sábado, 17 de janeiro de 2015

Remate da Z - Luís Almeida (Parte III)

Nascido em Coimbra, em 1992, estudante de Jornalismo e que uma vez integrou a Associação de Futebol da cidade, onde exerceu a função de árbitro durante 5 anos, de 2009 até 2014. Este é Luís Almeida, o entrevistado da semana.

Parte III (ver Parte I e Parte II)

Z: O que pensa das críticas, não só dos media mas também dos adeptos, constantemente feita contra os árbitros de futebol?
L: Essas críticas não irão parar. Muitos adeptos sofrem da chamada "clubite aguda", acham sempre que o árbitro prejudicou a sua equipa, que há uma cabala qualquer de corrupção para que outro clube seja campeão. Muitas dessas críticas partem também da falta de conhecimento sobre as leis do jogo. E nos media isso deveria ser inadmissível.

Z: Então, este aglomerado de críticas é devido não só aos media, como também aos próprios adeptos?
L: Sim, será sempre uma questão de mentalidade. Muitas vezes, as pessoas até podem ter razão, mas isso não justifica ameaças de morte aos próprios árbitros, filhos deles e família, destruição do espaço de trabalho, entre outras coisas mais. A filha de um árbitro foi ameaçada e não é mais do que uma criança. Isto é de deixar uma pessoa revoltada, claro. Os árbitros já estiveram muito pior do que aquilo que estão atualmente.

Z: Acredita que hoje o trabalho dos árbitros é mais reconhecido não só a nível nacional, mas também mundial?
L: Sim, acho que o trabalho dos árbitros portugueses é mais reconhecido. Prova disso foi o que se conseguiu a partir de 2010, quando Olegário Benquerença marcou presença no mundial de 2010, ultrapassando a barreira dos dois jogos: fez três. Até então um árbitro português só tinha feito, no máximo, dois. E a presença de um árbitro português no mundial já não acontecia há muito tempo. Portanto, foi um marco e resultado daquilo que estava acontecer na arbitragem em Portugal.


De uma forma geral, os árbitros são cada vez mais uns atletas. Há árbitros que, numa partida da Champions League, e isso está registado, correm mais que alguns jogadores. Repito, na Champions! E não estou a falar de defesas. Correr 12km num jogo de alta intensidade não é para qualquer um. Claro que eles são bem pagos para isso, mas acho que internacionalmente os árbitros são bem vistos. Principalmente nas grandes competições.

Z: Dizem que os árbitros não podem ser adeptos de uma determinada equipa, por causa dos resultados e das ameaças de outros adeptos. Quando era árbitro, assumia a sua equipa favorita?
L: Percebo que os árbitros de topo não o façam por uma questão de mentalidade. Os adeptos não estão preparados para isso. Mas eu sempre tive a minha preferência que, quando me perguntavam, eu dizia que não podia responder, mas era na brincadeira porque eu estava nos quadros distritais. Se chegasse longe, não sei se o faria. Proença admitiu que era do Benfica, por exemplo.


Z: Quem considera ser o melhor árbitro do mundo?
L: Até hoje foi o Pierluigi Collina, o homem não falhava quase nada. A seguir a ele, Pedro Proença e Howard Webb. Para mim, estes três são os melhores árbitros que alguma vez vi.


Z: De que equipa é adepto?
L: Sporting. Mas isso não me toldava o discernimento quando via jogos do clube e se discutiam lances.

Z: Qual considera ser a melhor equipa a nível mundial, neste momento?
L: Sem dúvida o Real Madrid. Não dá hipóteses de discussão neste momento.


Z: E o melhor jogador?
L: Isso nem se pergunta! Cristiano Ronaldo, sem sombra de dúvida! Atualmente, as pessoas que não concordam, só pode ser mesmo por não gostarem dele, que estão no seu direito. Eu reconheço, apesar de não gostar dele, que o Messi teve um ou dois anos melhores que o Ronaldo.

Z: Em sua opinião, Ronaldo ganha como melhor do mundo de novo?
L: Sim. E se não ganhar é muito injusto.


Z: Como define seu período na arbitragem?
L: Foi um período no qual fui muito feliz. Poderia ter ido mais longe, mas talvez a consciência de que teria que abandonar a arbitragem me desmotivasse a querer mais do que consegui. Conheci excelentes pessoas, mas também me apercebi que há muita coisa que deve mudar, que há vícios que devem ser alterados, que há dirigentes que estão lá há demasiado tempo. Enfim, foram 5 anos em que cresci muito, aprendi a lidar comigo em situações de stress. A arbitragem deu-me ferramentas que posso aplicar no meu dia-a-dia.



Z: Se houvesse oportunidade, voltaria a trabalhar como árbitro?
L: Sem dúvida! Eu quis continuar ligado à arbitragem como observador (os que avaliam os árbitros), mas para se ser observador era necessário ter 7 ou 8 anos de arbitragem e eu só tenho 5.


Obrigada, Luís!

Ana Zayara Michelli


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