quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Remate na Gaveta - "Remontada" histórica


Nesta semana recuamos até 1997 e, pela primeira vez nesta rubrica, vamos eternizar um grande jogo de futebol, um clássico europeu, disputado por duas grandes equipas e que resultou numa overdose de golos, tudo o que um “viciado” em futebol quer ver!

Palco: Camp Nou
Competição: Copa del Rey, segunda-mão dos quartos-de-final
Jogo: FC Barcelona 5:4 Atlético Madrid

Quem viu este jogo jamais se irá esquecer! Quem ainda não o viu, não sabe o que está a perder!

Vivia-se o dia 12 de março de 1997, um dia perfeitamente normal até à hora do jogo, em que os adeptos que se deslocaram ao Camp Nou, ou que assistiram ao jogo pela televisão, estavam longe de imaginar aquilo que iriam ver.

O Barcelona era então orientado por Sir Bobby Robson que, depois de 2 anos em Alvalade e mais 2 nas Antas, estava no seu ano de estreia no campeonato espanhol. Tinha ao seu lado José Mourinho, seu adjunto, e dentro do campo talentos como Vítor Baía, Fernando Couto, Sergi, Blanc, Guardiola, de la Peña, Figo, Stoichkov ou Ronaldo. Do outro lado, o sérvio Radomir Antic comandava uma equipa que contava com jogadores como Molina, Santi, Caminero, Bejbl, Simeone, Aguilera, Ezquerro, Pantic ou Kiko!

O jogo da primeira mão, em Madrid, tinha resultado num empate a dois. Os golos de Caminero e Kiko, para o Atlético, e o bis de Juan António Pizzi, para os visitantes, deixavam as contas finais para o jogo de Barcelona, com ligeiro ascendente para a equipa “blaugrana”, que levava a vantagem de ter feito 2 golos fora de portas.


Mas rapidamente se percebeu que o Atlético não vinha a Barcelona defender-se e tentar o golo numa saída rápida para o ataque ou num lance de bola parada. Tinham passado apenas 8 minutos desde o início da partida e o Atlético dava a primeira “picada”, adiantando-se no marcador! No lance do primeiro golo, estavam envolvidos dois jogadores que nunca imaginariam acabar o jogo em lágrimas, por diferentes motivos: Vítor Baía e Pantic. O português, por ter rubricado uma das suas piores exibições de sempre, o sérvio pelo desconsolo de, depois de conseguir o feito ímpar de marcar 4 golos em Camp Nou na condição de visitante, não ver a sua equipa passar à fase seguinte da prova. Arrancada de Aguilera, remate rasteiro à entrada da área, “mãos de manteiga” de Baía e “pés de veludo” de Pantic. 0:1!

O Barça ia criando algum perigo com as combinações de Ivan de la Peña e Ronaldo, mas era Pantic quem queria mostrar que aquela poderia ser a sua noite. Aos 28 minutos e após um rápido contra ataque, bateu Vítor Baía pela segunda vez! Os catalães estavam à deriva e o minuto 31 parecia ser o minuto do naufrágio: falta de Blanc sobre Kiko dentro da grande-área, penalty, hat-trick de Pantic! O navio “culé” parecia ter ido ao fundo com as 3 bombas do sérvio!
Foram 45 minutos de inspiração total do Atlético. Vencia e convencia no terreno do gigante Barcelona por 0:3, que tinha agora que marcar 4 golos para passar à fase seguinte da prova! Os adeptos “blaugrana” nem queriam acreditar, a hiperatividade dos “colchoneros” estavam a deixá-los à beira de um ataque de nervos e não havia forma de secar aquela fonte inesgotável de energia! Nas suas cabeças, a eliminatória tinha ficado decidida na primeira parte com os 3 “shots” de Pantic e não havia forma de contornar essa dor latejante, só mesmo um milagre os poderia livrar desta “ressaca”. Felizmente para eles, Sir Bobby Robson preparava uma receita milagrosa no balneário, denominada “remontada”…

Robson decidiu fazer “all-in” ao intervalo, apostando tudo no par Stoichkov-Pizzi para os lugares de Popescu e Blanc, 2 jogadores recuados por 2 avançados! Não o podiam acusar de falta de ambição, era o tudo ou nada. E acreditem, não era “bluff” de Robson, que grande segunda parte iríamos ter! Ronaldo decidiu fazer jus à sua alcunha e reduziu para 1:3 aos 47 minutos, num fenomenal pontapé, e para 2:3 aos 50 minutos! Os catalães acreditavam que podiam ganhar o jogo, em 5 minutos as “odds” tinham mudado, os “impossíveis” 4 golos passaram para uns “prováveis” 2 golos. Mas este momento de êxtase demorou pouco, muito pouco aliás… Vítor Baía estava em dia não e, dois minutos mais tarde, autonomeia-se “flop” da partida ao oferecer a bola a Caminero, que entregou de bandeja o “poker” a Pantic! 2:4 aos 52 minutos, um grande jogo de futebol, duas grandes equipas, chuva de golos no Camp Nou e o “pote” parecia estar pintado de vermelho e branco!

Desânimo dos adeptos do Barcelona, satisfação total dos “colchoneros”, o golo parecia que tinha sentenciado a partida. Mas a história ainda não tinha acabado, pois Figo ainda não tinha “comparecido” no seu local de trabalho. Pois, chegado o minuto 67, o camisola 7 decide vestir-se a rigor e, num momento cirúrgico da partida, decide dar mais uma injeção de adrenalina a todos quantos viam o jogo, rematando de primeira uma bola abandonada à entrada da área! Um golão, apenas ao alcance dos melhores do Mundo e que pareceu “anestesiar” a equipa madrilena! Volvidos 5 minutos, o “Fenómeno” mostrava a Pantic que a medalha de herói do jogo ainda não estava entregue e fazia o terceiro golo na sua conta pessoal e o empate na partida, 4:4! Um jogo de loucos, impróprio para cardíacos… A única certeza possível era a incerteza do resultado!

A pressão do Barcelona era enorme e o Atlético defendia-se como podia, junto da sua área. Molina tapou os caminhos da baliza por diversas vezes, deu o peito às inúmeras balas que surgiam de Figo, Ronaldo e companhia mas, para seu desespero e de todos os adeptos do seu clube, não conseguiu evitar o tiro da arma secreta, o argentino Pizzi. Minuto 82m, jogada de insistência dos catalães após um canto mal resolvido pelos madrilenos, cruzamento para área, grande cabeceamento de Abelardo, enorme defesa de Molina e o mortífero Pizzi (que viria mais tarde a passar pelo FC Porto sem grande sucesso) na recarga: 5:4!!! 

Todo o estádio de pé, aos saltos e aos berros, aos abraços, a chorar de emoção e de raiva, o impossível tinha acontecido!!! Finalmente podiam libertar toda a tensão que tinham acumulado! O Barça vencia assim por 5:4, resultado completamente imprevisível, uma “remontada” histórica, naquela que é considerada por muitos a recuperação mais extraordinária de todos os tempos! Quem viu, ao vivo ou na TV (na altura o jogo passou em Portugal e teve mesmo direito a repetição) certamente recordará cada um dos momentos deste jogo.


Eu, jamais esquecerei, porque… uma vez amado, para sempre recordado!

A memória do João