sábado, 3 de janeiro de 2015

Remate da Z - Luís Almeida (Parte I)

Nascido em Coimbra, em 1992, estudante de Jornalismo e que uma vez integrou a Associação de Futebol da cidade, onde exerceu a função de árbitro durante 5 anos, de 2009 até 2014. Este é Luís Almeida, o entrevistado da semana.

Z: Quem é o Luís no mundo do futebol?
L (Luís Almeida): É uma pessoa que tem algumas características que, fora desse mundo, não as mostra. No meu caso, ser árbitro implica atenção, ser bom observador, ter autoridade, mas não ser autoritário. Talvez aí, na parte do ser observador, isso transcenda para o mundo fora do futebol.


Z: Onde trabalhou como árbitro?
L: Fui árbitro de futebol de 11 na Associação de Futebol de Coimbra, ou seja, nos campeonatos distritais.


Z: Quando decidiu tornar-se árbitro?
L: Quando era pequenino e ainda não sabia o que era o futebol, quando davam os jogos na televisão, eu perguntava sempre quem era o senhor que andava a correr de um lado para o outro a fazer gestos. Por que razão tinha ele acabado de fazer aquele gesto, por que razão era falta e assim por diante. Na escola, os meus colegas iam todos jogar futebol e eu não queria. Eu queria arbitrar os jogos, mesmo sabendo que na altura ainda não percebia nada do assunto. Até que, por volta dos 14 anos, informei-me e decidi que queria ser árbitro, mas só aos 16 anos é que entrei na arbitragem.

Z: Então, nunca quis ser jogador de futebol, como a maioria dos amantes do futebol já desejaram?
L: Não, tive experiência como guarda-redes e, modéstia à parte, até me safava bem às vezes. Por muito cliché que possa parecer, e eu nem sou nada de sonhos de criança, a verdade é que ser árbitro era um sonho de criança que, felizmente, foi realizado.


Z: Como é a formação para exercer esta profissão?
L: A formação inicial não é difícil. Inscreves-te e tiras um curso em que aprendes as 17 leis do jogo e aprendes toda a regulamentação e teoria. Do ponto de vista prático, dás os primeiros passos dentro do terreno de jogo, ou seja, a movimentação, a colocação, o estilo de corrida. Claro que, depois, isso envolve um estudo constante das leis e de casos concretos. Há uma maior exigência do ponto de vista físico, claro. Hoje em dia, se um árbitro quiser ir longe, tem que fazer treinos diários, muitas vezes como um atleta, se quiser outros palcos.


Z: Para se inscrever, basta ir à Associação de árbitros da cidade?
L: Sim, em Portugal há uma associação, salvo erro, por cada distrito. E a inscrição é feita aí. Em Coimbra, o curso e inscrição são gratuitos.

Z: O Luís inscreveu-se com o objetivo de um dia vir a tornar-se profissional e, por consequência, chegar a competições internacionais?
L: Sinceramente, não. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que abandonar a arbitragem por causa do jornalismo. Admito, no entanto, que não deixa de ser um sonho que nos passa pela cabeça. Mas para lá chegar é preciso muito trabalho e muito sacrifício, é demasiado competitivo.


Z: De que forma é competitivo? No nível em que há poucas vagas para muitas pessoas?
L: Também. O percurso começa na categoria mais baixa, da distrital. Depois, é preciso subir dentro das categorias distritais para se poder subir aos nacionais. E, mesmo quando chegas aos campeonatos nacionais, isso não garante que fiques lá. A verdade é que um árbitro que fique em primeiro lugar no seu distrito não sobe diretamente aos nacionais. Vai prestar provas com todos os outros distritos. Ou seja, cada distrito indica entre dois a três candidatos, em média. Todos eles vão prestar provas e, desses, só ficam 70 estagiários. E desses que ficam, realizam um estágio durante um ano no campeonato nacional de seniores. No final, desses que realizaram o estágio, só os primeiros 10 ficam, os outros 60 descem todos. O mesmo acontece com a liga profissional, os primeiros 5 ou 6 realizam estágio, arbitrando apenas jogos da chamada II Liga, mas fazendo de 4º árbitro em jogos da primeira, e, no final, só ficam dois como efetivos.

Z: Quando o Luís fala em subir das próprias categorias, como "subir dentro das categorias distritais", está a falar de subir de 4º árbitro para o principal, por exemplo?
L: Não, não. Um candidato na distrital é árbitro e árbitro assistente. Mais tarde é que podes escolher a vertente que queres seguir. Vais subindo de categoria dentro da distrital: começas com o estágio curricular nível 1 (ECN1), isto se tiveres 18 anos ou mais, e vais passando para a C4b, C4a, C3b e C3a, sendo, esta última, o topo da distrital. Depois, nos nacionais, tens o Estágio Curricular Avançado Nível 2 (ECA2), se ficares passas para a categoria C2; se ficares nos primeiros 5 ou 6, passas para o Estágio Curricular Avançado Nível 3 (ECA3) e se ficares nos primeiros dois, passas para a categoria C1 - onde só estão 25 árbitros, os que arbitram a Liga portuguesa.
É muito complicado de perceber, eu sei, até para nós é, porque depois implica uma série de requisitos como a idade, por exemplo. Supostamente, isto tem a vista o aumento de qualidade dos árbitros, mas tem muitas falhas principalmente porque desmotiva muitos árbitros.

Z: Você não concorda com estas fases pelas quais os árbitros têm de passar?
L: Não concordo. Antes deste modelo, havia um outro que era mais simples e mais justo, mas que não privilegiava tanto a qualidade.

Z: Querer estudar jornalismo foi uma das razões, então, para não seguir na arbitragem?
L: Não, apesar de ser difícil, o único motivo pelo qual me demiti da arbitragem foi o jornalismo e o facto de ter um novo projeto na tvAAC (Televisão da Associação Académica de Coimbra).




Continua na próxima semana...


Ana Zayara Michelli



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