domingo, 11 de janeiro de 2015

Remate ao Lado - Intervalo

O Intervalo é no dicionário futebolístico o período de tempo que separa a primeira da segunda parte de um jogo. É a altura em que os jogadores e equipa técnica recolhem ao balneário.

Por definição tem uma duração de 15 minutos, eventualmente mais quando ocorre algum imprevisto ou por “estratégia” uma das equipas decide demorar-se mais do que o tempo normal. É também o tempo em que o treinador e a restante equipa técnica procura motivar, corrigir ou simplesmente mostrar aos jogadores que podem mudar o curso dos acontecimentos na segunda metade.

Durante os 90 minutos de jogo o treinador, quer esteja de sobretudo ou de fato de treino, junto à linha lateral: fala, grita para dentro do relvado, esbraceja, enerva-se, masca chiclet, reclama com a equipa de arbitragem, com os adversários e até com os apanha bolas. Tudo na tentativa vã de gerir o stress e frustração e de demonstrar que consegue influenciar o que quer que seja dentro do campo. Puro engano, depois de iniciado o jogo só no Intervalo é que poderá comunicar eficazmente com a equipa e mudar o plano da partida.

Durante esses mágicos 15 minutos o treinador pode voltar ao pedestal da liderança da equipa e, se o jogo estiver a correr de feição, reforçar o que de bem fizeram nos primeiros 45 minutos e lançar as bases para uma vitoriosa segunda metade. Por outro lado, se o jogo não estiver a correr como desejado, pode usar a palestra do intervalo para fazer os mind games motivacionais que os seus jogadores precisam.

A palestra ao intervalo é sempre na privacidade do balneário. O treinador aproveita esses 15 minutos de calma para, com serenidade, transmitir a sua mensagem.

Em 2008 na Premier League Inglesa, na jornada do Boxing Day, aconteceu algo de extraordinário, não pelo resultado final mas pela decisão em si. O treinador Phil Brown do Hull City vê a sua equipa a perder por 4-0 em casa do Man. City no final da primeira parte. Num gesto completamente inesperado decide dar a palestra do intervalo em pleno relvado junto à bancada onde se encontravam aos seus adeptos.



Foi uma decisão (quase) sem precedentes. Pretendeu demonstrar transparência e união para com os seus adeptos. Não surtiu contudo o efeito desejado da reviravolta, a sua equipa no final perdeu por 5-1, mas sem dúvida que marcou a diferença.

O Intervalo é neste sentido um período fundamental do jogo. Permite com base no observado na primeira metade identificar dois aspectos: 1) reforçar os processos de jogo que estão a correr bem; 2) sublinhar pontos fracos do adversário que não estarão a ser devidamente explorados.

Um excelente exemplo do poder do Intervalo no decorrer de uma partida é o jogo clássico da final da Liga dos Campeões de 2005 entre Liverpool e AC Milan. Ao Intervalo o AC Milan vencia por 3-0 e parecia caminhar tranquilamente para mais um título europeu.



Rafa Benitez, treinador dos Reds, da cidade dos Beatles, sabia que aqueles 15 minutos seriam decisivos. Mais do que a revisão tática foi necessário apelar às emoções dos seus jogadores para que estes acreditassem que era possível dar a volta:

'The fans are with us,' I said, as the players started to move towards the door. I do not know if they could hear them singing, 50,000 people bellowing out Liverpool's anthem, 'You'll Never Walk Alone', despite the pain of that first half.
During a game, I am so intensely focused that I cannot even pick out my own family in the crowd. You block everything out. You see only the players, the match. But we all knew how many supporters had made the journey. We had all seen the swathes of Liverpool red in the stands. We knew how long the trip had been, and we knew that we had to fight for them. 'They are behind us.'

Na segunda parte tornou-se realidade uma das maiores reviravoltas na história do futebol mundial: o Liverpool fez 3 golos e acabou por vencer por 3-2 nas grandes penalidades. O discurso e a atitude do treinador Rafa Benitez ao intervalo fez com que os seus jogadores voltassem a acreditar e deu a injeção de confiança que tanto precisavam.



Ricardo F.

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