quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Remate na Gaveta - "The O'Leary's babies"

Esta semana vamos recordar um clube inglês que já deixou a sua marca no futebol nacional e internacional, por inúmeros motivos: pelos títulos conquistados, pelas enleantes exibições, pela qualidade da sua formação, pelos incidentes fora das quatro linhas, pelos maus exemplos financeiros e consequentes quedas aos escalões mais baixos do campeonato inglês, pela superação demonstrada em todos os maus momentos por que tem passado!
Abram alas para o gigante… Leeds United!

O Leeds United foi fundado no ano de 1919, vivia-se a Primeira Guerra Mundial, ano em que acabaria por ser convidado a participar no campeonato principal inglês em detrimento de um outro clube da cidade de Leeds, o Leeds City FC, que tinha fechado portas naquele ano na sequência de um escândalo de pagamentos ilegais a jogadores de futebol. A força das circunstâncias tinha levado ao nascimento de um clube ainda mais forte, guerreiro posso mesmo dizer, com a força necessária para triunfar nos bons momentos e com a força necessária para superar todos os maus momentos!

Se perguntarmos a um adepto sexagenário dos “Peacocks” qual o melhor momento por que a sua equipa passou em toda a sua história ele não terá a mínima dúvida: a era em que a mesma foi treinada por Don Revie, ex-jogador do clube, que envergou a braçadeira de treinador na longínqua temporada de 1961-62, altura em que o clube militava na segunda divisão e apresentava muitas dificuldades financeiras e desportivas. Don Revie chegou a tempo de salvar o Leeds da descida à terceira divisão e duas épocas depois levou a equipa à primeira divisão! Era o início de uma década de sonho!

Com Revie no comando, os “Whites” garantiram internamente uma Taça da Liga Inglesa (1968), uma FA Charity Shield (1969), uma Taça de Inglaterra (1972) e, a cereja no topo do bolo, o Campeonato Inglês nas temporadas de 1967-68 e 1973-74! Internacionalmente, grande destaque para as duas Taças das Cidades com Feiras (antiga Taça UEFA) nas temporadas de 1967-68 e 1970-71, não esquecendo outras relevantes presenças nas meias-finais e finais das provas mais importantes da Uefa, incluindo a Liga dos Campeões! Um currículo invejável para este treinador, um período de ouro para o Leeds United que, apesar de mais tarde ter conseguido arrecadar um outro título a nível nacional na temporada de 1991-92, sob o comando de Howard Wilkinson, nunca mais viria a igualar a grandeza da equipa de Revie, que “limpou” 7 títulos no período de 1961 a 1975! Merecidamente, uma estátua de Revie foi erguida em frente ao Ellan Road!

No entanto, se perguntarmos a um adepto do Leeds United e/ou amante do futebol na casa dos 30 ou 40 anos, qual o período da equipa que mais o marcou, ele não hesitará na hora de arriscar um nome: David O’Leary! 

Foi em Outubro de 1998 que O’Leary, então treinador-adjunto de George Graham, foi convidado a deixar o papel de “duplo” e a assumir o de treinador principal da equipa. E como ele representou tão bem este papel… De tal forma que transpareceu a ideia de que tinha ensaiado a vida toda para vestir de gala neste momento! Com ele em palco, a ação desenrolava-se com facilidade, as luzes de Ellan Road tinham outro encanto, as sessões de Domingo à tarde estavam sempre esgotadas!

 As temporadas de ouro de O’Leary e do Leeds em muito ficaram a dever à prata da casa! Numa altura em que o futebol inglês se abria com muita frequência a outros mercados e a tendência era a aquisição de jogadores “feitos”, o Leeds optou por entregar o papel principal a promissores jovens, muitos deles da casa. Nomes como os de Paul Robinson, Rio Ferdinand, Jonathan Woodgate, Ian Harte, Stephen McPhail, Lee Bowyer, Harry Kewell ou Alan Smith são exemplos disso mesmo, verdadeiros atores, numa equipa jovem, lutadora e ao mesmo tempo delicada dentro do campo!


David O´Leary percebeu que o “sumo” da equipa seria muito mais saboroso se juntasse a estes nomes ingredientes com a qualidade Nigel Martyn, Lucas Radebe, Michael Duberry, Olivier Dacourt, Eirki Bakke, Mark Viduka, Robbie Keane e o cocktail foi explosivo: os “Peacocks” nunca ficaram fora do Top5 do futebol inglês nesse período de 1998 a 2002!
Na Europa, dois grandes destaques, por diversos motivos:

» As meias-finais da Taça Uefa em 1999-2000, caindo apenas aos pés do Galatasaray de Taffarel, Popescu, B. Emre, Hagi e Hakan Sukur, que viria a ganhar a competição nesse ano. Depois de uma grande campanha na competição, o percurso ficou manchado pela morte de dois adeptos dos “Whites” que foram esfaqueados até à morte na cidade de Istambul, momentos antes da partida da primeira mão. Este foi, sem dúvida, um dos momentos mais tristes na história do clube, que faz questão de assinalar todos os anos, à passagem do dia 6 de Abril.

Um incidente trágico a juntar a um outro caso polémico ocorrido em Janeiro de 2000 que envolveu Bowyer e Woodgate, na altura com 23 e 19 anos, que foram acusados de participar numa agressão a um jovem asiático de 19 anos no exterior de um bar inglês. Dois anos mais tarde Bowyer seria ilibado e Woodgate obrigado a prestar serviço comunitário.

» As meias-finais da Liga dos Campeões na temporada seguinte, 2000-2001, superando equipas como AC Milan, Barcelona e Besiktas (primeira fase de grupos), Real Madrid, Lazio e Anderlecht (segunda fase de grupos) e Deportivo (quartos-final). Um percurso de sonho a nível internacional, apenas interrompido pelos espanhóis do Valência nas meias-finais da prova! Para ver e rever:




A temporada 2000-2001 terá sido, porventura, aquela que mais marcou os amantes do futebol, não só pelo percurso internacional, mas também pelo facto de ter terminado o campeonato inglês em quarto lugar a apenas dois pontos do vice-campeão Arsenal e a doze do campeão Manchester United, perdendo o terceiro lugar do pódio para o Liverpool a apenas duas jornadas do fim! O perfume do seu futebol pairava no relvado de todos os estádios sempre que o Leeds jogava, contagiava qualquer um de nós! A segurança de Nigel Martins, a elegância da dupla Ferdinand-Woodgate, o patrão do meio-campo Dacourt, a raça e a omnipresença de Bowyer, a magia de Harry Kewell e a eficácia de Viduka e Robbie Keane eram música para os ouvidos de todos nós, amantes do futebol! Ostentavam a alcunha de "The O'Leary's babies" e, juntos, formavam uma das melhores equipas da Europa da altura!


Infelizmente, os escândalos financeiros voltaram novamente à ordem do dia e, como consequência da necessidade de vender todas joias da coroa para colmatar esses mesmos problemas (exemplo disso mesmo a venda record de Rio Ferdinand ao Man Utd por 46 M€) a qualidade do futebol da equipa nunca mais foi a mesma e a demissão de O’Leary foi o catalisador na enorme crise pelo qual o clube passou, culminada com a descida ao quarto escalão inglês.

Atualmente o clube é detido por um investidor, a Eleonora Sport Ltd e atua no Championship, segunda divisão inglesa. A ansiedade pela promoção à Premier League é enorme e, no dia em que isso acontecer, será um dos regressos mais saudados! Um clube com esta história não merece menos do que isso mesmo, estar entre os melhores! E os “Whites” vão lá estar nos próximos anos, tenho a certeza disso!

Leeds United, uma vez amado, para sempre recordado! 

A memória do João

1 comentário :