavas salário?
J: Ganhava, o dinheiro para pagar os autocarros de ida e volta para o treino.

Z: Qual foi o passo seguinte, após a vitória do campeonato baiano juvenil?
J: Continuei treinando nos juniores, categoria juvenil, em 1988 e em 1989 deixei de jogar porque passei no teste da escola técnica federal e da engenharia. Como eles não me deixavam estudar e jogar eu saí porque eu não tinha garantia que seria enquadrado na equipa oficial profissional. Mesmo sabendo que eu tinha potencial, essa era a minha perceção.

Ana Zayara Michelli

Continua na próxima semana.