
Z: Helena, o
que é o futebol para você?
H
(Helena Moniz): O
futebol para mim é uma paixão como todas as outras. Pode parecer exagerado
dizê-lo, mas o futebol afeta o nosso estilo de vida, porque queremos acompanhar
tudo o que acontece nesse mundo. Faz-me feliz ou infeliz, provoca-me
sentimentos e discussões profundas por ser um desporto que me diz muito. Para
além disso, também é uma forma solidária de unir o mundo, pois o sentimento que
o desporto em geral e, principalmente, o futebol por ter mais seguidores,
propaga são valores de respeito pelo próximo e de fair play, que não é uma palavra à toa. O futebol tem coisas boas e
coisas más, como em tudo na nossa vida, mas é um desporto em que decidi
envolver-me de alma e coração, o que faz com que tenha uma história na minha
vida.
Z: Quando começou ou percebeu esta
paixão pelo futebol?
H: Não tenho um momento certo em que me
tenha apercebido que adorava futebol porque, como já referi, advém de muito
tempo atrás. Contudo, como vou ter de responder a essa questão, talvez o meu
apoio incondicional pelo Benfica tenha sido o maior sinal disso.
Acompanhar aquele clube ensinou-me a
ver o futebol e quando se aprende verdadeiramente a ver futebol, aí sim,
começamos a percebê-lo e a adorá-lo. Podemos gostar de futebol, mas para ser
apaixonado é preciso conhecê-lo e entendê-lo e isso requer algum tempo e
prática. Da mesma forma que cativamos amor por algo no nosso dia-dia, o futebol
vai-nos conquistando, pelo que apelo a todos, homens e mulheres, que tentem
conhecer o futebol verdadeiramente para poderem amá-lo como eu amo.
Z:
Então, pode dizer que conhece o futebol desde as regras colocadas em campo até
os campeonatos nacionais e internacionais?
H: Sim, conheço. Uns campeonatos mais
do que outros, como é natural, mas não por desleixo ou despreocupação, apenas
por uma questão de gosto. Gosto mais de um tipo de futebol do que outro e gosto
mais de umas ligas do que outras. Quanto às regras, admito, levou algum tempo a
aprender.
Z:
Mas era mesmo uma busca sua aprender as regras ou foi algo natural?
H: Foi mesmo uma busca para aprender as
regras. Temos de ser frios e racionais no que toca ao futebol, as mulheres têm
mais dificuldade em aprender porque não é o “mundo” delas e apesar de estar
habituada desde pequena a ver futebol, grande parte da aprendizagem veio da
minha curiosidade. O machismo está ainda bastante presente, não vamos mentir. A
minha posição, como mulher que adora futebol, vem de outra figura feminina, a
minha mãe, que gosta de futebol e levava-me ao estádio para ver jogos. Aprecia
o futebol, mas confesso que não desenvolveu um gosto tão forte como o meu.
Então, como nunca vivi com o meu pai ou com personalidade masculina que
realmente perceba de futebol, fui perguntando aos homens que me rodeiam e
pesquisando. Cheguei a ver um tutorial inglês sobre o fora de jogo, porque
nenhum homem teve paciência para me explicar detalhadamente.
Z:
Acredita na ideia de que a mulher não pertence ao mundo do futebol ou sente que
os homens, de maneira geral, ainda não gostam ou ficam apreensivos quando você
diz que gosta de futebol?
H: Não concordo, de todo, que seja um
mundo de homens, isso é uma convenção cultural e um estereótipo que em pleno
século XXI deveria ser extinto. O futebol é de todos, ninguém é dono dele,
qualquer pessoa é livre de gostar dele e vê-lo da maneira que pretende. Sim,
sinto que ainda há muitos homens que têm o preconceito de que nós, mulheres,
não percebemos nada. Primeiro, nós perguntamos e não nos ensinam. Segundo, se
temos todos as mesmas capacidades, porque é que o género tem de ser fulcral nas
coisas que sabemos sobre futebol? É um preconceito chato, entre muitos outros,
porque me afeta. Todavia, quero referir que isto não é uma generalidade.
Existem homens que discutem ideias futebolísticas comigo e até adoram mulheres
que se envolvam no futebol, porque é um gosto comum.
A todos os outros homens, só posso
aconselhar que nos entendam como seres iguais e que talvez ter uma mulher que
perceba tanto de futebol como eles e que ame futebol daria uma relação muito
mais harmoniosa. Não se preocupem, o jantar pode ser feito antes ou depois do
jogo das 19:45h e não se estraga.
Z:
Na sua opinião, qual o problema para o facto da falta de transmissão do futebol
feminino?
H: Não estão em pé de igualdade e não
têm o mesmo apoio do que futebol masculino. Há que admitir que a qualidade é
diferente, mas também acredito que não haja vontade de melhorar a qualidade,
muitos menos de ver essa qualidade, por causa dessa mente fechada.
Z:
Disse que gosta mais de um tipo de futebol do que outro. Pode explicar que tipo
de futebol é que gosta mais?
H: Por exemplo, eu prefiro o estilo de jogo inglês ao português, porque
a cultura futebolística deles difere muito. O inglês é um jogo muito mais
espetacular e cheio de ataques e contra-ataques, por causa também, claro, da
capacidade de eles investirem em grandes jogadores e terem grandes escolas.
No futebol inglês, assistimos a dribles
e lances incríveis em qualquer uma das equipas, porque na premier league até a equipa em risco de descida pode ganhar um jogo
a um Chelsea ou a um Manchester United e isso dá-nos aquela especulação e
aquele bater de coração impróprio para cardíacos no futebol.
Por outro lado, a arbitragem é
diferente, porque as pequenas faltas são encaradas de maneira diferente, eles querem é jogar e debater o resultado, não querem pausas
constantes no jogo que fazem quebrar o ritmo. Para não falar do grande apoio do
público, os estádios estão sempre cheios e a atmosfera é fenomenal, fazendo do
futebol inglês o melhor do mundo. O futebol português, por exemplo, podia
aprender muito com ele. As mentalidades são diferentes e se calhar há quem
goste mais do português, por ser mais resmungão, muito mais pausado e racional
e não ser aquela panóplia de sentimentos como o inglês. Em Portugal há alguns
grandes duelos, em Inglaterra todos os jogos são grandes, porque todas as equipas
têm uma mentalidade de campeão. E
quando falo em futebol, refiro na globalidade, porque o estilo de jogo depende
do clube, dos países, dos plantéis, das ocasiões e é uma questão mais profunda.
Z:
Em
relação a ligas, também prefere alguma em especial?
H: A
inglesa, por todos os aspetos que já referi.
Continua na próxima semana (ver Parte II)
Ana Zayara Michelli
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