Esta
semana recordamos um jogo incrível, pela emotividade que a
competição em causa transmite, pela espetacularidade do futebol de ambas as
equipas, pelo encanto que todas as reviravoltas no marcador carregam consigo,
pela incerteza no marcador até ao último toque na bola, pelo facto do
impossível ter acontecido!
Palco: Ataturk Olympic (Istambul)
Competição:
Champions League, Final de 25.05.2005
Jogo:
Liverpool 3:3 AC Milan (3:2 nas grandes penalidades)
Esclarecimento
prévio.
Impossível:
impraticável, irreal, inviável, absurdo, contrário à razão, que não se consegue
fazer/obter!
Futebol:
desporto onde o impossível acontece!
Este
foi um daqueles jogos que contado ninguém acredita. Mas já lá vamos aos
pormenores…
A
final da Champions League de 2005 punha frente a frente o Liverpool FC de Rafa
Benítez ao AC Milan de Carlo Ancelotti, dois monstros do futebol na Europa. O
Liverpool FC já com 4 troféus, todos eles conquistados nos finais de 70/inícios
de 80 (de Kenny Dalglish e Graeme Souness), procurava o seu quinto título sob a
batuta do espanhol Benítez, um treinador nem sempre bem-amado por onde passava
mas que tinha no seu CV o campeonato espanhol (após 31 anos de jejum) e uma
Taça UEFA para o seu Valência de 2004. Do outro lado, um AC Milan com 6
Champions no palmarés, a última das quais em 2003 (com Rui Costa), já sob o
comando de Carlo Ancelotti.
Pelo
caminho tinha ficado o Chelsea de José Mourinho, eliminado nas meias-finais pelos
reds graças ao famoso “ghost goal” apontado
por Luis Garcia e que originou muita polémica na altura, foi mesmo o único
“golo” conseguido por ambas as duas equipas nos dois jogos que disputaram. O AC
Milan tinha eliminado o PSV com um resultado agregado de 3:3, com vantagem nos
golos marcados fora de portas.
As
duas equipas chegaram à final como duas das melhores defesas da prova, apenas 6
golos sofridos em 12 jogos, o que dizia muito do rigor defensivo que os seus
treinadores impunham. No capítulo dos golos marcados, vantagem para os
italianos, 20 contra 15. Luis Garcia era o talismã dos reds, com 5 tentos na prova, enquanto no AC Milan, Shevchenko com 6
golos e Hernán Crespo com 4 eram os principais goleadores.
O
Liverpool FC alinhou na final com Dudek na baliza, Finnan, Carragher, Hyypia e
Traoré na defesa, meio campo com Xabi Alonso, Gerrard, Luis Garcia e Riise e
ainda Harry Kewell no apoio a Milan Baros. Ancelotti fez alinhar Dida, Cafu,
Stam, Nesta e Maldini, Pirlo, Gattuso, Seedorf e Kaká, Shevchenko e Crespo. O
estádio era demasiado pequeno para abarcar tamanha constelação de estrelas. O
brilho de jogadores como Kaká, Gerrard, Pirlo, Xabi Alonso, Shevchenko ou
Crespo era evidente, previa-se uma final empolgante!
E
os adeptos que se atrasaram na entrada para o Estádio Ataturk Olympic já não
viram o primeiro golo, da autoria de Paolo Maldini que, com quase 37 anos,
continuava a espalhar magia pelos palcos europeus! Kaká tinha ganho uma falta
na lateral direita do ataque milanês e, na marcação do livre, Pirlo deixou o
golo à mercê do eterno capitão. O golo pareceu ter atordoado os ingleses, que
não eram capazes de incomodar com perigo a baliza de Dida e ainda se expunham
aos perigosos contra-ataques de Crespo e Shevchenko, prova disso mesmo o golo
que acabou por ser invalidado ao avançado ucraniano por fora-de-jogo após
contra-ataque rapidíssimo conduzido por Kaká. O perigo rondava a baliza de
Dudek. Aos 23 minutos nova contrariedade para a equipa de Rafa Benítez, que se
viu obrigado a substituir o lesionado Harry Kewell por Vladimir Smicer. O checo
queria comemorar o seu 32º aniversário em grande, no dia seguinte, e tinha ali
uma bela oportunidade de mostrar todo o seu potencial.
No
entanto, esta não parecia ser a noite dos reds:
»
Aos 39 minutos, novo ataque rápido conduzido pelo suspeito do costume, Kaká, bola
nas costas da defesa inglesa para Shevchenko, que assistiu Crespo para o 2:0!
»
Aos 44 minutos, Kaká ganha nova bola ainda no seu meio campo e decide-se por um
passe verdadeiramente fantástico a isolar Crespo. Frente a Dudek, Crespo não
tremeu e com um toque de classe fez o 3:0!
Simples,
prático, eficaz, como os italianos sempre nos provaram ser! O caneco já não
fugiria certamente ao AC Milan, a vantagem de 3 golos ao intervalo era boa
demais para poder vir a ser desperdiçada por Kaká e companhia, verdadeiramente
inspirados nos primeiros 45 minutos!
Nos
balneários, Benitez terá pedido aos seus jogadores para corrigirem aquilo que
de (muito) mal estava a ser feito, para tentarem criar perigo na baliza dos
italianos, para não terem medo de rematar e… sonhar!
E
foi de cara lavada que o Liverpool FC apareceu na segunda parte! Xabi Alonso
deu o primeiro grande sinal de perigo após remate à entrada da área, como que
um aviso para o que aí vinha. Aos 54 minutos, Riise cruza para a área e
descobre Gerrard que, depois de ter visto a coletânea dos golos de Jardel,
decide-se por um perfeito e espetacular golpe de cabeça, sem qualquer hipótese
para Dida! Golão! Depois do capitão Maldini ter aberto caminho para a perfeita
primeira-parte do AC Milan, também o capitão Gerrard pretendia acordar o
gigante Liverpool FC, adormecido até então.
Dito
e feito! Dois minutos volvidos, o checo Smicer, o tal que ia fazer anos no dia
seguinte, recebeu uma bola do alemão Hamann (que tinha entrado ao intervalo
para o lugar de Finnan) à entrada da área italiana e colocou-a no ângulo
inferior direito da baliza de Dida com toda a raça do mundo! O Liverpool FC
estava na discussão do título, perdia apenas por um golo e estava com a moral
em alta, depois dos 2 golos em 2 minutos! E eis que aos 60m Gerrard sofreu
falta dentro da grande área, permitindo que Xabi Alonso também assinasse o seu
nome na lista dos marcadores desta final, apesar de apenas ter marcado na
recarga, após defesa inicial de Dida! Contaram-se 6 minutos, 3 golos dos reds, empate no marcador! Todo o público
no estádio aplaudia de pé o grande jogo de futebol que estava a ver, o
espetáculo que estes dois monstros estavam a dar.
Apesar
das inúmeras tentativas criadas, quer do lado do AC Milan, quer do lado do
Liverpool FC, o resultado manteve-se teimosamente num 3:3 até ao final do tempo
regulamentar e, depois, até ao final do prolongamento, obrigando à decisão
através da marcação de grandes penalidades. Dida e Dudek centravam em si grande
parte das atenções, mesmo depois das enormes exibições que já levavam nos 120
minutos de jogo! Seria tremendamente inglório para a equipa derrotada na final,
nenhuma das duas merecia perder, ambas tinham feito excelentes exibições e
mereciam o título…
Foi
então que Dudek decidiu começar a bailar em cima da linha de golo e
desconcentrar os jogadores do AC Milan: Serginho foi o primeiro, Pirlo o
segundo e, depois de Dida também ter feito uma grande defesa após remate de
Riise, Shevchenko o terceiro, no decisivo penalty!
O Liverpool FC era campeão europeu! O título voltava para Anfield Road 21 anos depois!
Deste
jogo, duas imagens…
…
e uma certeza: no futebol não há impossíveis!
Final
da Champions de 2005, uma vez amada, para sempre recordada!
A todos, um excelente ano de 2015!
A todos, um excelente ano de 2015!
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