Esta
semana a rubrica “Remate na Gaveta” pretende recordar e eternizar os feitos de
um treinador português que o tornaram mesmo no treinador português com mais
títulos internacionais! José Mourinho? Nada disso. Hoje é dia de Manuel José!
Nos
últimos anos temos vivido um pouco anestesiados com o prazer de ver aquilo que
Mourinho consegue fazer pelas equipas onde passa, pelos resultados que alcança,
individual e coletivamente. Essa “cegueira” nem sempre nos permite valorizar o
excelente trabalho que outros treinadores portugueses vão fazendo em Portugal e
no estrangeiro. É certo que nem sempre os campeonatos são mais competitivos que
o português, é uma realidade, mas temos de perceber que muitos outros
treinadores passaram por esses mesmos campeonatos e não obtiveram os mesmos
resultados que os “nossos” treinadores conseguiram. Resumidamente, reconheço um
grande valor na marca “TP, Treinador Português, Lda.”, uma sociedade cujo
número de sócios tem vindo a crescer a grande ritmo desde 2000.
O
contributo do “sócio” Manuel José tem sido preponderante para a afirmação da
“TP”, também pelo seu percurso em solo português mas, principalmente, por
aquilo que conseguiu a nível internacional.
Em
Portugal, Manuel José trabalhou durante 26 anos como treinador, com passagens
por Sp. Espinho, Vitória SC, Portimonense, Sporting, Sp. Braga, Boavista,
Marítimo, Benfica, U. Leiria e Belenenses. O seu ponto de partida foi o Sp.
Espinho, acumulando as funções de jogador e treinador aos 32 anos, tendo
conseguido o feito de, no seu primeiro ano à frente do clube, subir ao primeiro
escalão português. Era o início de uma grande carreira de sucesso e não foi de
estranhar que, depois de mais três boas temporadas pelos tigres, tivesse dado o salto para o Vitória SC. Em Guimarães,
Manuel José voltou a ser feliz, apurando a equipa para as competições
europeias, performance que igualou dois anos mais tarde, já ao serviço do
Portimonense! Era um dos treinadores da moda e talvez o mais promissor da sua
altura!
E
foi o seu percurso de sucesso que o fez ingressar no Sporting CP. No entanto, a
sua passagem por Alvalade não foi muito feliz. Na memória dos sportinguistas
terá ficado o 7:1 ao SL Benfica e o bom futebol que a equipa praticava,
principalmente nas competições europeias… Seguiram-se Sp. Braga, nova tentativa
no Sporting, Sp. Espinho e Boavista FC, em 1991. E foi no clube do Bessa que
conseguiu nova estreia de sonho, conquistando a Taça de Portugal nessa
temporada (batendo o FC Porto por 2:1) e Supertaça no início da temporada
seguinte! Permaneceu no leme dos axadrezados durante 5 épocas e construiu uma
estrutura sólida, ajudando o Boavista FC a impor-se no panorama nacional! Manuel
José passou ainda pelo Marítimo (muito pouco tempo, pois surgiu o convite do SL
Benfica) e SL Benfica, sem grande sucesso, seguindo viagem para Leiria. Na
temporada de 2000/01 conseguiu um excelente 5º lugar para o União, carimbando o
seu passaporte para o Egito.
E
foi nos 8 anos ao serviço do Al-Ahly do Egito que o treinador algarvio conseguiu
mostrar todo o seu potencial. Foram 8 anos divididos por três passagens, uma
primeira na temporada de 2001/02 (tendo ingressado posteriormente no CF Belenenses
por 2 temporadas), uma segunda passagem nas temporadas de 2003/04 a 2008/09 e
uma terceira nas temporadas de 2010/11 e 2011/12. Apesar destas interrupções,
Manuel José nunca parou de vencer, interna ou internacionalmente!
Logo
na sua época de estreia, conquistou aquilo que fugia ao clube há 14 anos, o
título na Liga dos Campeões de África! Era uma entrada de sonho no futebol
africano, na sua primeira experiência internacional. O seu regresso ao futebol
português, para orientar o CF Belenenses não limpou a grande imagem que Manuel
José tinha deixado no Egito e o país parecia ter gostado dele, queria que
voltasse!
Foi então que decidiu regressar em 2003, cumprindo 6 temporadas consecutivas no Al-Ahly e conquistando 5 campeonatos do Egito, 2 Taças, 4 Supertaças e… 3 Ligas dos Campeões de África e 3 Supertaças de África! Verdadeiramente incrível aquilo que Manuel José conquistou! Se nos cingirmos às temporadas de 2005/06 e 2006/07 constatamos que o Al-Ahly “limpou” tudo e todos, arrecadando todos os troféus possíveis! Alcançou mesmo uma sequência de 55 jogos consecutivos sem perder (47 vitórias e 8 empates), perdendo apenas no Mundial de Clubes de 2005 com o Al Ittihad (clube por onde passaria em 2010)! Mohamed Aboutrika era a estrela da companhia e a equipa do Al-Ahly era a espinha dorsal da seleção egípcia, 9 do 11 jogadores titulares do Egito na final da CAN de 2006 (que conquistaram a prova, vencendo a Costa do Marfim) eram do Al-Ahly! A mesma estrutura, aliás, que permitiu novas conquistas na CAN de 2008 e de 2010! Era o período de ouro do futebol egípcio e Manuel José teve papel preponderante, não tenhamos dúvidas nenhumas disso!
Manuel
José era já uma das grandes figuras do país e em Dezembro de 2006 foi mesmo
condecorado pelo Presidente Egípcio Hosni Mubarak com a “Medal of Sport of
First Class” pelo grande contributo que deu ao Al-Ahly e ao futebol egípcio no
seu todo. Portugal também reconheceu os seus feitos além-fronteiras e Cavaco
Silva, em Junho de 2008, distinguiu-o como Comendador da Ordem de Mérito!
Manuel
José passou ainda pela seleção angolana de futebol, atingindo os
quartos-de-final da CAN de 2010 (organizada em Angola), mas o “bichinho” do Al-Ahly
ainda estava vivo e não foi de estranhar que tenha logo regressado ao clube
egípcio, conquistando mais dois campeonatos nacionais! Infelizmente para ele,
para os portugueses e para os egípcios, Manuel José passou por momentos muito
complicados naquele país nos anos de 2011 e 2012, a tensão era enorme, as
pressões políticas eram constantes. Segundo o próprio, “ninguém quer saber do
futebol, toda a gente fala de política” e a tragédia de Port-Said em 2012 (onde
chegou a ser agredido na sequência de uma invasão de campo com fins meramente
políticos, resultando na morte de 74 pessoas e ferimento de outras 188!) foi a
gota de água.
Foram
8 anos no Egito, 13 troféus nacionais, 6 internacionais e o futebol egípcio aos
seus pés! Manuel José era um Faraó, o Deus do Futebol! Saiu com muita tristeza,
mas a situação era mesmo muito difícil no Egito, as condições não permitiram
conseguir aquilo que ele e os adeptos queriam, “terminar a carreira no Al-Ahly”.
Estes 8 anos valorizaram muito a marca “TP” e, apesar dos agentes do futebol darem mais importância ao discurso bonito que Manuel José nem sempre tinha, entendo que teria justificado e merecido uma chamada à seleção nacional portuguesa, a qualidade esteve sempre lá!
Aqui
fica o meu obrigado, por tudo aquilo que alcançaste e por teres expandido o
nome de Portugal pelo Mundo fora!
Manuel
José, uma vez amado, para sempre recordado!
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