A
rubrica desta semana pretende eternizar uma das épocas mais fascinantes do
campeonato italiano nos últimos anos, a época de 2000-2001 e, mais
precisamente, a olímpica época da AS Roma, que viria a conquistar o scudetto.
Recordar
estes momentos é disfrutar do melhor “canivete suíço” no que ao futebol diz
respeito: um clube com uma alma enorme, um dos melhores treinadores de sempre a
nível mundial e que conseguiu pôr em prática uma das táticas mais complicadas
de implementar (3x5x2), jogadores internacionais de qualidade inegável e um
capitão de equipa que ama a sua cidade e o seu clube como ninguém!
Analisando
com algum cuidado os anos anteriores à época de 2000/01, não podemos dizer que
os adeptos romanos vivessem dias felizes:
i)
A AS Roma atravessava um período de enorme jejum, o scudetto não vinha para a loba há 18 anos e, pior do
que isso, a rival Lazio tinha acabado de o conquistar. A equipa celeste tinha mesmo formado uma
verdadeira constelação de estrelas com Nesta, Mihajlovic, Fernando Couto,
Simeone, Nedved, Stankovic, Poborský, Verón, Salas, Claudio López e Hernán
Crespo, todos sob o comando de Sven-Goran Eriksson! Assustadores e devoradores
de títulos! Os grandes candidatos ao título!
ii)
Por outro lado, a qualidade do futebol italiano era inegável, era extremamente
competitivo e outras equipas apresentavam também um excelente elenco, casos da
Juventus (van der Sar, Conte, Zidane, Zambrotta, Davids, Trezeguet e Del
Piero), Parma (Buffon, Cannavaro, Thuram, Sérgio Conceição, Milosevic e Di
Vaio), Inter (Blanc, Zanetti, Di Biaggio, Seedorf, Recoba e Vieri), AC Milan
(Maldini, Gattuso, Leonardo e Shevchenko) e Fiorentina (Toldo, Di Livio, RuiCosta, Nuno Gomes e Enrico Chiesa).
No
entanto, suspiravam-se por novos ares a arejar o Coliseu e o imponente estádio
Olímpico, era a hora dos giallorossi
voltarem a sorrir!
Capello
tinha já orientado os romanos na época anterior (terminou no 6º lugar) e
montado um esquema tático consistente mas que precisava de algumas ligeiras
afinações.
Na
retaguarda, Antonioli era o dono da baliza e no trio da defesa era importante
rejuvenescer o setor que vivia da segurança e classe dos “veteranos”
brasileiros Aldair e Antônio Carlos Zago. As contratações da revelação argentina
Walter Samuel (que tinha brilhado com a camisola do Boca Juniors) e de Jonathan
Zebina (ex-Cagliari) revelaram-se essenciais para a solidez defensiva da
equipa. Foram 2 esteios, titulares indiscutíveis. As alas estavam entregues ao
brasileiro Cafu, uma autêntica locomotiva do lado direito e com tarefas mais
ofensivas que defensivas, e Candela (na ala esquerda), extremamente eficiente
na forma como apoiava todos os setores da equipa.
No
meio campo moravam dois patrões, Cristiano Zanetti e Tommasi, este último viria
mesmo a ser considerado uma das grandes revelações da temporada, pela sua leitura tática,
polivalência e visão de jogo. Nakata e Marcos Assunção eram suplentes de grande
qualidade e viram ainda chegar o brasileiro Emerson (ex-Bayer Leverkusen) para reforçar o setor.
À frente dos dois patrões, Totti era o intocável, a alma da equipa, o verdadeiro “número 10” com os seus toques precisos, envolventes, com o seu remate forte e letal, dribles, precisão nas bolas paradas, instinto matador, com a raça de um gladiador! Completo! Aos 24 anos era o capitão de equipa e tinha toda uma Roma no seu corpo, no seu sangue!
Para o ataque, a dupla Montella e Delvecchio recebiam a companhia de um dos maiores goleadores da altura. O presidente Franco Sensi “perdeu a cabeça” e contratou o temido Batistuta! Batigol tinha sido mesmo o segundo melhor marcador nos dois anos anteriores com a camisola da Fiorentina e vinha rotulado de avançado goleador! O plantel estava montado!
Apesar de um início algo atribulado, com a eliminação da Taça de Itália (pela Atalanta) e a derrota em Milão frente ao Inter, a AS Roma deu início a um período fantástico e alcançou a liderança da prova à 6ª jornada! As exibições e os resultados foram de tal modo convincentes que a loba se tornaria no melhor ataque do calcio e na segunda melhor defesa, não largando a primeira posição da tabela até ao final! A qualidade do seu futebol era inquestionável, Capello tinha montado uma liquidificadora que triturava qualquer adversário e que espalhava pelos relvados italianos um “sumo” vermelho e amarelo, delicioso para qualquer amante da arte de bem jogar futebol! Jogos como o Roma 1:0 Fiorentina (único golo de Batistuta que, depois de marcar frente à ex-equipa, acabou o jogo a chorar), Roma 1:0 Lazio, Parma 1:2 Roma, Roma 3:2 Inter e Juventus 2:2 Roma estão no álbum de recordações dessa época, pela intensidade com que se viveram, pela forma como os giallorossi se bateram e se superiorizaram!
A liga seria decidida na última jornada, na receção ao Parma, perante um Olímpico completamente lotado (75 mil espetadores), transformado num verdadeiro Coliseu! Foi nesse jogo que os gladiadores romanos destruíram completamente as feras do Parma (3:1) e conquistaram o terceiro scudetto da sua história, 18 anos depois de Falcão, Conti, Pruzzo e Di Bartolomei:
O
apito final do árbitro, aos 89 minutos, foi o assinalar do início das
comemorações! Pela primeira vez na história do futebol italiano, o título era
entregue pelo segundo ano consecutivo a duas equipas da cidade de Roma, desta
feita para a melhor equipa desse ano: 75 pontos, 22 vitórias em 34 jogos,
apenas 3 derrotas, 68 golos marcados (Batigol em destaque com 20 golos marcados), 33 golos sofridos e uma média de público
de 64.720 por jogo! Impressionante!
Enorme
festa na capital! Mais de um milhão de pessoas encheram o Circo Massimo, que voltou a ser palco de comemorações a lembrar a
Roma Antiga!
Na Europa, a equipa disputou a Taça Uefa e, depois de eliminar o ND Gorica (11:1), Boavista (2:1, depois da excelente réplica do Boavistão dessa época) e Hamburgo (4:0), caiu aos pés do Liverpool (1:2), que viria a conquistar o troféu nesse ano, sob as ordens de Gérard Houllier.
No
ano seguinte, depois de conquistada a Supertaça frente à Fiorentina (3:0), a
loba disputou o campeonato até ao fim, falhando ingloriamenteo o bicampeonato por apenas um ponto, que fugiu para a
Juventus de Marcelo Lippi.
Foram
tempos de glória para a AS Roma! Momentos inesquecíveis que todos os romanos e
adeptos do bom futebol querem ver repetidos já nesta época, eu incluído!
…
uma vez amados, para sempre recordados!
A
memória do João
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