sábado, 20 de dezembro de 2014

Remate da Z - Helena Moniz (Parte I)

Helena Moniz é uma estudante mas, acima de tudo, uma estudante de futebol. A adepta do SL Benfica não sabe dizer quando esta paixão começou mas tem a certeza que é verdadeira. Defendendo que “o futebol é de todos”, que “este não se restringe ao homem ou à mulher” e que para poder amá-lo [o futebol] como eu o amo” devemos, não só gostar, mas entendê-lo e perceber o porquê de mover milhares de pessoas.



Z: Helena, o que é o futebol para você?
H (Helena Moniz): O futebol para mim é uma paixão como todas as outras. Pode parecer exagerado dizê-lo, mas o futebol afeta o nosso estilo de vida, porque queremos acompanhar tudo o que acontece nesse mundo. Faz-me feliz ou infeliz, provoca-me sentimentos e discussões profundas por ser um desporto que me diz muito. Para além disso, também é uma forma solidária de unir o mundo, pois o sentimento que o desporto em geral e, principalmente, o futebol por ter mais seguidores, propaga são valores de respeito pelo próximo e de fair play, que não é uma palavra à toa. O futebol tem coisas boas e coisas más, como em tudo na nossa vida, mas é um desporto em que decidi envolver-me de alma e coração, o que faz com que tenha uma história na minha vida.

Z: Quando começou ou percebeu esta paixão pelo futebol?
H: Não tenho um momento certo em que me tenha apercebido que adorava futebol porque, como já referi, advém de muito tempo atrás. Contudo, como vou ter de responder a essa questão, talvez o meu apoio incondicional pelo Benfica tenha sido o maior sinal disso.


Acompanhar aquele clube ensinou-me a ver o futebol e quando se aprende verdadeiramente a ver futebol, aí sim, começamos a percebê-lo e a adorá-lo. Podemos gostar de futebol, mas para ser apaixonado é preciso conhecê-lo e entendê-lo e isso requer algum tempo e prática. Da mesma forma que cativamos amor por algo no nosso dia-dia, o futebol vai-nos conquistando, pelo que apelo a todos, homens e mulheres, que tentem conhecer o futebol verdadeiramente para poderem amá-lo como eu amo.

Z: Então, pode dizer que conhece o futebol desde as regras colocadas em campo até os campeonatos nacionais e internacionais?
H: Sim, conheço. Uns campeonatos mais do que outros, como é natural, mas não por desleixo ou despreocupação, apenas por uma questão de gosto. Gosto mais de um tipo de futebol do que outro e gosto mais de umas ligas do que outras. Quanto às regras, admito, levou algum tempo a aprender.

Z: Mas era mesmo uma busca sua aprender as regras ou foi algo natural?
H: Foi mesmo uma busca para aprender as regras. Temos de ser frios e racionais no que toca ao futebol, as mulheres têm mais dificuldade em aprender porque não é o “mundo” delas e apesar de estar habituada desde pequena a ver futebol, grande parte da aprendizagem veio da minha curiosidade. O machismo está ainda bastante presente, não vamos mentir. A minha posição, como mulher que adora futebol, vem de outra figura feminina, a minha mãe, que gosta de futebol e levava-me ao estádio para ver jogos. Aprecia o futebol, mas confesso que não desenvolveu um gosto tão forte como o meu. Então, como nunca vivi com o meu pai ou com personalidade masculina que realmente perceba de futebol, fui perguntando aos homens que me rodeiam e pesquisando. Cheguei a ver um tutorial inglês sobre o fora de jogo, porque nenhum homem teve paciência para me explicar detalhadamente.

Z: Acredita na ideia de que a mulher não pertence ao mundo do futebol ou sente que os homens, de maneira geral, ainda não gostam ou ficam apreensivos quando você diz que gosta de futebol?
H: Não concordo, de todo, que seja um mundo de homens, isso é uma convenção cultural e um estereótipo que em pleno século XXI deveria ser extinto. O futebol é de todos, ninguém é dono dele, qualquer pessoa é livre de gostar dele e vê-lo da maneira que pretende. Sim, sinto que ainda há muitos homens que têm o preconceito de que nós, mulheres, não percebemos nada. Primeiro, nós perguntamos e não nos ensinam. Segundo, se temos todos as mesmas capacidades, porque é que o género tem de ser fulcral nas coisas que sabemos sobre futebol? É um preconceito chato, entre muitos outros, porque me afeta. Todavia, quero referir que isto não é uma generalidade. Existem homens que discutem ideias futebolísticas comigo e até adoram mulheres que se envolvam no futebol, porque é um gosto comum.
A todos os outros homens, só posso aconselhar que nos entendam como seres iguais e que talvez ter uma mulher que perceba tanto de futebol como eles e que ame futebol daria uma relação muito mais harmoniosa. Não se preocupem, o jantar pode ser feito antes ou depois do jogo das 19:45h e não se estraga.

Z: Na sua opinião, qual o problema para o facto da falta de transmissão do futebol feminino?
H: Não estão em pé de igualdade e não têm o mesmo apoio do que futebol masculino. Há que admitir que a qualidade é diferente, mas também acredito que não haja vontade de melhorar a qualidade, muitos menos de ver essa qualidade, por causa dessa mente fechada.

Z: Disse que gosta mais de um tipo de futebol do que outro. Pode explicar que tipo de futebol é que gosta mais?
H: Por exemplo, eu prefiro o estilo de jogo inglês ao português, porque a cultura futebolística deles difere muito. O inglês é um jogo muito mais espetacular e cheio de ataques e contra-ataques, por causa também, claro, da capacidade de eles investirem em grandes jogadores e terem grandes escolas.


No futebol inglês, assistimos a dribles e lances incríveis em qualquer uma das equipas, porque na premier league até a equipa em risco de descida pode ganhar um jogo a um Chelsea ou a um Manchester United e isso dá-nos aquela especulação e aquele bater de coração impróprio para cardíacos no futebol.


Por outro lado, a arbitragem é diferente, porque as pequenas faltas são encaradas de maneira diferente, eles querem é jogar e debater o resultado, não querem pausas constantes no jogo que fazem quebrar o ritmo. Para não falar do grande apoio do público, os estádios estão sempre cheios e a atmosfera é fenomenal, fazendo do futebol inglês o melhor do mundo. O futebol português, por exemplo, podia aprender muito com ele. As mentalidades são diferentes e se calhar há quem goste mais do português, por ser mais resmungão, muito mais pausado e racional e não ser aquela panóplia de sentimentos como o inglês. Em Portugal há alguns grandes duelos, em Inglaterra todos os jogos são grandes, porque todas as equipas têm uma mentalidade de campeão. E quando falo em futebol, refiro na globalidade, porque o estilo de jogo depende do clube, dos países, dos plantéis, das ocasiões e é uma questão mais profunda.

Z: Em relação a ligas, também prefere alguma em especial?
H: A inglesa, por todos os aspetos que já referi.



Continua na próxima semana (ver Parte II)

Ana Zayara Michelli


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