sábado, 29 de novembro de 2014

Remate da Z - Francisco Teixeira (Parte I)

Francisco Teixeira, estudante, sócio e ex-jogador do Vitória SC, adepto do desporto, apresenta-nos o futebol de uma forma na qual normalmente não discutimos, como “algo natural” e cultural, e confessa que incomoda-o ”a falta de reconhecimento aos atletas de outras modalidades”. O futebol é visto por Francisco como o “desporto rei” graças à sua grande mediatização mas, ainda assim, não deixa de apresentar a sua opinião sobre os atuais melhores jogadores do mundo, Messi e Cristiano Ronaldo.

Remate da Z(Z): Quando se apercebeu do seu gosto pelo futebol?
Francisco Teixeira (F): Eu sou sócio do Vitória SC, de Guimarães, desde o dia em que nasci. Por isso, o meu contacto com este desporto deu-se muito cedo mesmo. Lembro-me de com 4 anos ir ao estádio ver futebol com o meu pai. Talvez essas sejam as minhas primeiras lembranças. Desde essa altura que as bolas lá em casa eram às "catrefadas" e era normal fixar-me em frente à TV a ver jogos, fossem eles quais fossem.

Z: De que forma define esse gosto pelo futebol?
F: A princípio foi algo muito natural, a minha família acompanhava o futebol e, por tradição, acabei por tomar-lhe o gosto. Hoje, reconheço que a atenção que o futebol merece no campo mediático é um factor importante e provavelmente foi determinante no meu caso e em muitos outros. Por força disso é que falamos de "um desporto rei" capaz de mover legiões e paixões.
Numa cultura diferente, acredito que o meu desporto de eleição teria sido outro. Agora, com o conhecimento e a familiarização com o futebol é difícil colocar outros jogos no mesmo patamar.

Z: Então acredita que, muitas vezes, são os meios de comunicação social que promovem o gosto pelo futebol e não o próprio jogo em si?
F: Sim é nisso que acredito. Aqui em Portugal, compras o jornal “Record”, “A Bola” ou “O Jogo” e 90 por cento do conteúdo é futebol. A atenção dispensada aos outros desportos é residual.
Assim, coloca-se a cultura na qual vivemos e os meios de comunicação como formadores duma consciência comum na sociedade, como a visão do futebol como o "desporto rei". Acredito que é quase uma formatação.

Z: E considera essa “formatação” como positiva ou negativa?
F: Realmente não a vejo como nenhuma das formas, mas sim como algo natural, embora o termo “formatação” traga, normalmente, uma conotação negativa quando a associamos a uma sociedade.
Às vezes incomoda-me a falta de reconhecimento aos atletas de outras modalidades. Que me lembre só houve um período em que uma capa de jornal foi dedicada a outra modalidade. Foi com o Nélson Évora após o ouro em Pequim.




Tivemos a Sara Moreira há semanas a fazer um fantástico 3º lugar na maratona de Nova Iorque e acho que não teve o mesmo privilégio. E nota que foi a primeira prova deste tipo que a nossa atleta disputou.

Z: Não perdendo o raciocínio, recentemente vimos como o desporto pode mobilizar as pessoas, exemplo disso a Copa do Mundo, onde o futebol juntou a política e a luta de uma população. Podemos dizer que isto vai contra a "formatação", como disse, onde a sociedade está inserida?
F: Esse movimento foi, a meu ver, uma verdadeira prova de consciência política do povo brasileiro. Neste contexto, o desporto pode estar, de alguma forma, ligado à política, pois é um grande negócio e como tal sofre da influência da vida política, no caso brasileiro em particular. Penso que a exposição que o país foi alvo este verão serviu para levantar algumas vozes de denúncia.




Z: Mas, de um modo geral, podemos relacionar a política e o desporto?
F: Idealmente não. Desporto e política deviam ser coisas independentes. Mas o desporto e o futebol em específico são culturas de massas e são vários os casos em que o poder político se aproveita.

Z: A que casos se refere?
F: Enquanto se discutem os golos do Benfica, não se falam de assuntos mais importantes, como o estado do país. Os imperadores na Roma antiga ofereciam pão e lutas para calar o povo e há até teorias de campeonatos do mundo comprados por políticos. Temos também o exemplo das olimpíadas de Berlim em que se via o desporto como forma de afirmação de um ideal político.


Z: Mas, não desvalorizando essa ligação à política, não acha que as pessoas precisam do desporto, quanto mais não seja por lazer? O desporto também é capaz de trazer coisas boas, pode tirar crianças das ruas, por exemplo…
F: Sim, o desporto, a cultura física são importantes. Não só para a saúde como para a auto-estima e traz com certeza outros benefícios a nível psicológico. Eu não me sinto bem passando uma semana sem fazer exercício. Passo mal, mesmo.
Como disseste é uma forma de lazer, é divertimento, é uma forma de estabelecer relações. Sem dúvida traz mais coisas boas do que más, não quero passar a ideia contrária.

(Continua na próxima semana) - Ver Parte II

Ana Zayara Michelli

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