sábado, 13 de dezembro de 2014

Remate da Z – Thiago Souza

O protagonista da semana é Thiago Souza, um jovem que procura deixar sua marca no mundo do futebol. Com o sonho de tornar-se jogador profissional, Thiago conta a sua trajetória até hoje e ainda o que pretende conquistar. Do Brasil à Espanha, o brasileiro acredita “que o mais difícil dessa carreira é (…) a distância dos amigos e da família”, mas mesmo assim não deixa de afirmar quefaria tudo de novo”.


Z: Quem é o Thiago no mundo do futebol?
T (Thiago Souza): Eu me vejo como mais um entre muitos, tentando de jogar numa grande liga profissional.

Z: Quais são os passos que segue para concretizar este objetivo?
T: Primeiramente, procuro treinar e me manter sempre bem fisicamente, fazendo treinos diários e busco da mesma forma evoluir tecnicamente. Faço isso desde os 5 anos de idade, mas comecei a treinar de forma profissional com 13 anos.

Z: Onde foi buscar o treino profissional?
T: Eu comecei treinando nas divisões de base do Vitória (BA), em 2008, mas por ser muito pequeno na altura fui dispensado.



 Depois me mudei para Santos, em São Paulo, onde comecei a fazer academia e treino funcional na praia, porque entrei no São Vicente F.C.




Nesses clubes eu busquei esse treino contínuo, com o auxílio dos meus pais.


Z: Como e quando decidiste que queria sair de sua casa para tentar ser jogador profissional?
T: Tomei essa decisão quando completei 15 anos e fui chamado para jogar no São Vicente F.C. por indicação de um amigo. Meus familiares ainda moravam em Salvador, porém com a concepção dos meus pais eu decidi sair de casa e arriscar essa vida difícil.

Z: Você, então, saiu do estado onde vivia, na Bahia, para viver sozinho em Santos?
T: Sim, fiquei alojado no clube e depois me mudei para uma pousada.



Z: Como foi esta fase? O que pode apontar de mais importante ou o que aprendeu nesta primeira mudança?
T: Foi algo novo pois eu nunca havia ficado tanto tempo fora de casa, já tinha feito viagens antes mas dessa vez foi definitivo. Não me arrependo de nada, graças a Deus não passei necessidade e ainda fiz muitos amigos. 

Essa experiência me ajudou muito a amadurecer, pois aprendi a cozinhar, fazer compras, lavar roupa e muito mais. Faria tudo novamente com certeza.



Z: Durante seu período na equipa do São Vicente F.C., você já participava de campeonatos?
T: Sim, joguei campeonatos regionais, como da Associação Paulista, pelo São Vicente F.C. 

E também joguei mais um regional (Copa Expresso) e um Campeonato Paulista de futsal.








Z: Acredita que você cresceu tecnicamente neste período?
 T: Sim muito. Psicologicamente também.

Z: De que forma?
T: A nível de concentração no jogo, o futebol envolve muito a área emocional e quanto mais experiências em campeonatos, maior fica a capacidade de tomar decisões dentro de campo.

Z: Quanto tempo permaneceu no São Vicente F.C.?
T: Eu fiquei 2 anos. Depois fui para o Santos F.C. e fiquei mais 4 meses.



Z: Por que mudou?
T: Foi minha iniciativa, porque eu quis tentar ir para um clube maior.

Z: Como foi o processo entrar no Santos F.C.?
T: Eu tinha um amigo que jogava no clube e conhecia o pai dele, que tinha contacto com os diretores, e me ofereceu essa oportunidade.

Z: Foi diferente a experiência nestes dois clubes?
T: Sim, a estrutura e a intensidade dos treinos eram bem diferentes. Por ser um clube de grande expressão no futebol, o Santos F.C. tinha muito mais estrutura, o nível dos atletas era muito melhor e a intensidade dos treinos muito mais forte.





Z: Você começou a sentir o peso da camisa que vestia, por ser um grande clube?
T: Com certeza, eu tinha que render muito mais, pois toda semana havia pessoas de outros estados e cidades a tentar tomar a minha vaga.

Z: Você competiu pelo Santos F.C. durante os quatro meses na equipa?
T: Não, apenas participei de amistosos.

Z: O que o fez sair?
T: Acredito que a falta de um empresário. O futebol é semelhante à política, por ser uma profissão que envolve muito dinheiro, também existe corrupção. No Brasil, milhares de jovens têm o sonho de se tornar um jogador milionário, porém muitas vezes por falta de estudo ou falta de idade estes necessitam de um representante, o empresário, que em troca de parte do salário e das negociações, agencia a carreira do atleta. Muitos desses empresários tem grande influência nos clubes e conseguem "convencer" uma equipa a ficar com o seu jogador.
Como eu nessa época não tinha uma figura que me representasse, eu acredito que fui dispensado para dar a minha vaga para alguém que tinha um empresário.

Z: Então, agora que se via fora do clube e longe de casa, o que decidiu fazer?
T: Nessa altura meus pais já haviam se mudado para Santos, meu pai sendo militar pediu transferência para São Paulo e alugou um apartamento em Santos.
Quando eu saí do Santos F.C. fui jogar futsal em um clube perto de casa para me manter bem preparado fisicamente e nesse tempo, um “olheiro” do Grêmio de Porto Alegre me viu e me chamou para tentar a carreira no Rio Grande do Sul.



Z: Você aceitou o convite?
T: Sim. Fui para lá com um forte contacto, o filho do presidente do clube, e fiquei 2 meses em prova. Porém, quando terminou minha fase de teste, ele me disse que não dava para começar a disputar por motivos que até hoje eu não sei, me disse para voltar para Santos e continuar treinando que ele iria me ligar e chamar de volta.
Então, no retorno para Santos, em Junho de2013, eu joguei futsal no A. A. Portuários para não ficar sem equipa e poder me manter bem fisicamente.



Foi aí que eu conheci um outro empresário que me deu a oportunidade de ir para Europa. Eu não esperei e aceitei a proposta.
 Neste momento eu fiquei muito feliz, pois tinha tomado a decisão de parar se não conseguisse um clube naquele ano de 2013.

Z: Após o convite, você mudou logo para a Europa?
T: Sim. Em novembro de 2013 eu fui para Madrid junto com meu empresário.
Eu joguei no Vallecas C.F. e depois no Leganés, durante 6 meses em cada equipa.



Z: Por que a mudança de um clube para o outro?
T: Por opção do meu empresário.

Z: E depois de sair do Leganes?
T: Acabou o meu visto e eu vim para Dublin para renová-lo. Aqui estou jogando uma liga amadora, chamada Lucozade Power League.



Z: Você já competiu em algum campeonato desde que chegou na Europa?
T: Sim, na Primeira División Regional de Madrid.

Z: Como você tem lidado com a distância da família e de amigos?
T: Já faz um ano que não vejo ninguém da minha família. Eu estou acostumado, mas sinto muita falta deles, então procuro manter contacto, muitas vezes ligo para matar a saudade, mas é uma etapa da vida que todos passamos. Sinto falta de jogar bola com o meu irmão, de ir à praia com amigos para jogar futvolei, da comida boa da minha mãe e de assistir jogos de futebol junto com meu pai. Eu acho que o mais difícil dessa carreira é justamente isso, a distância dos amigos e da família.

Z: Eles te apoiam na carreira que escolheste?
T: Sim, todos eles.





Z: Com todas estas mudanças, como ficaram os estudos?
T: Eu parei de estudar no 12º ano e aqui estou estudando numa escola de intercâmbio.

Z: O que espera de futuro na sua carreira e qual espera que seja o próximo passo?
T: Agora que tenho o meu visto renovado, pretendo terminar o meu curso de inglês e voltar para Madrid para jogar a terceira divisão espanhola num clube chamado Torrejón e assim iniciar meu ciclo no futebol profissional.



Z: O que mais aprendeste com todas estas mudanças? Acredita que valeu a pena até agora?
T: Sim, eu sei que no futebol tem a possibilidade de dar certo ou não, porém mesmo que eu não consiga, tudo valeu a pena porque eu sempre mantive a saúde praticamente perfeita, aprendi a ser homem mais cedo, conheci muitos lugares, fiz grandes amizades e aprendi outras culturas e idiomas. Eu:) faria tudo de novo.





Z: Tem alguma história ou algum momento que te marcou durante este período?
T: Sim, uma história de quando íamos jogar num domingo de manhã pelo Vallecas C.F. e eu e meu amigo, o David Alves, estávamos convocados, porém o David, também brasileiro, foi para a discoteca no sábado e eu fiquei em casa. Quando eram 5 horas da manhã ele tocou a campainha, bêbado, pegou as coisas e disse: “vamos jogar”. Eu briguei com ele, muito preocupado porque tínhamos jogo, mas me arrumei e fui junto. Chegando lá no vestiário o treinador percebeu o cheiro de álcool e disse que nós dois tínhamos saído à noite e que um ia ter que ficar de fora, com isso o meu amigo disse para mim: “vai porque eu nem dormi e quero mais é que esses espanhóis se explodam!” 
Então, falamos com o treinador. Ele me colocou no jogo aos 87 minutos e eu fiz o único golo da partida, todos celebraram muito e eu fui comemorar perto de onde ele estava, então ele começou a gritar:Eu que te escalei!”

Depois do jogo, ele disse que se não fosse pela opção dele eu não teria jogado e consequentemente nós não teríamos ganho.  


Z: Falando agora como torcedor, tem alguma equipa para qual você torce?
T: Atlético de Madrid, rojiblanco!



Z: Em sua opinião, qual é o melhor jogador do mundo?
T: Para mim, atualmente o melhor do mundo é Messi, mas o melhor que eu vi jogar foi o Ronaldinho Gaúcho.




Ana Zayara Michelli


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